Tópico: País

A ‘racionalidade económica’, segundo Saraiva

Manuel Raposo — 10 Dezembro 2019

O mandatário dos patrões da Indústria, António Saraiva, presidente da CIP, condenou a decisão do Governo de subir o salário mínimo como sendo uma medida meramente “política”, com o único resultado de o Estado arrecadar mais uns milhões em impostos. Mas, sobretudo, criticou aquilo que ele, Saraiva, diz ser uma decisão “sem racionalidade económica”. O homem da CIP não explicou o seu conceito de “racionalidade económica”, mas não é difícil adivinhá-lo.


Quem se lembrou de banir a imprensa portuguesa na visita de Netanyahu?

António Louçã — 5 Dezembro 2019

À primeira vista, dir-se-ia que se trata de mais um gesto de prepotência imperial ianque-israelita e mais um agachamento de subserviência portuguesa: Netanyahu e Pompeo pedem um país emprestado para se encontrarem, aterram com as suas próprias comitivas de jornalistas amigos, e proíbem os jornalistas indígenas de estarem presentes. Sem podermos prová-lo, diremos que esta aparência engana. A única explicação com alguma lógica para a imprensa portuguesa ser banida é que a ideia tenha vindo do próprio António Costa.


Sindicalismo, sindicalismo policial, omertà

Urbano de Campos — 2 Dezembro 2019

A manifestação dos agentes da PSP e da GNR de 21 de Novembro trouxe as chamadas forças de segurança para as primeiras páginas. Na sombra ficou a escandalosa absolvição, pouco tempo antes, de onze agentes da PSP que, há cinco anos, em Guimarães, espancaram colectivamente e cegaram um adepto de futebol. Num caso, os sindicatos organizaram o protesto por melhores remunerações e condições “de trabalho” dos agentes; noutro caso, um dirigente de um desses sindicatos fazia parte dos onze inculpados. De que direitos laborais falamos então quando se trata de forças policiais?


25, o deles e o nosso

Manuel Raposo — 25 Novembro 2019

Sobre o 25 de Novembro, 44 anos depois, está tudo dito e (quase) tudo provado. Foi um golpe militar conduzido pela ala direitista do MFA, teve o apoio das secretas e dos governos europeus e norte-americano, Mário Soares foi o seu testa de ferro, pôs fim ao movimento popular mais radical da história portuguesa recente, criou condições para a reconstituição do grande capital, destruiu as organizações populares e fez retroceder as conquistas de 19 meses de acção directa de um povo farto de mordaças — festiva, solidária, empenhada, como todas as movimentações que constroem coisas novas.

Uma democracia cinzenta, engravatada, dita representativa, moderna, europeia, tomou o lugar do que fora um simples, tímido, esboço de democracia popular. Não foi preciso esperar 44 anos para ver os frutos: primazia absoluta aos negócios, corrupção, fortunas fulgurantes, diferenças colossais entre riqueza e pobreza, degradação dos serviços sociais, afastamento da massa do povo de qualquer decisão política (depois queixam-se da abstenção…), os pobres de novo empurrados para baixo. Eis o monopólio político da burguesia.


José Mário Branco

20 Novembro 2019

Da via artística de José Mário Branco falam sobretudo as canções, os concertos, as obras editadas, as produções feitas com outros artistas. E ainda a sua vasta colaboração em acções políticas e em actos de solidariedade, desde os anos de emigrado aos agitados tempos do Portugal libertado da ditadura. Esse é o legado que vai ficar, em registo físico e em testemunhos.

Mas cumpre realçar também o que tende a ser esquecido, ou deixado num plano de sombra. Apesar de ter dito de si próprio que nunca foi um político, José Mário Branco foi sempre, à sua maneira, um militante político. Desde cedo terá visto que é a acção política (mesmo através de canções e concertos) a alavanca da transformação social. Intervir foi, por isso, o seu impulso permanente.


O “governar à esquerda” do PS

Manuel Raposo — 7 Novembro 2019

Mais do que o discurso formal de António Costa no debate sobre o programa do Governo, foi a intervenção da líder parlamentar do PS que melhor deu a perceber o sentido da governação para os próximos quatro anos. Disse Ana Catarina Mendes que será a “classe média” o foco das preocupações do Governo. E explicou: “democracias fortes exigem classes médias fortes”.


Derrota “histórica” da direita. Sim, e agora?

Manuel Raposo — 13 Outubro 2019

Olhando aos factos, a derrota eleitoral da direita começou em 2015. Contra todas as arengas da altura, a coligação PSD-CDS foi despedida por uma maioria de eleitores. Argumentar, como ainda hoje se ouve, que o PSD ficou então à frente do PS ilude o essencial: a rejeição do bloco que foi braço direito da troika. A derrota de agora apenas confirma, com valores mais claros, a de há quatro anos. (*)


Autoritarismo de Costa não tira férias

António Louçã — 6 Outubro 2019

A cena em que o primeiro-ministro se exalta contra um idoso e cresce para ele é, talvez, uma derrapagem que em retrospectiva o próprio Costa preferia ter evitado. Mas é daquelas derrapagens que nos revelam, até pela sua espontaneidade, o que poderia tornar-se um PS descontrolado, a reinar sobre o país com maioria absoluta.


Uma campanha alegre

Manuel Raposo — 17 Setembro 2019

Quem tenha assistido aos frente-a-frente televisivos entre António Costa e Jerónimo de Sousa, e entre António Costa e Catarina Martins ficou com dados para perceber porque é que o PS se abeira da maioria absoluta, deixando o PCP e o BE a uma distância muito maior do que há quatro anos (*). Não só os números dizem quem ganhou com a aliança governativa, como os debates mostram porquê.


A abstenção é de esquerda?

António Louçã — 11 Setembro 2019

A política institucional que temos não desperta entusiasmos nem atrai simpatias. Os acordos de bastidores, os golpes baixos da polémica, a intriga permanente dos lobbies económicos, a venalidade de muitos eleitos e eleitas – tudo isso é moeda corrente na rotina parlamentar, e de tal modo se tornou regra que o povo descrê das excepções, perde sensibilidade para os matizes e faz pagar aos poucos justos como aos muitos pecadores.


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