Derrotar o ninho de víboras
EUA aumentam gastos militares à custa das verbas sociais
Fred Goldstein (*) — 20 Março 2017
O governo Trump prossegue a sua política de ataque às massas trabalhadoras e imigradas. O chefe do Departamento de Segurança Interna, general John Kelly, assinou diversos memorandos que alargam amplamente a definição de imigrantes indocumentados, imediatamente sujeitos a deportação.
Têm sido realizadas detenções aleatórias em todo o país. O medo instala-se nos bairros, desde Long Island a Los Angeles a Chicago e às áreas de fronteira. Os imigrantes têm medo de andar de carro ou de ir até uma loja com receio de serem apanhados pelos agentes da Imigração e da Alfândega. Atravessar a fronteira é agora considerado um crime sujeito a deportação. Isto aplica-se a 11 milhões de pessoas. Além das deportações, há uma escalada de assédio arbitrário que se multiplica por todo o país.
Enquanto isso, Trump anunciou numa sessão conjunta do Congresso em 28 de Fevereiro o orçamento Trump/Bannon. Stephen Bannon é um ultra-direitista e o principal conselheiro do presidente.
O orçamento reclama um aumento de 54 mil milhões de dólares para gastos militares (que hoje está oficialmente em 584 mil milhões) para o próximo ano fiscal. O aumento proposto é assim de 9,2% — e isto exclui o Departamento de Energia, que supervisiona as armas nucleares.
De acordo com a imprensa, Trump já havia dito que iria expandir o Exército dos seus actuais 480.000 soldados no activo para 540.000, aumentar o Corpo de Fuzileiros Navais de 23 para 36 batalhões (até mais 10.000 fuzileiros), ampliar a Marinha de 276 para 350 navios e submarinos, e elevar o número de aeronaves tácticas da Força Aérea de 1.100 para 1.200. Ao mesmo tempo, tem falado repetidamente sobre o aumento do arsenal nuclear dos EUA.
Funcionários familiarizados com a proposta revelam que o pedido de Trump para o Pentágono é feito também na perspectiva de criar “uma presença mais robusta em importantes vias navegáveis internacionais e pontos de estrangulamento”, como o Estreito de Ormuz e o Mar da China Meridional.
O impulso para expandir as forças armadas ao longo das costas da China e do Irão resulta da concepção de Bannon de que haverá guerras no Médio Oriente e no mar do sul da China dentro de 10 anos.
Washington já tem o maior orçamento militar mundo, muitas vezes superior ao de qualquer outro país. Além disso, não está agora envolvida em grandes guerras de carácter convencional. Só se pode admitir que este orçamento militar é a preparação para futuras grandes aventuras militares.
A expansão do orçamento militar também é um recurso para a criação de empregos, uma promessa que Trump tem repetido desde que a sua campanha começou. A guerra de alta tecnologia, sendo de tecnologia intensiva, não produz muitos empregos. Mas a preparação de Trump para a guerra convencional, no terreno, no ar e no mar, faz parte do seu programa de criação de emprego. Com isto, ele tenta também obter o apoio político do complexo militar-industrial, tanto entre os oficiais superiores como entre as corporações.
“Desmontar o estado administrativo” é a frase que Bannon usa para descrever a intenção de varrer todas as protecções institucionais das massas populares, do ambiente, das mulheres, dos imigrantes, das pessoas de cor, dos pobres e de todos os que são vítimas do funcionamento do capitalismo e da política capitalista.
Os regulamentos, sejam eles quais forem, que atenuam a agressão do capital contra o povo, ou que institucionalizam os ganhos obtidos na luta, dependem na maioria dos casos de instituições reguladoras. Um olhar sobre as nomeações feitas por Trump para essas instituições domésticas mostra que ele e Bannon querem pulverizar todas as protecções que existem para a sociedade como um todo.
Para pagar o aumento de 54 mil milhões em gastos militares, a compensação virá de cortes profundos nos orçamentos do Departamento de Estado e de todas as agências reguladoras domésticas. É por isso que o governo Trump escolhe para a Educação, a Agência de Protecção Ambiental, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, o Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, etc., as pessoas que querem destruir as missões fundamentais que esses departamentos deveriam levar a cabo.
Trump e Bannon têm de ser parados. E devem ser parados pelas massas mobilizadas nas comunidades, nos sindicatos, nos campus, nas fábricas e nos locais de trabalho. Um movimento unido de trabalhadores organizados e de populações oprimidas actuando militantemente pode barrar os planos dessa camarilha reaccionária.
(*) Adaptação de um artigo publicado em Workers World