Tópico: Economia

O que há de comum entre a Birmânia e a tragédia de Moçambique?

António Louçã — 10 Abril 2021

A Total é a grande responsável pela desgraça do povo moçambicano em Cabo Delgado

A resposta à pergunta deste título, resume-se numa palavra só: Total. A multinacional petrolífera instalada em Cabo Delgado foi durante muitos anos a principal financiadora do Exército birmanês e a mais incondicional aliada da ditadura. Agora, é a grande responsável pela desgraça do povo moçambicano na região de Cabo Delgado.


Caridade sim, justiça social é que não

Manuel Raposo — 31 Março 2021

Tudo menos tocar nas grandes fortunas, nos altos rendimentos, nos lucros do capital, na propriedade privada capitalista

Em final de fevereiro deste ano, os desempregados inscritos nos centros de emprego (IEFP) tinham subido acima de 430 mil, mais 37% do que no início do ano passado, o valor mais alto desde maio de 2017. Ao longo de 2020 o ritmo dos despedimentos colectivos tornou-se galopante. Como se nada disto contasse, as organizações patronais continuam a repetir o dogma de sempre: “são as empresas que criam emprego” — quando as evidências mostram que são as empresas, isto é, o capital, que destroem postos de trabalho e liquidam meios de produção. 


Vacinas covid: alto negócio e arma política

Manuel Raposo — 14 Fevereiro 2021

Países ricos primeiro, depois os pobres. Prazos de vacinação: verde escuro-final de 2021, verde claro-meados de 2022, laranja-final de 2022, vermelho-de 2023 em diante. Fonte The Economist

Já foi dito que as crises ditas “naturais”, mesmos os cataclismos imprevisíveis, põem a nu as fragilidades  das sociedades que atingem. A crise sanitária, social, económica desencadeada pelo coronavírus é disso exemplo, com a agravante de a erupção viral ser de há muito previsível, se não na sua forma precisa, pelo menos na probabilidade de ocorrer. Mas há outra face das sociedades actuais que fica a descoberto: a miserável competição entre as principais potências capitalistas mundiais na corrida às vacinas, quer pelos lucros colossais proporcionados às farmacêuticas, quer pela busca de vantagens políticas.


O estado da nação

Editor — 29 Janeiro 2021

De acordo com um estudo da consultora Mercer divulgado pela imprensa, os directores executivos das empresas portuguesas ganham em média 10 vezes mais do que os respectivos trabalhadores, incluídos aqui todos os trabalhadores, sem diferenciação de escalões ou funções. Mas a coisa piora substancialmente quando se entra no detalhe.


O estado da nação

Editor — 26 Dezembro 2020

A Autoridade da Concorrência (AdC) aplicou uma coima de mais de 300 milhões de euros a seis hipermercados (Continente, Pingo Doce, Auchan, Lidl, Leclerc, Intermarché) e a duas distribuidoras de bebidas (Sociedade Central de Cervejas e Primedrinks) por combinarem preços de forma a fazê-los subir gradualmente no mercado. Esta prática estendeu-se por dez anos. As empresas multadas dominam o mercado retalhista do país, e pode dizer-se que, em conjunto, constituem um monopólio da venda ao público de praticamente todos os artigos de primeira necessidade. A coima aparenta mão pesada, mas deixa alguns mistérios por decifrar: o que andou a AdC a fazer durante dez anos? quantos milhões a mais lucraram os infractores nesses dez anos de rédea solta? quantos mais produtos, além das bebidas, terão preços combinados?


O teletrabalho como panaceia

Editor — 25 Novembro 2020

O teletrabalho parece ter-se tornado uma panaceia. Patrões, Governo e meios de comunicação, não só o promovem invocando razões sanitárias, como se empenham em exaltar-lhe supostas virtudes inovadoras — como se estivéssemos diante de uma revolução no mundo do trabalho. Quase se agradece à pandemia por vir obrigar a tamanho “progresso”.


Notas sobre a novela do Orçamento

Manuel Raposo — 24 Outubro 2020

Longe das necessidades dos trabalhadores e dos pobres

O que há de mais admirável na discussão sobre o Orçamento do Estado 2021 é o facto de toda a direita, do presidente da República ao Chega, fazer força para que o documento seja “aprovado à esquerda”.

Basta isto para duas coisas ficarem claras. Uma, é que a direita confia na capacidade do PS para travar os “excessos” do BE e do PCP, ou, como diz António Costa, impor “bom senso” aos aliados da legislatura passada. Outra, é que as exigências do BE e do PCP não irão ao ponto de provocar uma crise governativa e que, feitas as contas, serão encaixadas pelo patronato sem sobressaltos de maior.


Roubar um banco e fundar um banco

Urbano de Campos — 11 Agosto 2020

Quando o negócio prosperava

A longa questão do Banco Espírito Santo, que se arrasta vai para seis anos e se prolonga pelo seu sucedâneo Novo Banco, veio dar nova actualidade à afirmação de que roubar um banco não é nada comparado com fundar um banco (1). Aquilo que parecia ser uma falência entre outras (mesmo considerando o peso decisivo do BES na teia financeira portuguesa), acabou por ser uma verdadeira radiografia do mundo do capital — dos altos negócios, das grandes famílias do dinheiro, das ligações espúrias que mantém cá e lá fora, da corrupção que alimenta, dos governantes que compra, da rédea curta com que dirige o Estado.


A pandemia como metáfora do capitalismo

António Louçã — 17 Julho 2020

“Depois de nós, o dilúvio”

Tal reagente químico, o novo coronavírus fez sobressair com particular nitidez algumas das características fundamentais do capitalismo. A ganância e a irresponsabilidade são duas delas. A ganância, já se sabe, é  velha como este modo de produção. A voracidade dos capitalistas vai por vezes ao ponto de fazê-los esquecerem a sua própria sobrevivência física.


A pressão dos negócios

Manuel Raposo — 16 Julho 2020

Retomar os negócios a todo o custo

O modo como o chamado “desconfinamento” tem dado origem a um crescimento significativo da pandemia, primeiro na região de Lisboa, mas agora também no resto do país, mostra bem como os poderes públicos cederam à pressão dos negócios. O relativo êxito no controlo do surto em Março e Abril deveu-se, quase em exclusivo, a uma medida: isolar as pessoas, parando tudo o que era possível parar. O regresso à actividade, mesmo gradual e condicionado, é um regresso às condições de trabalho de sempre, agora acrescentadas com o perigo de contaminação, quando não de morte. É esta a realidade que atinge hoje o mundo do trabalho.