O estado da nação

Editor — 26 Dezembro 2020

A Autoridade da Concorrência (AdC) aplicou uma coima de mais de 300 milhões de euros a seis hipermercados (Continente, Pingo Doce, Auchan, Lidl, Leclerc, Intermarché) e a duas distribuidoras de bebidas (Sociedade Central de Cervejas e Primedrinks) por combinarem preços de forma a fazê-los subir gradualmente no mercado. Esta prática estendeu-se por dez anos. As empresas multadas dominam o mercado retalhista do país, e pode dizer-se que, em conjunto, constituem um monopólio da venda ao público de praticamente todos os artigos de primeira necessidade. A coima aparenta mão pesada, mas deixa alguns mistérios por decifrar: o que andou a AdC a fazer durante dez anos? quantos milhões a mais lucraram os infractores nesses dez anos de rédea solta? quantos mais produtos, além das bebidas, terão preços combinados?

Os bancos começaram a enviar cartas aos clientes a sugerir-lhes formas de pagarem os montantes em dívida relativos a contratos de crédito habitacional. A razão é esta: a moratória aos pagamentos das prestações, determinada pelo Governo em resultado das dificuldades da pandemia, vai terminar em Setembro próximo. Como a moratória foi apenas um adiamento do pagamento e não um perdão de dívida, as famílias terão não só de recomeçar os pagamentos, como ainda de suportar maiores encargos, em resultado dos juros entretanto acumulados e não pagos. “Quanto mais cedo se preparar, menor será o impacto”, diz uma nota da CGD aos clientes. Em toda esta história, o que sobressai não é o cuidado das autoridades em estabelecer as moratórias, nem a bondade dos bancos em aceitá-las: é a determinação de todos eles em não prejudicar a finança, num cêntimo que seja. Se a pandemia tocasse a todos, a medida razoável seria eliminar as dívidas resultantes da perda de rendimentos das famílias; para os bancos, paciência, seria o “risco” do negócio.

A reestruturação da TAP promete dois mil despedimentos, e o Governo quer que fiquemos contentes porque poderiam ser 10 mil se houvesse falência. A Galp tenciona fechar a refinaria de Matosinhos: elimina duma assentada 400 postos de trabalho, mas — argumenta a administração — concentra o negócio em Sines, poupa 90 milhões por ano em custos fixos e contribui para a “política de descarbonização”.

No país, o desemprego subiu no terceiro trimestre deste ano para 7,8% (acima de 400 mil pessoas), mais 45% do que no segundo trimestre e mais 25% comparando com o ano passado. A estes há que somar 40 mil desempregados invisíveis, pessoas que não estão inscritas nos centros de emprego nem recebem subsídio. Entre os que têm trabalho, 10,8% (cerca de meio milhão) vivem em situação de pobreza, isto é, com menos de 501 euros por mês. Em 2019, quase 22% da população estava em risco de pobreza e exclusão social. O bispo de Setúbal e padres do Porto alertaram que, desde Março, “a fome não pára de aumentar”. Como alguém disse, as pandemias só vêm agravar tendências que já estão presentes.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgoncalves 26/12/2020, 16:44

O que está a acontecer nestes dias, mais ou menos sombrios, não é outra coisa senão o culminar de uma campanha mistificadora perante a qual todas as forças políticas oficiais e opositoras se calaram em nome do progresso e da salvação do planeta. A defrsa do ambiente atmosférico e metereológico começou a dar os seus frutos: despedimentos em massa na refinaria de Matosinhos, matança sanguinária na Torre Bela, extinção das aves das serras e da costa marítima aluguer do alojamento local para fomentar o tráfego da droga e desemprego forçado pela suspeita pandemia. Como o clima de luta contra este estado de coisas está no grau zero, é natural que o inimigo continue a ser o Nazismo pútrido e a ameaça do próximo anónimo ditador.

Leonel Lopes Clérigo 3/1/2021, 13:11

CONCORRÊNCIA e MONOPÓLIO

Há inúmeros "contadores de histórias" que, habitualmente, nos contam "Histórias da CONCORRÊNCIA" com tal "habilidade" e "poética" que pouco falta para destronar, no "imaginário infantil", a da "Carochinha".
Mas, curiosamente, a fase que o Capitalismo atravessa hoje - e já vão cerca de dois séculos - é a MONOPOLISTA - não a CONCORRENCIAL - ou seja, a do domínio dos Monopólios e que, só por si, nos leva a considerar que,"há gato..." nesta insistência de "endeusamento" empresarial do "vão de escada". ("Cria o teu momento", insiste o anúncio "bacoco").
E vale a pena olhar a questão.
Geralmente, ao se "enfatizar" HOJE a "OFERTA e a PROCURA", fica omisso que, para se "oferecerem" BENS é necessário e antes de tudo, PRODUZI-LOS. É a PRODUÇÃO que sustenta qualquer SOCIEDADE e deve ser olhada com toda a atenção e sabedoria possível. O "Covid", fez-nos o favor de "avivar" tudo isto: quem não PRODUZ, está "lixado" e os LUSOS produzem pouco e, sobretudo, de "forma subdesenvolvida".
Vale então olhar - além dos "preços altos ao consumidor" - um outro reverso da medalha": o ESMAGAMENTO que fazem os MONOPÓLIOS ("perseguidores" de rendas) nos PREÇOS ao PRODUTOR, coisa que não serve de "incentivo" à Produção. Mas como dizia a Drª Ferreira Leite: "Quem paga manda..." ou seja: "é comer e calar".
Há uns tempos atrás, os produtores ("pequenos" do Oeste) de "pera rocha" (p. ex.), pareciam reclamar de uma situação destas causada por uma "famosa cadeia" de Supermercados. Não temos que nos admirar: quando se trata do "NEGÓCIO" dos "grandes" - como da "gasolina" ou "electricidade"... - aí, já o "esmagamento dos preços" é "inconveniente" atender: causa "dores de barriga" ao MERCADO.
Mas tudo isto são "segredos da vida..." que esperamos - já que os PODERES que nos governam o não fazem - poderem vir as "bruxas" explicar-nos...


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