Arquivo: Abril 2012

Vós, não nós

30 Abril 2012

Em recente entrevista à revista brasileira Veja, Passos Coelho procurou justificar a sua política de austeridade. Declarou que “os desequilíbrios existentes em Portugal são resultado de más decisões tomadas por nós mesmos”. Acrescentou que “usámos mal o dinheiro, seleccionámos mal os projectos de obras públicas, aumentámos os impostos, não abrimos a economia”. E, venerador, sentenciou que “os líderes europeus não agravaram os nossos problemas, pelo contrário, ajudaram-nos”.


Proença ameaça

23 Abril 2012

João Proença descobriu agora que o governo faz gato-sapato do acordo assinado com a UGT na chamada Concertação Social e ameaça rasgar o papel. Claro que não o vai fazer. O governo vai dar-lhe mais umas palmadinhas nas costas e Proença voltará a dizer que obrigou o governo a recuar. Até à próxima.


Plutocracia

38 anos depois do 25 de Abril, o retrocesso na vida dos trabalhadores portugueses é evidente. Em 74-75, apesar do regresso maciço de militares e civis, o desemprego não passou dos 5%; hoje está nos 15%. O mesmo com os salários: a forte subida de 74-75, que chegou a atingir 7% e 15%, foi brutalmente contrariada nos anos seguintes com duas intervenções do FMI; e nos últimos anos caíram a pique, sob a acção devastadora dos PEC e da troika. A parte do trabalho na repartição da riqueza subiu em 74-75 a mais de dois terços; hoje é menos de metade.
Tudo obedeceu a uma regra simples: quando a luta de massas esteve em alta, os trabalhadores ganharam vantagem; quando enfraqueceu, ganhou o capital.


O cretinismo constitucional da direita

António Louçã — 19 Abril 2012

Até aqui, era da esquerda que mais vezes vinham exigências de cumprimento da Constituição. Para quem joga à defesa, justifica-se lançar mão de todos os recursos, mesmo daqueles que só por si não garantem especial eficácia. Além de se denunciar as constantes violações da Constituição, com inteira legitimidade, fazia-se da luta contra as revisões constitucionais um verdadeiro cavalo de batalha.


O teu nome é caridade

18 Abril 2012

A letra e o sentido do hino do Movimento Zero Desperdício, lançado “com o alto
patrocínio da Presidência da República” e que pretende “aproveitar os incontáveis
desperdícios de bens, produtos e recursos existentes, um pouco por todo o País”, são
deploráveis. Respeitando os sentimentos de quem sinceramente se empenha na luta
contra a fome, consideramos hipócrita o patrocínio de Cavaco Silva, alguém altamente responsável pela miséria do País. Alguns músicos alinham ingenuamente, outros praticam a caridadezinha. Contudo, em relação a vários, lamentamos que tenham dado cobertura a uma operação que escamoteia a verdadeira razão da pobreza e da fome – o capitalismo.


Paulo Macedo em conflito com a estatística

Pedro Goulart — 15 Abril 2012

Na ofensiva conduzida nos últimos anos pelo grande capital contra as classes trabalhadoras e o povo destaca-se o fortíssimo ataque ao sector da saúde, com cada um dos partidos do chamado arco governativo – PS, PSD e CDS – a procurar destacar-se como o mais eficiente na gestão desta política. Encerramento de urgências, aumento das taxas moderadoras, diminuição na comparticipação de medicamentos, tais algumas das malfeitorias postas em prática por sucessivos governos do capital. O actual governo, por vezes atabalhoadamente, onde a incompetência e a má fé andam de braço dado, tem procurado ir aqui bastante mais longe do que os seus antecessores. E o previsto encerramento, sob pretexto de racionalização, da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa, poderá vir a traduzir-se em mais uma das malfeitorias deste governo.


A mentira como arma

Manuel Raposo — 11 Abril 2012

Por declarações contraditórias entre membros do governo, ficámos a saber que os cortes nos subsídios de férias e de Natal se prolongarão, pelo menos, por mais um ano, e que, se forem restituídos, será “gradualmente” – contra o que sempre tinha sido dito por todos eles. A justificação dada pelo ministro das Finanças, apenas depois de ter sido apertado com as suas próprias declarações anteriores, foi a de que se tratou de “um lapso”. O que resta desta história mal contada é que todos os “lapsos” serão postos a uso pelo governo para prolongar e para agravar as medidas que penalizam o trabalho.


Ao serviço dos “mercados”

Numa entrevista à RTP, em Maputo, Passos Coelho disse que a decisão de só repor parte dos subsídios de férias e Natal em 2015, se destina a dar boa imagem do país junto dos credores internacionais. Em 2013, sublinhou, “precisamos de uma preparação bem sucedida para regressar aos mercados”, pelo que repor os subsídios antes daquela data “poderia ser uma imagem precipitada que Portugal correria o risco de oferecer aos seus parceiros europeus e ao FMI”. Confirmou assim que o “regresso aos mercados” é sinónimo de arrasar os salários. As vigarices de Passos Coelho desmontam a sua fachada de “governante responsável” e revelam-no como mais um simples servidor do capital português e do imperialismo.


“Levar os traidores do povo ao pelourinho”

ALR / MR / PG — 9 Abril 2012

Um reformado grego de 77 anos, Dimitris Christoulas, antigo farmacêutico, suicidou-se no dia 4 de Abril com um tiro na cabeça, na Praça Sintagma, no centro de Atenas, frente ao parlamento, para onde habitualmente convergem as manifestações de protesto da população grega. Deixou um bilhete explicando porque punha fim à vida, no qual culpava o governo e as medidas de empobrecimento impostas ao povo grego.


Greve geral no Estado espanhol e demarcações políticas

Carlos Completo — 4 Abril 2012

Em 29 de Março, o Estado espanhol foi confrontado com uma greve geral que abrangeu perto de 10 milhões de trabalhadores. Além das paralisações houve ocupações. Foi ampla a participação de trabalhadores e de militantes anticapitalistas nos piquetes de greve. As principais centrais sindicais, CCOO e UGT, assim como a CNT, a CGT e a LAB, estiveram profundamente envolvidas nas lutas. As fábricas de automóveis, o sector dos transportes (incluindo os transportes aéreos), portos, centros de abastecimento na Andaluzia e Catalunha, sectores químico, mineiro, têxtil e postal, recolha de lixo e mesmo os média do sistema, foram os sectores mais afectados pelas paralisações. Num país com mais de 5 milhões de desempregados e com uma brutal reforma laboral agora imposta pelo patronato e pelo governo de Mariano Rajoy, é natural que cresça o descontentamento e a luta das classes trabalhadoras e do povo contra tais políticas.