“Levar os traidores do povo ao pelourinho”

ALR / MR / PG — 9 Abril 2012

Um reformado grego de 77 anos, Dimitris Christoulas, antigo farmacêutico, suicidou-se no dia 4 de Abril com um tiro na cabeça, na Praça Sintagma, no centro de Atenas, frente ao parlamento, para onde habitualmente convergem as manifestações de protesto da população grega. Deixou um bilhete explicando porque punha fim à vida, no qual culpava o governo e as medidas de empobrecimento impostas ao povo grego.

Milhares de manifestantes concentraram-se pouco depois no local prestando homenagem a Dimitris Christoulas, e deixando mensagens pregadas nas árvores em que se podiam ler frases como “Basta!” ou “Quem vai ser a próxima vítima?”. Também em Salónica houve concentrações de solidariedade. E os “Motoristas indignados” fizeram um protesto em caravana automóvel.

O sucedido não é caso isolado na sociedade grega de hoje. Desde que a crise se desencadeou em 2009, e que as sucessivas medidas ditas de “austeridade” reduzem os trabalhadores gregos à miséria, o número de suicídios aumentou em flecha. Segundo as fontes, este aumento pode ir de 20% a 100%. No primeiro semestre de 2011 o número de suicídios terá sido 40% superior ao do mesmo período do ano anterior. O facto é tanto mais de assinalar se for tido em conta que a taxa de suicídios na Grécia correspondia, antes da crise e das medidas de penalização, a um terço da média da União Europeia.

O incómodo político das autoridades gregas fez-se sentir em diversas declarações, todas elas tentando, hipocritamente, desligar o facto da situação de austeridade sofrida pela população – e assim absolvendo a acção governamental.

De acordo com a imprensa, o primeiro-ministro Lucas Papademos manifestou os seus pêsames mas acrescentou que não se deveria fazer do caso um debate nacional. No mesmo tom, um porta-voz do governo, interrogado numa conferência de imprensa, considerou que “o caso não se presta para debate político” e que era preciso reagir “com sangue-frio” (!). Também uma fonte policial deu a sua ajuda para “desdramatizar” o assunto insinuando que Dimitris Christoulas estaria doente de cancro…

A todo este cinismo, a carta deixada por Dimitris Christoulas responde de forma cortante, apontando o dedo ao poder do capital e à austeridade que empobrece e tira dignidade à vida dos gregos. De acordo com uma versão posta a circular, a carta dizia o seguinte:

“O governo de ocupação de Tsolakoglou (*), aniquilou literalmente todos os meus meios de subsistência, que constavam de uma reforma honrada pela qual me cotizei durante 35 anos, sem nenhuma ajuda do Estado.
Dado que na minha idade já não tenho forças para levar a cabo uma acção pessoal mais activa (mesmo não excluindo que se um grego pegasse numa kalashnikov eu não ficaria para trás), não encontro outro meio de actuar que não seja uma morte digna, antes de ter de começar a vasculhar os caixotes de lixo para arranjar comida. Acho que um dia os jovens sem futuro pegarão em armas e levarão os traidores do povo ao pelourinho, na Praça Sintagma, como os italianos fizeram em 1945 a Mussolini na Praça Loreto, em Milão.”

(* ) Tsolakoglou foi o primeiro-ministro grego sob a ocupação alemã, nomeado pelos nazis. O seu nome tornou-se sinónimo de colaboracionista e é largamente usado para designar o governo actual.


Comentários dos leitores

A. Poeiras 11/4/2012, 9:51

dia 14 realiza-se n'A Barraca, em Santos, às 15 horas, um debate sobre o SNS organizado pela Plataforma Cidadã de Resistência à Destruição do SNS. A Plataforma não tem qualquer ligação institucional ou partidária. Serão oradores, Eugénio Rosa (economista), Eduardo Marques (médico) e José Preto (advogado).


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