Arquivo: Maio 2008

Uma visita guiada aos infernos

José Mário Branco — 30 Maio 2008

livropide.jpgPara quem viveu durante o regime salazarista, o livro de Irene Pimentel é uma espécie de descida aos infernos. A anatomia de um pesadelo. A autora, aliás, refere-o discretamente na interessante introdução explicativa. O que é, o que pode ser, fazer a história dos pides quando se viveu sob o seu império obscuro e omnipresente, mesmo sendo-se historiador e sabendo manejar as ferramentas da ciência histórica?


Cavaco e os jovens

29 Maio 2008

Afinal, o desinteresse dos jovens pela política, que tanto incomodou Cavaco Silva, era fácil de resolver. Bastou um encontro no Palácio de Belém com uns quantos dirigentes das “jotas” do leque partidário, mais uns escuteiros, para que o PR se mostrasse “confiante quanto ao futuro do sistema democrático”, uma vez que os ditos dirigentes – todos eles, como se calcula, perfeitos representantes da juventude sem trabalho, com empregos precários, excluída das escolas, vivendo em bairros de lata – lhe prometeram contribuir para a “melhoria da qualidade” do sistema político.


Guerra imperialista na internet

José Mário Branco / João Bernardo —

bigbrother_72dpi.jpgEm Abril de 2007 o governo da Estónia decidiu remover para um lugar esconso uma estátua em homenagem aos soldados soviéticos que haviam libertado o país da ocupação nazi, durante a segunda guerra mundial. Argumentava o governo estónio que o exército vermelho conquistara o país em vez de o ter libertado. Esta atitude talvez seja compreensível se soubermos que a Estónia foi o único país da Europa de Leste onde os nazis se comportaram de maneira relativamente moderada.


O futuro bate à porta

João Bernardo —

Na sequência do que foi feito nos dois números anteriores do Mudar de Vida, continuo aqui a divulgar as principais informações contidas num artigo sobre vigilância electrónica publicado em The Economist de 29 de Setembro de 2007.


Desinvestir no ensino público, para favorecer o privado

Catarina Martins — 28 Maio 2008

A Direcção Regional de Educação do Centro (DREC) e a Câmara de Coimbra estão a proceder à transferência de crianças das escolas básicas do 1º ciclo (escolas primárias) para as escolas básicas de 2º e 3º ciclos (EB 2/3, antigos ciclos preparatórios), já no próximo ano lectivo.
Trata-se de uma medida de enorme gravidade, uma vez que aquelas escolas são frequentadas por centenas de alunos (a capacidade é de 600 alunos ) com idades até aos 18/20 anos, e não foram concebidas para crianças dos 6 aos 10 anos.


Contradições?

João Proença é secretário-geral da UGT, organização que diz defender os trabalhadores, mas é também membro da comissão política do PS, partido cujo governo tem dirigido uma forte ofensiva contra quem trabalha, da qual sobressai a legislação laboral (Código do Trabalho) que agora pretende impor na Assembleia da República. Pois bem, João Proença esteve recentemente na reunião da comissão política do PS onde foi dada orientação para votar favoravelmente a referida legislação. E, pasme-se, esteve calado. Será que não é o mesmo João Proença?


“Inadaptação”, alçapão para os despedimentos

António Louçã —

Bem podem os patrões queixar-se de que a montanha pariu um rato e de que todas as promessas de “flexi-segurança” se reduziram à figura jurídica do despedimento por inadaptação a inovações tecnológicas. Representam desse modo aquela rábula sacramental dos descontentes, que não investem porque não lhes dão condições e que fariam desta economia um oásis de prosperidade se em tudo obtivessem satisfação.


Mais trabalho precário com o novo código laboral

Pedro Goulart —

precario1_72dpi.jpgComo se esperava, na linha daquilo que tem sido a política do governo de José Sócrates e na continuidade da orientação resultante do Livro Branco das Relações Laborais, as normas e as alterações ao Código do Trabalho que o PS pretende fazer passar na Assembleia da República são, no essencial, favoráveis aos interesses do patronato e lesivas dos interesses das classes trabalhadoras.


Embaixador dos EUA sai em defesa do governo português

Cristina Meneses — 27 Maio 2008

vooscia_72dpi.jpgUm dia depois de o governo português ter reconhecido a existência de voos de ou para a base de Guantânamo que passaram por Portugal (ate aqui firmemente negados), o embaixador dos EUA saiu em defesa de Sócrates.
Dois anos após a denúncia de voos ilegais da CIA, o governo comunica o que já todos sabíamos mas não explica por que razões os aviões não foram fiscalizados.


De boas intenções…

José Mário Branco — 25 Maio 2008

miseriaportugal_72dpi.jpgCoordenador de um novo estudo intitulado “Um Olhar sobre a Pobreza”, o professor Alfredo Bruto da Costa dá hoje (sexta-feira, 23 de Maio) uma interessante entrevista ao jornal Público, cuja leitura a todos aconselhamos. Trata-se de um repositório dos raciocínios labirínticos em que, acerca desse tema, se vai esfalfando tanta gente bem intencionada, caso do entrevistado. Desde há longa data envolvido na análise da pobreza em Portugal e da sua incidência no tecido social do país, e mesmo da sua denúncia, Bruto da Costa, quando é alvo de perguntas directas do jornalista acerca das razões e origens da pobreza, mostra-se sempre incapaz de assumir as causas que lhe estão na raiz e de mostrar o papel do Estado na (não-) distribuição da riqueza.