Tópico: País

Até quando a guerra vai ser tabu?

Manuel Raposo — 3 Fevereiro 2023

Uma exigência de justiça social e de prevenção política

Dezenas de jornalistas e opinadores gastaram horas de comentários sobre a recente entrevista televisiva do primeiro-ministro. Escalpelizaram tudo: inflação, aplicação dos fundos europeus, dívida pública, luta dos professores, demissões no Governo, escândalos na TAP. Mas, apesar de todo este afã analítico, ninguém teve a ousadia de trazer à baila a questão da guerra na Ucrânia no que respeita à posição do Governo e do Estado. António Costa deu-se assim ao luxo de mencionar de passagem a guerra como mais um incidente “inesperado”, a par da pandemia ou da inflação, como coisa com que ninguém estaria a contar e que, como um golpe de vento, veio perturbar o bom rumo da governação.


Cruzada moralizadora

Editor — 21 Janeiro 2023

Como o PS faz a política de que o patronato precisa de momento, a direita não tem política que se veja. A política do Governo é esta: calar a boca aos pobres e assalariados com umas migalhas, enquanto o Estado paga a colossal dívida dos privados com dinheiro público, ao mesmo tempo que os abastece de capital fresco, gratuitamente e a rodos, com as verbas do PRR. 

Sem política própria, resta à direita a intriga e o trabalho de sapa. O surto de denúncias de corrupção, de incompatibilidades, de “falta de ética”, etc. — de parte a parte, entre as forças do poder e adjacências — apenas revela de forma concentrada e em catadupa a corrupção e o compadrio de que se alimentam as classes dominantes. 


Subitamente, o nazismo ucraniano deixou de existir…

Urbano de Campos — 6 Janeiro 2023

Nato, Azov, Suástica. Membros do batalhão Azov exibem as suas bandeiras

A desvalorização que o mundo ocidental, empenhado até às orelhas no apoio à Ucrânia, faz do nazismo ucraniano é, simultaneamente, um sinal da debilidade das suas convicções democráticas e uma demonstração de falta de princípios na guerra que conduz contra a Rússia. Quando recentemente o ministro russo Lavrov lembrou de novo que um dos objectivos da ofensiva russa iniciada em 24 de fevereiro era a desnazificação da Ucrânia, choveram os costumeiros argumentos da troika EUA-UE-Nato de que tudo não passava de um pretexto da Rússia para desencadear a operação militar.


Notas sobre a pequena política

Editor — 1 Dezembro 2022

Nunca a agitação partidária do país pareceu tão intensa como quando, em final de março, se formou um governo com a possibilidade, pelo menos formal, de durar quatro anos. A “estabilidade” que as classes dominantes reclamavam a cada passo — contra a “instabilidade” atribuída aos governos ditos da Geringonça — deu lugar, afinal, logo após as eleições de janeiro, a uma espécie de pânico mal contido. Que parece durar até hoje. 


Przewodów. Ridículos, se não fossem criminosos

Urbano de Campos — 17 Novembro 2022

Vista geral do alvo polaco do “terror russo”, segundo Zelensky

O incidente com o míssil que, anteontem, 15 de novembro, atingiu a Polónia é um espelho. Espelho da paranóia dos dirigentes ucranianos e dos seus mais fiéis comparsas, espelho dos níveis de perversão atingidos pela comunicação social. Mas talvez, em final de contas, alguns dos estilhaços do míssil de Przewodów caiam na cabeça de Zelensky, dos seus colegas de governo e dos seus adeptos, dentro e fora da Ucrânia.


Afonso Gonçalves

Editor — 2 Novembro 2022

Na passada sexta-feira, 28 de outubro, morreu Afonso Gonçalves, companheiro de há largo tempo. Tinha 77 anos. Foi professor de profissão. Militou na esquerda antifascista antes de 1974. Mais tarde, acompanhou de perto as actividades do colectivo que publicou, durante mais de vinte anos, a revista Política Operária, dirigida por Francisco Martins Rodrigues. Era leitor assíduo do Mudar de Vida, para cujas páginas frequentemente enviava os seus comentários críticos. O último é de 15 de setembro deste ano, a respeito das exéquias de Isabel II. Aí fustigou “a vassalagem deprimente” dos repórteres portugueses, os “comentadores serventuários” e “o folclore medíocre” que o Reino Unido então apresentou ao mundo.


Uma dívida que não é nossa, uma guerra que não queremos

Editor — 13 Outubro 2022

Quer o Orçamento do Estado quer o “acordo de rendimentos” firmado há dias na Concertação Social consagram a perda de poder de compra dos trabalhadores diante da inflação. Nem os salários são aumentados ao nível da carestia, nem a especulação com os preços é travada. Esta espoliação marca a linha política do Governo e mostra — para lá de todas as “ajudas” e de todo o palavreado — quais as classes sociais que o Governo sacrifica no altar da crise económica.


Afinal, quem promove o fascismo?

Manuel Raposo — 30 Setembro 2022

Dilacerada por enormes tensões internas mal disfarçadas, a União Europeia abeira-se da desagregação

Cem anos depois de Mussolini ter chegado ao poder, o fascismo volta a governar a Itália. A vitória anunciada de Giorgia Meloni não mereceu, ao longo de semanas, quaisquer comentários da parte dos líderes europeus, parecendo que todos eles encaravam o caso, não só como inevitável, mas também como normal e aceitável. Apenas nas vésperas do dia da votação a porta-voz dos eurocratas, Ursula von der Leyen, resolveu lançar um aviso, tão inútil como estúpido, brandindo a ameaça de sanções se os novos governantes de Itália não se comportassem pelas regras de Bruxelas. 


Circo sem pão

Editor — 15 Setembro 2022

Ainda nos falta suportar quase uma semana de reportagens até ao funeral de Isabel II. O ror de horas de transmissões televisivas, o batalhão de repórteres vestidos de luto especialmente enviados para debitarem todas as banalidades, as louvaminhas a uma aristocracia absolutamente corrompida, a convocação de testemunhos bacocos sobre as finuras do protocolo ou as virtudes da monarquia — tudo isso junto é revelador do estado de morte cerebral das classes dominantes do país. Mas é também o circo com que contam distrair a populaça (por quanto tempo?) da guerra, do abismo económico, da degradação da vida diária, da falta de futuro.


Ministro dos fardamentos

Urbano de Campos — 3 Setembro 2022

Cravinho: uma irrepreensível fidelidade, até nas palavras, aos dirigentes imperialistas

O ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, fez questão de ir a Kiev no dia da independência da Ucrânia, a 24 de agosto. Falou com Zelensky depois de, dizem as notícias, ter de se refugiar num bunker devido a uma ameaça de bombardeamento. Este episódio excitante valeu-lhe um rasgado elogio de um comentadorzeco da CNN Portugal pela “coragem física” demonstrada… Resultados da visita, segundo Cravinho: manifestar apoio a Zelensky (pela enésima vez) e receber de Zelensky um pedido de fardamentos novos. Só isso?


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