Greve geral no Estado espanhol e demarcações políticas

Carlos Completo — 4 Abril 2012

Em 29 de Março, o Estado espanhol foi confrontado com uma greve geral que abrangeu perto de 10 milhões de trabalhadores. Além das paralisações houve ocupações. Foi ampla a participação de trabalhadores e de militantes anticapitalistas nos piquetes de greve. As principais centrais sindicais, CCOO e UGT, assim como a CNT, a CGT e a LAB, estiveram profundamente envolvidas nas lutas. As fábricas de automóveis, o sector dos transportes (incluindo os transportes aéreos), portos, centros de abastecimento na Andaluzia e Catalunha, sectores químico, mineiro, têxtil e postal, recolha de lixo e mesmo os média do sistema, foram os sectores mais afectados pelas paralisações. Num país com mais de 5 milhões de desempregados e com uma brutal reforma laboral agora imposta pelo patronato e pelo governo de Mariano Rajoy, é natural que cresça o descontentamento e a luta das classes trabalhadoras e do povo contra tais políticas.

Nas ruas manifestaram-se muitas centenas de milhares de trabalhadores, indignados, precários e estudantes, nas 111 manifestações que decorreram nas principais cidades, nomeadamente em Madrid, Barcelona, Valência, Saragoça, Toledo, Salamanca, Bilbau e Corunha. Só em Madrid e Barcelona terão participado perto de 400 mil pessoas.
Na capital da Catalunha, as batalhas de rua foram particularmente duras, tendo-se verificado aqui quase metade das cerca de 200 detenções efectuadas e um número de feridos elevado, entre manifestantes e polícias.

Eu demarco-me, tu demarcas-te…

Apesar de protestos variados, por vezes radicais, não nos chegam notícias referentes a demarcações de dirigentes sindicais em relação aos que optaram por outras formas de luta ou, simplesmente, aos que decidiram resistir com violência à violência exercida pelas forças repressivas. Não vimos demarcações em relação à maior dureza da luta na Catalunha ou às ocupações de empresas e universidades.
Em Portugal, contudo, há quem persista com tal tipo de demarcações.

Quando, a propósito dos défices e das dívidas de vários países, ouvimos durante mais de dois anos os governos da burguesia e a direita portuguesa demarcarem-se insistentemente da Grécia, não querendo qualquer comparação com ela, muitos de nós, à esquerda, demarcámo-nos dessas demarcações e declarámos a nossa solidariedade com os trabalhadores e o povo grego.

Agora, com as greves e manifestações do dia 22, em Portugal, houve quem cedo se
demarcasse dos explorados – a UGT – boicotando a greve, e houve quem tenha sido mais rápido a demarcar-se dos trabalhadores e indignados que protestaram no Chiado, em Lisboa, do que a demarcar-se da polícia que espancou e prendeu quem protestava. Em relação a isto, segundo a Agência Lusa, Arménio Carlos terá afirmado que a manifestação convocada pela Plataforma 15 de Outubro constituiu “uma manobra para tentar associar a luta dos trabalhadores em Portugal àquilo que se tem passado na Grécia e, mais uma vez, estamos a ser confrontados com uma desinformação orquestrada, porque na Grécia o que aconteceu não tem nada a ver com a luta dos trabalhadores ou do movimento sindical grego, foram sempre iniciativas organizadas por outras entidades, nalguns casos com infiltrados da polícia, para denegrirem a luta dos trabalhadores”.

Compreendemos que os governos da direita e a sua gente nos média se demarquem da Grécia ou façam a defesa dos seus polícias de serviço. Contudo, não consideramos aceitável que Arménio Carlos desfira este ataque hipócrita e sectário ao povo grego ou se cale perante as selváticas intervenções da polícia no Chiado, dando cobertura às forças repressivas do capital.


Comentários dos leitores

A. Poeiras 11/4/2012, 9:46

infelizmente, das bandas do PC e dos seus sindicalistas nada de novo. Para quem não se submete à orientação do partido, o Gulag.


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