Os criminosos e os cúmplices

Editor — 16 Maio 2021

Os crimes de Israel estão à vista e são conhecidos: ataques sem conta aos civis palestinos, assassinatos selectivos de dirigentes, roubo de território, redução da população da Palestina à fome, política de conflito permanente no Médio Oriente, acções militares contra povos vizinhos. Tudo isto somado às piores práticas aprendidas do colonialismo e do nazismo — de que a propaganda sionista tanto se faz vítima como cobertura para os seus actos.

A sua condição de Estado pária também é conhecida. Israel tem violado e incumprido mais resoluções das Nações Unidas que qualquer outro país. Tem negociado de má fé e atraiçoado acordos firmados como ninguém. É dirigido por políticos (eleitos!..) cujo carácter distintivo, mesmo no negro panorama mundial, é o de criminosos impunes, de corruptos sem pudor, de torcionários descarados — da pior escória sobre a Terra.

O crédito de Israel como Estado minimamente respeitável simplesmente não existe, mesmo num mundo marcado por injustiças, crimes e violências inaceitáveis.

Tudo isto é sabido. A questão que hoje se coloca uma vez mais — quando a Palestina volta a ser arrasada à bomba a mando de um chefe de governo a todos os títulos sem escrúpulos — é esta: porque continua Israel impune, porque não são os seus dirigentes julgados como criminosos?

A resposta não está em Israel nem nos seus dirigentes. Está nos EUA, está na Europa, está nos “nossos” dirigentes e nos “nossos” governos. São estes que fazem de Israel e dos seus líderes braços armados para policiarem o Médio Oriente. São estes que, com calculismo e cumplicidade, sustentam Israel e absolvem os seus crimes.

A impunidade de Israel só encontra explicação na impunidade dos governos dos EUA e da União Europeia. Cabe aos povos europeus e norte-americano acabar com esta impunidade.

Apontemos então o dedo a quem nos governa. Silêncio ou declarações de circunstância perante crimes flagrantes são actos de cumplicidade. Apelos à moderação “de ambas as partes”, quando uma agride e outra é agredida, são sinais de baixo manobrismo. Condenar o lançamento de rockets e omitir bombardeamentos aéreos é sinal de hipocrisia. Proclamar o princípio de dois Estados e deixar Israel anexar a Palestina é diplomacia no seu pior estilo.

Foi o que fizeram o Governo português e o ministro dos Negócios Estrangeiros. Nem o facto de estar a presidir ao Conselho da UE levou António Costa a esboçar sequer um gesto que quebrasse o silêncio dos 27. Governo e ministro adoptam a postura de sempre: tentar perceber a direcção do vento que venha dos centros de decisão da UE ou dos EUA antes de abrirem a boca. E isso é sinal de cobardia.

A chave desta atitude foi dada pelo próprio ministro dos Negócios Estrangeiros quando os EUA, por ordem de Trump, impuseram sanções ilegais ao Irão. Disse Santos Silva, encostado ao amigo ianque: “Nós não somos equidistantes”. Esta afirmação de servilismo perante o poder do mais forte é uma nódoa indelével na política externa portuguesa. Pior: é a sua linha geral.

Contra criminosos relapsos só há uma resposta: apoiar incondicionalmente as vítimas e a sua luta de resistência, sob todas as formas; boicotar e isolar os agressores, exigindo o julgamento dos seus dirigentes. O primeiro acto de solidariedade para com a causa palestina é exercer pressão sobre os “nossos” governos forçando-os a mudar de política. É esta a nossa principal contribuição para que a Palestina vença.

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…E os serviçais

Ataque ao edifício onde estavam a Al Jazira e a Associated Press

Em acrescento ao que acima se aponta, registemos também a posição tomada por  alguns dos figurões da nossa comunicação social. São eles os capatazes encarregados de completar a lavagem cerebral dos cidadãos distraídos, operação que tem origem no poder político e desce pelos canais ditos “informativos”.

Paulo Portas, esse caixeiro viajante da grande construção civil portuguesa, conseguiu, no seu programa semanal na TVI (16 maio), a proeza de inverter por completo os termos do massacre que Israel está a praticar aos olhos de toda a gente. Para Portas, é Israel que se está a defender dos ataques de rockets lançados pelo Hamas a partir de Gaza. Usou mesmo o truque barato de “sensibilização” do espectador que consiste em imaginar Lisboa sob uma chuva de rockets — para insinuar que Israel é afinal a vítima da crueldade dos palestinos. Só que, enquanto de um lado morreu uma dúzia, do outro morreram duas centenas e há milhares de feridos, até à data.

Paulo Rangel, deputado europeu pelo PSD (que tira altos rendimentos à margem do seu mandato, como se pode recordar aqui e aqui), em declarações à TSF (17 maio) bateu na mesma tecla: Israel tem o direito de se defender dos ataques de rockets. Ou seja, uma vez mais, a vítima é Israel. As centenas de mortos e milhares de feridos do lado palestino são, para Rangel, o resultado de um “exagero” na resposta das forças armadas israelitas, mas não a consequência de um crime de agressão. Longe de condenar a agressão ordenada por Netanyahu, o eurodeputado tentou “internacionalizar” o conflito, como se este fosse o resultado de um jogo de forças em que russos, chineses, iranianos e sírios se empenham em apoiar o Hamas. Consequência: para Rangel, a UE e os EUA só têm como escolha apoiar a “legítima defesa” israelita.

Igualmente manhosos, Rangel e Portas mascararam assim a origem concreta do problema: a ocupação e colonização ilegal da Palestina pelos sionistas, que leva décadas; e, recentemente, a provocação feita aos palestinos em Jerusalém, em pleno Ramadão, pelos fascistas israelitas, como rastilho para a operação militar.

Maria Flor Pedroso também deu um ar da sua graça na Antena1 (14 maio). Quando, no debate semanal Geometria variável, veio a lume o bombardeamento e demolição, pelas forças israelitas, do edifício habitacional que em Gaza alojava diversas agências de comunicação — entre elas a Al Jazira e a Associated Press — e um dos comentadores referiu isso como crime de guerra, Flor Pedroso não resistiu a atenuar a coisa : “Ah, mas o prédio tinha sido evacuado previamente…”

Actos públicos de apoio à Palestina

Solidariedade com a Palestina, Fim à agressão, Fim à ocupação

Segunda feira, 17 de Maio, 18h00
Lisboa – Largo Martim Moniz

Porto – Praça da Palestina (Rua Fernandes Tomás)
Concentrações de solidariedade com o povo palestino e de protesto contra a violência de Israel em Jerusalém, em Gaza e na Cisjordânia, promovidas pela CGTP-IN, pelo CPPC e pelo MPPM

Nakba 73 Anos, Encontro-Debate

Terça feira, 18 de Maio, 18h30
Casa do Alentejo, Lisboa

Sanções contra Israel

Está na hora de o mundo se unir por sanções contra Israel. Junte o seu nome para ajudar a defender os direitos do povo palestino.

https://secure.avaaz.org/campaign/po/palestine_sheikh_jarrah_ns_loc/?email

(Actualização feita em 17 de maio)


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