A chantagem prossegue

Pedro Goulart — 26 Março 2017

DijsSchaubleQuem já se esqueceu dos avisos, das pressões e das ameaças da Comissão Europeia, do FMI e do Banco Central Europeu que pairaram sobre Portugal durante a elaboração e a execução do OE 2016? E a propósito do OE 2017? As cúpulas da troika nunca digeriram bem a actual solução governativa portuguesa, apesar desta não extravasar o quadro do sistema capitalista. Mesmo agora, depois de conhecido o défice do OE 2016 (2,1% do PIB, abaixo das exigências da UE) e de Portugal ir, consequentemente, sair em breve do “procedimento por défice excessivo”, significativa e ameaçadoramente Wolfgang Schauble acena-nos com eventuais novos resgates e o BCE, de Mário Draghi, defende a aplicação de multas ao nosso país, por “desequilíbrios macroeconómicos”.

Na mesma linha de actuação enquadra-se a recente entrevista do ministro das Finanças holandês e presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine, em que afirma que os europeus do Sul gastam o dinheiro “em copos e mulheres” e depois vão pedir ajuda. Jeroen Dijsselbloem tem-se mostrado useiro e vezeiro neste tipo de pressões, mas , neste momento, a expressão javarda deve ser entendida também como uma tentativa desesperada de não perder o tacho, após a estrondosa derrota do seu partido (dito trabalhista) que, nas últimas eleições holandesas, passou de 38 para 9 deputados. Assim, a inflamada declaração de Dijsselbloem pretendeu, também, chamar a atenção de Schauble para que este lhe defenda o tacho na Comissão Europeia.

A “solução” da União Europeia para a agudização da crise capitalista mundial, que se verificou a partir de 2008, veio a traduzir-se em maior austeridade, na diminuição dos direitos laborais, sociais e democráticos dos povos e em maior desemprego. São muitos os sinais de que esta União Europeia não é reformável e que, tal como o capitalismo, está condenada ao fracasso. Apesar da crescente exploração das classes trabalhadoras, a crise capitalista aprofunda-se a nível europeu e agravam-se as contradições entre o centro (capitaneado pela Alemanha) e a periferia, onde se encontra Portugal. Os dirigentes da burguesia imperialista europeia estão desorientados e não sabem como melhor prosseguir nos seus objectivos de acumulação de capital e de centralização do poder económico e político. Daí que se torne mais nítida a visão autoritária, agressiva e militarista dos governantes da União Europeia, tentando aguentar pelo maior tempo possível este sistema explorador e repressivo. Cabe aos trabalhadores, aos povos e aos revolucionários não lhes facilitar a tarefa.


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