No limiar de uma crise histórica

Fred Goldstein (*) — 12 Dezembro 2017

tatlinA discussão de Lenine sobre o efeito do imperialismo na classe operária dos países imperialistas deve ser vista hoje à luz das mudanças entretanto operadas.
O processo da super-exploração imperialista libertou-se de todos os limites geográficos pela revolução científica-tecnológica e pode agora ser praticada onde quer que haja mão de obra disponível. O efeito deste processo na consciência dos trabalhadores é profundo. A exportação de capital era antes usada para forjar um estrato superior na classe operária dos países imperialistas, para amaciar a luta de classes e promover estabilidade social. Com a nova divisão mundial do trabalho, a exportação de capital serve para rebaixar os níveis de vida da classe operária dos países imperialistas, dizimar as camadas superiores dos trabalhadores e de sectores das classes médias, e destruir a garantia de trabalho e os benefícios sociais.

Isto vai inevitavelmente minar as bases da estabilidade social. Criará condições para reavivar a guerra de classes nas próprias metrópoles das gigantescas empresas exploradoras. Mais, a expansão mundial da socialização dos processos de trabalho e o crescimento rápido da classe operária internacional torna a solidariedade de classe através das fronteiras contra o imperialismo um imperativo.

Antes da crise económica de 2007, a maioria da classe operária dos EUA tinha já sofrido três décadas de declínio dos salários e benefícios. Nesse período, os trabalhadores travaram uma dura mas perdida batalha contra uma campanha antilaboral implacável, repressiva que começou com a administração Reagan. Conduziram muitas lutas poderosas contra cortes de salários e de benefícios mas foram traídos por uma liderança sindical conservadora, ligada ao Partido Democrático — na verdade ligada à classe dominante. Essa liderança levou a um recuo humilhante.

Mas as condições da crise hão-de ditar a revolta. Os sinais da resistência a partir de baixo vão crescer em frequência e intensidade à medida que a crise se aprofunda, e os trabalhadores e as comunidades estiverem sob pressão ainda maior. Ninguém sabe quando e como a luta vai crescer e alastrar. A única certeza é de que isso acontecerá.

É extremamente importante perceber a natureza profunda da presente crise. Depois de despejar biliões de dólares para estancar a crise, as classes dominantes continuam incapazes de controlar o seu sistema através da intervenção financeira. Estamos nos começos de uma crise histórica.

É importante que todos os que lutam para nos vermos livres do capitalismo reconheçam isto. Se podemos prever acontecimentos tumultuosos e grandes pressões sobre as massas que estão para vir, também podemos prever as oportunidades e os desafios. Temos de imaginar os trabalhadores dos países imperialistas, especialmente no centro do imperialismo mundial, os EUA, não como estavam ontem sob condições de caça às bruxas e reacção, não como estão hoje, nas mãos de líderes sindicais vendidos e políticos capitalistas, mas como estarão amanhã em condições completamente transformadas de um capitalismo em colapso e num beco sem saída.

Mas a consciência de classe revolucionária e a organização revolucionária, ambas necessárias para os trabalhadores e oprimidos conduzirem a sua luta para sair da crise, não aparecem espontaneamente. Revolucionários com consciência de classe, empenhados em ajudar os trabalhadores, têm um papel indispensável a desempenhar no enfrentamento da crise e na preparação de lutas futuras.

A longo termo, a única estrada de verdadeira recuperação da presente crise capitalista, a verdadeira recuperação pela classe operária e pela vasta maioria da humanidade, é libertar-nos todos do capitalismo e reorganizar a sociedade numa base socialista, em que todas as forças de produção e distribuição são operadas pela necessidade humana, em harmonia com a natureza, e não pela ganância e o lucro.

(*) Extractos de O capitalismo num beco sem saída, Fred Goldstein, World View Forum, New York, 2012
Ver https://www.workers.org/


Comentários dos leitores

afonsogonçalves 13/12/2017, 15:13

Este texto tem o mérito de nos apresentar pela 1ª vez a traição das direcções dos sindicatos representativos dos "trabalhadores" e considerá-los um dos maiores obstáculos ao desenvolvimentos revolucionários da sua luta pela libertação face aos opressores. Independentemente do carácter evangélico e bíblico dos seus presságios não vai mais longe. Apesar de tudo é um passo em frente, mas pequeno. O proletariado mundial terá que esperar muito tempo até que tudo seja esclarecido e todos os escolhos bem delineados pelo capital sejam definitivamente desmascarados.

leonel clérigo 14/12/2017, 12:39

DESEJOS e… REALIDADES
Poderemos dizer que o texto de Fred Goldstein é um texto “optimista” assim como eu me ficarei no lado oposto: o “pessimismo” que não quer dizer "derrotismo". Mas e independentemente dos “estados de alma”, uma coisa que se deve pedir aos Marxistas é que não sejam eles os primeiros a “confundir desejos com realidades”. Que venham argumentos para cima da mesa.
O efeito da necessidade do Imperialismo como “expansionismo” ( a “doce” Globalização dos nossos dias) permitiu a um pequeno número de países “centrais” - como dizia Lenine - concretizar a “aliança social-democrata” com o “seu” proletariado (e com seu sector de vanguarda, a classe operária) provocando, no seu interior, uma fractura de dimensão internacional entre o Proletariado desse “centro imperialista” e o das diferentes “Periferias”.
A juntar a isto, o "insipiente" Proletariado das periferias - onde generalizadamente estão ausentes Revoluções Industriais (com igual ausência de classe operária forte e independente), "exclusivos" dos centros imperialistas - está frequentemente amarrado - melhor será dizer dependente - a “Enclaves” multinacionais (do centro) que acabam por ordenar e hierarquizar toda a economia dependente dos “subdesenvolvidos” e ameaçar com a "fuga" mantendo no "cepo" a pressão do desemprego. Portugal, com a “sua” Autoeuropa alemã, merecia um estudo aprofundado se os marxistas - como eu - não fossem tão ignorantes desmontando a "treta manhosa" de ser ela um dos mais importantes" pilares da "economia portuguesa"(?)
Se isto nos diz alguma coisa sobre a “realidade” de hoje, parece-me difícil e como diz Fred Goldstein, “imaginar os trabalhadores dos países imperialistas…não como estavam…não como estão hoje…mas como estarão amanhã em condições completamente transformadas de um capitalismo em colapso e num beco sem saída”. Oxalá! Mas lastimo dizer não ver a coisa tão "objectiva".
Além disso, se é verdade que os aspectos “objectivos” são dominantes face aos “subjectivos” julgo, com as devidas ressalvas da minha ignorância da realidade estadunidense, que a “caça às bruxas” com toque fascista dos muitos McCarthy(s) e a “traição” dos lideres sindicais não foram a “causa profunda” do “desvio” da classe operária e dos trabalhadores dos USA e dos restantes países “centrais” que afinaram pelo mesmo “diapasão”. Essa “causa”(s) parece mais ter a ver com o “enfiar no bolso dos trabalhadores do centro” alguns dos largos “frutos” da exploração imperialista” das periferias.


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