Tópico: Trabalho

A pressão dos negócios

Manuel Raposo — 16 Julho 2020

Retomar os negócios a todo o custo

O modo como o chamado “desconfinamento” tem dado origem a um crescimento significativo da pandemia, primeiro na região de Lisboa, mas agora também no resto do país, mostra bem como os poderes públicos cederam à pressão dos negócios. O relativo êxito no controlo do surto em Março e Abril deveu-se, quase em exclusivo, a uma medida: isolar as pessoas, parando tudo o que era possível parar. O regresso à actividade, mesmo gradual e condicionado, é um regresso às condições de trabalho de sempre, agora acrescentadas com o perigo de contaminação, quando não de morte. É esta a realidade que atinge hoje o mundo do trabalho.


Pandemia e futuro

José Borralho — 3 Julho 2020

Por uma alternativa que impeça a catástrofe

Cresciam os sinais de crise do capitalismo, nomeadamente numa desaceleração do crescimento da economia e nas tendências para o rebentar de uma nova bolha financeira, quando, inesperadamente, a isto se veio juntar a crise pandémica.

Eram de há tempo visíveis as tensões entre a UE e os EUA e entre estes e a China, quer pelas ameaças nacionalistas de Trump de aplicar mais impostos às mercadorias desses países, quer pela perda de influência dos EUA no plano militar, quer também pelo poderoso aumento de influência económica da China no mundo.


Não, o vírus não é democrático

Urbano de Campos — 30 Junho 2020

Trabalhadores da plataforma logística da Azambuja

O aumento significativo de contaminações por covid-19, sobretudo na região de Lisboa, não parece ter muitos segredos: ele está a dar-se nas zonas de concentração de trabalhadores. Muitos deles nunca deixaram de trabalhar, nem mesmo durante o estado de emergência. Construção civil, áreas logísticas dos grandes abastecimentos, fábricas, transportes públicos são os focos e os veículos de transmissão. E as vítimas são, sublinhe-se, trabalhadores, muitos deles de sectores vitais, a quem o teletrabalho não contempla.


Chamem-lhe austeridade ou não

Manuel Raposo — 12 Maio 2020

Em duas entrevistas dadas à televisão e à rádio, o ministro da Finanças fez questão de vincar repetidamente que a crise económica em que o país e o mundo caíram é um produto da pandemia e não da própria lógica económica. Disse mesmo que, no seu entender, a curva da economia acompanhará a curva da pandemia, isto é, recuperará em paralelo com a retoma das condições de saúde.
Neste discurso, a crise actual passa por ser um mero hiato (“que ninguém previa” e para o qual “ninguém estava preparado”) no fluxo normal dos negócios — e que, mais logo, tudo retomará o andamento a partir do ponto em que se estava, mais coisa menos coisa.


Duas espinhas na garganta, ainda assim

Manuel Raposo — 2 Maio 2020

Com argumentos de defesa da saúde pública, a direita (mas não só a direita) atirou-se às comemorações do 25 de Abril e do Primeiro de Maio, classificando os promotores de irresponsáveis e de “darem um sinal errado” à população quando se pede a todos que fiquem em casa.
Pouco interessou aos críticos que as regras de afastamento físico fossem respeitadas em qualquer dos casos. Tal como não lhes interessa o facto de, todos os dias, milhares de trabalhadores que permanecem em actividade se acumulem em transportes públicos escassos e em locais de trabalho sem condições de segurança sanitária.


A crise viral à luz da crise do capital

Manuel Raposo — 24 Março 2020

Vai ser fácil atribuir ao coronavírus a crise económica que está em curso. Os propagandistas de serviço já lhe chamam “a crise do covid-19”. Mas, como em química, é preciso distinguir os reagentes dos catalizadores. A emergência criada com a epidemia viral veio apenas precipitar o que já se desenhava e que os observadores mais atentos previam desde, pelo menos, há meses.


Superavit: a mistificação do ‘bem comum’

Urbano de Campos — 29 Dezembro 2019

Já foi dito quase tudo sobre o superavit que o Governo prevê no Orçamento do Estado para 2020: que é dinheiro dos contribuintes e devia ser investido em apoios sociais, que (como propõe o Governo) deverá abater a dívida chamada pública para aliviar encargos do Estado, que deveria ser aplicado de forma produtiva, etc. Mas este debate “político-económico” corre o risco de esconder a opção mais funda que determina tanto a decisão do Governo como a concordância do patronato — e o porquê da convergência de uma e outra.


A ‘racionalidade económica’, segundo Saraiva

Manuel Raposo — 10 Dezembro 2019

O mandatário dos patrões da Indústria, António Saraiva, presidente da CIP, condenou a decisão do Governo de subir o salário mínimo como sendo uma medida meramente “política”, com o único resultado de o Estado arrecadar mais uns milhões em impostos. Mas, sobretudo, criticou aquilo que ele, Saraiva, diz ser uma decisão “sem racionalidade económica”. O homem da CIP não explicou o seu conceito de “racionalidade económica”, mas não é difícil adivinhá-lo.


O internacionalismo deles

António Louçã — 5 Outubro 2019

Donald Trump é um chauvinista furioso, que sonha em voz alta com fossos cheios de crocodilos para deter os migrantes latino-americanos na fronteira dos Estados Unidos, que arranca as crianças migrantes dos braços das suas mães e que manda abrir fogo para as pernas de quem pede para entrar. Tudo isto não é apenas retórica: o chauvinismo de Trump mata.


Nova crise? Velho problema

Manuel Raposo — 5 Setembro 2019

Em tom ligeiro e de passagem — talvez para poderem vir a dizer “nós alertámos” — o primeiro-ministro e o presidente da República referiram recentemente a possibilidade de uma nova crise económica e financeira mundial. Para sossegar os espíritos, fizeram crer que, nessa eventualidade, o país estaria “mais bem preparado” em resultado quer da “maior robustez” das finanças públicas, quer da nova lei do trabalho — como se isso fosse barreira a um vendaval como o que se desencadeou em 2008. São declarações tão tranquilizantes como o são os comprimidos para dormir.