Tópico: Efeméride

Mulheres espanholas mostram o caminho

Urbano de Campos — 9 Março 2018

8MarçoEspanhaCentenas de protestos e manifestações por toda a Espanha assinalaram o Dia Internacional da Mulher, 8 de Março. Numa iniciativa praticamente inédita (antes, só em 1975 as mulheres islandesas fizeram o mesmo), foi lançada a ideia de uma greve das mulheres em protesto contra a desigualdade de salários e de acesso ao trabalho, contra a violência de que são alvo, por iguais direitos. A adesão foi maciça. Mais de 5 milhões de pessoas paralisaram o trabalho por 24 horas.


No limiar de uma crise histórica

Fred Goldstein (*) — 12 Dezembro 2017

tatlinA discussão de Lenine sobre o efeito do imperialismo na classe operária dos países imperialistas deve ser vista hoje à luz das mudanças entretanto operadas.
O processo da super-exploração imperialista libertou-se de todos os limites geográficos pela revolução científica-tecnológica e pode agora ser praticada onde quer que haja mão de obra disponível. O efeito deste processo na consciência dos trabalhadores é profundo. A exportação de capital era antes usada para forjar um estrato superior na classe operária dos países imperialistas, para amaciar a luta de classes e promover estabilidade social. Com a nova divisão mundial do trabalho, a exportação de capital serve para rebaixar os níveis de vida da classe operária dos países imperialistas, dizimar as camadas superiores dos trabalhadores e de sectores das classes médias, e destruir a garantia de trabalho e os benefícios sociais.


Uma mudança de época

Tom Thomas (*) — 4 Dezembro 2017

RodchenkoO fracasso dos processos revolucionários na ex-URSS e na China, seguido de um rápido retorno ao capitalismo “clássico”, levou alguns ideólogos a proclamar que o capitalismo planetário era o fim da história. A análise da crise actual mostra que é antes a sua história que se aproxima do fim. O capitalismo só pode subsistir, degradando-se, por meios que são catastróficos para as condições de vida dos povos, sem sequer falar da destruição maciça de todas as espécies.
Ao mesmo tempo, as condições materiais para a abolição do capitalismo — portanto, da condição proletária — estão hoje infinitamente mais maduras do que estavam para essas revoluções, inclusive na componente internacional. Senilidade do capitalismo, necessidade vital e possibilidade do comunismo são as características gerais da época presente: uma nova época.


Mudar de Vida, 10 anos

16 Novembro 2017

Completaram-se em Outubro dez anos desde que o jornal Mudar de Vida começou a ser publicado, nos suportes internet e papel. Os seus propósitos, expressos no estatuto editorial, eram ambiciosos. Mas eram os que se impunham a uma publicação que pretende romper com a informação dominante, mesmo considerando a colossal desproporção de forças.
Essa ambição assentava numa base de apoio que permitia acalentar esperança de sucesso, mesmo elementar. Algumas dezenas de activistas vindos de diversas origens discutiram e aprovaram a sua constituição. Vários núcleos de apoio e de distribuição prometiam uma difusão militante com alguma dimensão. Algumas ligações a empresas e a grupos de trabalhadores activos davam possibilidade de contacto com os problemas do trabalho e as lutas concretas.
Dez anos volvidos, muito pouco resta desta estrutura embrionária. A maioria dos colaboradores iniciais afastou-se, os núcleos locais deixaram de existir, as fontes directas de informação secaram.


Olhar para a frente

Manuel Raposo — 7 Novembro 2017

lissitzky_el_2“O principal erro que os revolucionários podem cometer é o de olhar para trás, para as revoluções do passado, quando a vida traz tantos elementos novos que é necessário incorporar na cadeia geral dos acontecimentos.” (Lenine, Abril de 1917)

As abordagens diversas dos 100 anos da revolução soviética (bem como a maioria das evocações desde sempre) falam sobretudo dos feitos de 1917, procurando ver a sua “actualidade” e transpondo-os quanto possível para o presente. É de certo modo uma abordagem cerimonial, que glorifica os acontecimentos e as figuras de então, mas que diz pouco sobre o que seria uma revolução “soviética” no mundo de hoje. Em muitos casos, subentende mesmo a miragem de uma repetição dos acontecimentos, quando as realidades desmentem essa possibilidade a cada passo.


