Arquivo: Março 2017

A chantagem prossegue

Pedro Goulart — 26 Março 2017

DijsSchaubleQuem já se esqueceu dos avisos, das pressões e das ameaças da Comissão Europeia, do FMI e do Banco Central Europeu que pairaram sobre Portugal durante a elaboração e a execução do OE 2016? E a propósito do OE 2017? As cúpulas da troika nunca digeriram bem a actual solução governativa portuguesa, apesar desta não extravasar o quadro do sistema capitalista. Mesmo agora, depois de conhecido o défice do OE 2016 (2,1% do PIB, abaixo das exigências da UE) e de Portugal ir, consequentemente, sair em breve do “procedimento por défice excessivo”, significativa e ameaçadoramente Wolfgang Schauble acena-nos com eventuais novos resgates e o BCE, de Mário Draghi, defende a aplicação de multas ao nosso país, por “desequilíbrios macroeconómicos”.


Derrotar o ninho de víboras

Fred Goldstein (*) — 20 Março 2017

TrumpO governo Trump prossegue a sua política de ataque às massas trabalhadoras e imigradas. O chefe do Departamento de Segurança Interna, general John Kelly, assinou diversos memorandos que alargam amplamente a definição de imigrantes indocumentados, imediatamente sujeitos a deportação.
Têm sido realizadas detenções aleatórias em todo o país. O medo instala-se nos bairros, desde Long Island a Los Angeles a Chicago e às áreas de fronteira. Os imigrantes têm medo de andar de carro ou de ir até uma loja com receio de serem apanhados pelos agentes da Imigração e da Alfândega. Atravessar a fronteira é agora considerado um crime sujeito a deportação. Isto aplica-se a 11 milhões de pessoas. Além das deportações, há uma escalada de assédio arbitrário que se multiplica por todo o país.


Teodora, sob a capa da “ciência económica”

Pedro Goulart — 16 Março 2017

TeodoraAs declarações de Teodora Cardoso à Rádio Renascença e ao Público sobre o défice orçamental de 2016 (que ficou em 2,1% do PIB), geraram forte polémica. Anteriormente, a economista considerava que atingir a meta proposta pelo governo era uma questão de fé. “Houve milagre?”, perguntaram-lhe agora os jornalistas. “Até certo ponto, houve”, respondeu ela.
Desde Janeiro de 2012 à frente do Conselho de Finanças Públicas, nomeada pelo governo Coelho-Portas, Teodora Cardoso defendeu a linha dos chamados cortes “estruturais”, afirmando que o programa do PSD-CDS era “prudente, credível e fundado na melhor e mais sofisticada ciência económica” e que, por isso, a sua “racionalidade” a levava a saudar essas medidas “científicas”. Nas suas análises e previsões, esteve geralmente com a troika, em companhia da Comissão Europeia, do FMI, da OCDE e do ministro das Finanças alemão Wolfgang Schauble.


Para reeducação

15 Março 2017

Uma agente da CIA, a luso-americana Sabrina de Sousa, foi condenada em 2007 por um tribunal italiano a quatro anos de cadeia por cumplicidade no rapto do imã de Milão Abu Omar. A operação foi planeada e executada pela CIA e pelos Serviços Secretos Militares italianos em Fevereiro de 2003 no âmbito das operações “extraordinárias” ditas de luta contra o terrorismo desencadeadas pela administração Bush. Omar foi enviado para o Egipto e aí torturado a cargo do ditador Hosni Mubarak, a quem os EUA encomendavam tais serviços. Apesar de inocente de quaisquer acusações, Omar só foi libertado em 2007.
Nesse ano, a justiça italiana julgou o caso e condenou os implicados no crime, incluindo os agentes da CIA, mas todos acabaram por ser perdoados, por intervenção das autoridades dos EUA. Restava Sabrina.


Pivot

14 Março 2017

Depois de ter sido posto fora do governo do seu amigo Passos Coelho por indecência e má figura, Miguel Relvas adoptou um perfil discreto: dedica-se na mesma a negócios chorudos mas sem estardalhaço. Recentemente, reforçou para 32% a sua carteira de acções da empresa Pivot, a qual é detida nos restantes dois terços por uma tal Aethel. A Pivot comprou em 2015, por 38 milhões de euros, a Efisa (um dos ramos do falido BPN) em que o Estado enterrou 77,5 milhões. Quem se movimenta também pela Pivot é o amigo Dias Loureiro, responsável pelo desfalque no BPN.
Acontece que a Aethel fez uma proposta para aquisição do Novo Banco, pelo que Relvas e Loureiro, esses dois modelos de seriedade, podem em princípio deitar a mão, com papel de relevo, a uma fatia importante da finança lusa.
O caminho, porém, parece estar difícil.


Capital a salto

13 Março 2017

Do que já foi revelado sobre os 10 mil milhões de euros que saíram do país a salto, é possível perceber umas quantas coisas.
Uma, tratou-se de um encobrimento e não de um lapso. Duas, a decisão envolve o governo de cima a baixo. Três, o propósito foi esconder uma fuga programada e regular de capitais. Quatro, essa fuga atingiu em média mais de 4 mil milhões por ano entre 2010 e 2014 e saltou para 9 mil milhões em 2015, quando em 2009 ficara pelos 800 mil. Cinco, a concentração de riqueza que isto revela dá-se justamente nos anos mais duros da chamada “austeridade”. Seis, a “disciplina orçamental” destinava-se a produzir uma acumulação de capital em poucas mãos. Sete, para que o processo funcionasse, era preciso facilitar não só a acumulação mas também a fuga dos capitais para zonas seguras ou de mais rendimento. Oito, não convinha, pois, que se ficasse a saber que uma tal concentração de riqueza em poucas mãos era o directo reverso da penúria a que a maioria do povo foi forçado.


O caminho para o impeachment de Trump

António Louçã — 6 Março 2017

NoTrumpAo longo do último século, a história das presidências norte-americanas foi uma ininterrupta passerelle de vilões, cínicos, perversos, tarados, sanguinários, gananciosos ou mentecaptos. Houve entre os inquilinos da Casa Branca quem tivesse alguns destes atributos e houve quem os tivesse todos. Mas é verdade que Donald Trump está para além destas características comuns ou recorrentes das várias presidências.
O novo presidente dos EUA já foi comparado com Nixon pela sua paranóia obsessiva, com Reagan pela sua estupidez ortorrômbica, com Bush filho pela sua ignorância esparvoada. Também se esboçaram comparações com Truman, no que respeita à apetência pelo gatilho nuclear, com Kennedy ou Clinton no que respeita à indiscreta voracidade sexual e, no seu caso, a um exibicionismo verdadeiramente fanfarrão.


Enquanto os trabalhadores apertavam o cinto

Carlos Completo — 1 Março 2017

VGasparMLAlbuqEntre 2011 e 2014 saíram de Portugal para vários offshores mais 10 mil milhões de euros do que tinha sido inicialmente apurado, num total de 17 mil milhões, que terão escapado a qualquer controlo da Autoridade Tributária (AT). E, de acordo com um requerimento do PS, visando um esclarecimento da situação, “durante os mandatos dos ex-ministros das Finanças Vítor Gaspar e Maria Luís Albuquerque e do ex-secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Paulo Núncio, ficaram por tratar cerca de 20 declarações de instituições financeiras”, envolvendo diversas empresas e pessoas, que representavam mais de 9800 milhões de euros. Com um significativo pico das transferências financeiras efectuadas para offshores na proximidade das eleições legislativas de 2015, que previsivelmente iriam derrubar o odioso governo do PSD/CDS.