Tópico: País

Odemira, ou a modernidade da escravatura

António Louçã — 5 Maio 2021

Às primeiras palavras sobre uma requisição civil de alojamentos devolutos para instalar migrantes, houve alarme geral: aqui d’el rei que os comunistas comedores de criancinhas querem pôr-nos a dormir ao relento, aqui d’el rei que violam os direitos humanos dos proprietários. Afinal, a gritaria era uma folha de parra para encobrir as cumplicidades locais com o tráfico de pessoas e com a nova escravatura. E essas cumplicidades locais são alimentadas por conivências políticas, com sede no Governo.


25 de Abril, uma querela distorcida

Urbano de Campos — 27 Abril 2021

 

1974-75: o que ainda hoje dói à direita é o movimento popular que irrompeu para lá dos propósitos dos Capitães

A polémica em torno da manifestação do 25 de Abril em Lisboa tem o seu quê de instrutivo. Obviamente, a Iniciativa Liberal quis fazer escândalo e dar nas vistas ao reclamar o direito “democrático” de, oportunisticamente, se encastoar num desfile que sabia ser promovido por forças de cor política diversa da sua. O que a IL pretendia não era festejar o 25 de Abril. Era sim meter uma cunha do 25 de Novembro no desfile do 25 de Abril.


O sagrado direito de causar miséria

Manuel Raposo — 25 Abril 2021

Com a pandemia, a destruição de emprego foi feita à custa dos trabalhadores mais pobres

Nos últimos 20 anos, a taxa de pobreza em Portugal andou sempre acima dos 20% da população, com picos em 2004 (26%) e em 2013 (30%). Os números — do INE, da Pordata e de um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos —, mesmo se não coincidem em absoluto, não deixam margem para dúvidas acerca da dimensão da situação. Presentemente, são mais de dois milhões os portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza, o que significa ter um rendimento anual de 6 mil euros, ou 500 euros por mês. Mais significativo ainda, um terço destes pobres são trabalhadores empregados. Dito doutro modo, o trabalho não é remédio garantido contra a pobreza.


O círculo de giz

Editor — 13 Abril 2021

O problema da Operação Marquês não está em ser o megaprocesso que tanto se critica. Está sim no facto de, no desenvolvimento da investigação, ter sido apanhado na rede quem não se pretendia que lá estivesse: o BES e Ricardo Salgado. Enquanto a investigação se limitou a encontrar os tentáculos de um esquema de corrupção, a coisa andou bem: seria mais um caso de abuso de poder e de luta partidária que se prefigurava. O pior foi quando, a partir dos tentáculos, se chegou à cabeça do polvo e se viu que era todo um modo de vida do sistema político-económico-partidário que poderia ficar a nu.


Caridade sim, justiça social é que não

Manuel Raposo — 31 Março 2021

Tudo menos tocar nas grandes fortunas, nos altos rendimentos, nos lucros do capital, na propriedade privada capitalista

Em final de fevereiro deste ano, os desempregados inscritos nos centros de emprego (IEFP) tinham subido acima de 430 mil, mais 37% do que no início do ano passado, o valor mais alto desde maio de 2017. Ao longo de 2020 o ritmo dos despedimentos colectivos tornou-se galopante. Como se nada disto contasse, as organizações patronais continuam a repetir o dogma de sempre: “são as empresas que criam emprego” — quando as evidências mostram que são as empresas, isto é, o capital, que destroem postos de trabalho e liquidam meios de produção. 


A igualdade não está a passar por aqui

Editor — 11 Março 2021

Não será seguramente por falta de declarações que as mulheres não alcançarão a igualdade. No passado 8 de Março choveram comoventes apoios à causa, do secretário-geral da ONU, António Guterres, da presidente do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, até inumeráveis reportagens e testemunhos na comunicação social. Não faltou mesmo a argúcia do grande comércio, amigo da mulher-consumidora, que lançou campanhas promocionais de electrodomésticos ou produtos de beleza.


Ainda a polémica sobre Marcelino da Mata

António Louçã — 22 Fevereiro 2021

A campanha contra Mamadou Ba é uma das marcas de racismo deste país “não racista”

Já quase tudo foi dito sobre a repugnante campanha pela deportação de Mamadou Ba. Mas há dois ou três aspectos da polémica em curso que não obtiveram tanta atenção como possivelmente mereciam. Para eles tentarei chamar a atenção nas linhas que se seguem.

1. “Portugal não é um país racista”. Mas há algum “país racista”? A frase, em si mesma, é de uma estupidez desconcertante. Em todos os países há racismo e há quem combata o racismo. Há momentos em que as tendências racistas estão na mó de cima, outros em que são remetidas à defensiva.


Um tributo pago ao passado colonial

Editor — 17 Fevereiro 2021

Se não fosse o grito de alma de Mamadou Ba, o funeral do tenente-coronel Marcelino da Mata, falecido há dias com 80 anos, seria mais uma cerimónia de homenagem a um “herói nacional”, apagando os crimes de guerra do personagem e da guerra colonial. A sonora denúncia de Mamadou Ba — “Marcelino da Mata é um criminoso de guerra que não merece respeito nem tributo nenhum” — teve o mérito de não deixar passar em claro as honras prestadas a um agente especialmente cruel do colonialismo, mostrando a face do regime político e da instituição militar, e obrigando as forças de direita a virem a terreiro revelar o que lhes vai na alma.


Onde já vimos isto?

António Louçã — 4 Fevereiro 2021

O Chega é o futuro do PSD. Os Açores foram o balão de ensaio

A campanha eleitoral e o acto eleitoral foram, desta vez, um recordatório de tudo o que se pode fazer para minar uma democracia burguesa e para abrir as portas, de par em par, a um regime autoritário ou fascista. À cabeça desse rol de infrações da lógica mais chã encontra-se, naturalmente, o dominó de capitulações de cada um ao vizinho da direita, e deste ao vizinho que está mais à direita.


O estado da nação

Editor — 29 Janeiro 2021

De acordo com um estudo da consultora Mercer divulgado pela imprensa, os directores executivos das empresas portuguesas ganham em média 10 vezes mais do que os respectivos trabalhadores, incluídos aqui todos os trabalhadores, sem diferenciação de escalões ou funções. Mas a coisa piora substancialmente quando se entra no detalhe.


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