Em memória de Alípio de Freitas

14 Junho 2017

Alipio_flipMorreu Alípio de Freitas. Nos seus 88 anos de vida podem contar-se várias vidas. Nascido em Trás-os-Montes, foi padre. Viajou para o Brasil e empenhou-se, ainda como sacerdote católico, na luta dos pobres. Passou pela URSS e por Cuba. Regressou ao Brasil depois de 1964, já não como padre, e integrou a luta amada contra a ditadura. Foi preso em 1970 e torturado. Após 9 anos de cadeia, foi libertado na condição de apátrida. Rumou a Moçambique para junto dos camponeses pobres. Regressado a Portugal em 1983, participou nas acções populares e nas lutas da esquerda. Integrou, desde 2004, a Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque.
No início deste ano, inúmeros amigos prestaram-lhe homenagem na forma de um livro — “Palavras de Amigos” (*) — com mais de uma centena de depoimentos. Como evocação do lutador incansável, deixamos aos leitores o texto em que Alípio de Freitas, nesse mesmo livro, conta em traços largos a sua própria vida.


A actualidade de José Afonso

Pedro Goulart — 15 Fevereiro 2017

zeca_afonsoJosé Afonso — poeta, compositor, intérprete, resistente antifascista, militante da esquerda revolucionária, homem corajoso e homem solidário — continua hoje, 30 anos após a sua morte, a 23 de Fevereiro, como um forte exemplo, pelo difícil combate político que travou durante décadas da sua vida. Esta figura-chave da música popular portuguesa contribuiu decisivamente, com Os Vampiros, para a fundação do canto político no nosso país. E a sua Grândola Vila Morena permanece como um símbolo do derrube do fascismo em Portugal.


O seu a seu dono

Manuel Raposo — 16 Janeiro 2017

Portugal's former President and PM Soares is seen during an interview with Reuters in LisbonDo enorme esforço de propaganda desenvolvido, até à náusea, nos dias seguintes à morte de Mário Soares ressalta o propósito de criar a imagem de um Soares coerente em todo o seu percurso de vida política — antes e depois de 74 —, sempre do mesmo lado da barricada. É um expediente que convém à direita e ao poder instalado, que por isso o crismam sem problemas de “pai da democracia” e o apresentam como lutador indefectível pela “liberdade”. Soares é de facto um dos pais desta esvaziada democracia e da liberdade sem freio de que desfruta a burguesia pós-abrilista. Mas não mais do que isso.


Operação Condor: “Na história do mundo”

15 Fevereiro 2016

Manuel Contreras e muitos outros agentes das ditaduras sul-americanas foram formados na Escola das Américas, dirigida por militares e pelos serviços secretos norte-americanos. Foi uma academia de instrução militar onde os EUA treinavam militares aliados da América Latina durante a Guerra Fria. O insuspeito congressista Joseph Kennedy II chamou-lhe em 1994 (em todo o caso já depois do fim da ditadura chilena…) “escola de ditadores“, dizendo que “produziu mais ditadores e assassinos que nenhuma outra na história do mundo”.


Operação Condor: “500 anos por pagar”

A Operação Condor (ver artigo ao lado) foi da responsabilidade de Manuel Contreras, general chileno, braço direito de Pinochet. Chefe da polícia política criada pela ditadura militar em 1974, a DINA, concebeu e montou em 1975 a Operação Condor, reunindo Chile, Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Terão sido eliminados 100 mil opositores dos regimes em menos de duas décadas. Com o fim da ditadura chilena, Contreras, acusado de implicação directa em milhares de assassinatos, foi julgado e condenado a 529 anos de cadeia dos quais cumpriu perto de 20. Morreu em 8 de Agosto de 2015. Quando se soube que Contreras estava à beira da morte, houve manifestações nas redes sociais chilenas “rezando” para que ele não morresse, dizendo “Ainda faltam 500 anos por pagar”; ao mesmo tempo, muitos outros chilenos saiam à rua festejando o fim do torcionário.