Guerra imperialista na internet

José Mário Branco / João Bernardo — 29 Maio 2008

bigbrother_72dpi.jpgEm Abril de 2007 o governo da Estónia decidiu remover para um lugar esconso uma estátua em homenagem aos soldados soviéticos que haviam libertado o país da ocupação nazi, durante a segunda guerra mundial. Argumentava o governo estónio que o exército vermelho conquistara o país em vez de o ter libertado. Esta atitude talvez seja compreensível se soubermos que a Estónia foi o único país da Europa de Leste onde os nazis se comportaram de maneira relativamente moderada.

Alfred Rosenberg, o principal ideólogo do nazismo, nomeado em Abril de 1941 comissário para o Controlo Central das Questões Relativas às Regiões do Leste Europeu e elevado em Julho a ministro dos Territórios Ocupados de Leste, era natural da Estónia e considerava que mais de metade dos seus compatriotas tinha «sangue nórdico» e não estava contaminada pelo «sangue eslavo», tido como sub-humano. Nestas condições não espanta que os nazis tivessem sido bem acolhidos pelas camadas mais reaccionárias da população da Estónia, que pelos vistos ainda hojem sentem saudades daquela época.

A indignação pela remoção da estátua foi grande entre os próprios estónios, gerando manifestações e confrontos de que resultaram um morto e mais de centena e meia de feridos, além de cerca de um milhar de presos. Ao mesmo tempo, os sites governamentais estónios foram alvo de um número tão grande de mensagens de protesto que deixaram de ficar operacionais, enquanto outras acções impossibilitaram a própria internet de funcionar.

Segundo especialistas ocidentais, uma parte destes ataques teria seria conduzida por orientação do governo russo, mas outra parte devera-se a cidadãos comuns espalhados pelo mundo, que haviam ficado indignados com a decisão do governo da Estónia. Foi a primeira vez que acções exteriores paralisaram o funcionamento da internet em todo um país e a NATO ficou muito alarmada, enviando alguns peritos para a Estónia com o objectivo de estudarem o que se estava a passar.

De então em diante, através de artigos de jornal e de conferências, os governos ocidentais começaram a divulgar a ideia de que este tipo de actuações devia ser considerado como uma operação de guerra. Invocando precisamente o que acabara de se passar na Estónia, o general Douglas Lute (nomeado pelo presidente Bush coordenador para a estratégia no Iraque e no Afeganistão e conselheiro nacional adjunto de segurança) declarou à comissão para as Forças Armadas do Senado dos Estados Unidos que «a Al-Qaeda é o principal inimigo dos Estados Unidos no Iraque», um inimigo «que está protegido na internet, uma área intangível onde não tem sido atacado». Por isso, defendeu o general Lute, «é indispensável levar a guerra a esses santuários virtuais e impedir o inimigo de actuar com impunidade».

Ao mesmo tempo, alguns órgãos de informação começaram a afirmar que o governo chinês dispõe de tecnologia apta a imobilizar o funcionamento da internet nos Estados Unidos e, portanto, a impedir que o Pentágono coordene as acções militares em caso de guerra.

Na sequência desta progressão, o Pentágono decidiu dotar-se de uma unidade especializada capaz de destruir subitamente todos os sites da internet dos seus adversários em caso de conflito. A «guerra das redes» (Network Warfare) está dependente da Força Aérea estadunidense e é dirigida pelo general Keith B. Alexander, o patrão da NSA (Agência Nacional de Segurança). A 67ª Brigada de guerra das redes já dispõe de mais de 8 mil homens, comandados pelo coronel Joseph Pridotkas. Um dos seus esquadrões será equipado, até Outubro, com potentes robots com capacidade para destruir milhares de sites de uma só vez. É uma aplicação ao ciberespaço do conceito do «tapete de bombas», referiu o coronel Charles W. Williamson no último número do Armed Forces Journal (segundo o VoltaireNet).


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