Tópico: Mundo

Marrocos: de novo a revolta árabe

Manuel Raposo — 10 Novembro 2016

MarrocosÀ vista das manifestações de rua realizadas em Marrocos há dias, no final de Outubro, as declarações sucessivas de que a Primavera Árabe de 2011 estaria morta mostram-se prematuras. Uma onda de revolta abalou as principais cidades marroquinas depois de um vendedor de peixe de 30 anos, Mouhcine Fikri, ter morrido de forma bárbara, em Al-Hoceima, no norte do país. Abordado pela polícia, Fikri teve a mercadoria apreendida e acabou por morrer esmagado dentro do camião de lixo chamado para recolher o peixe confiscado. Milhares de pessoas saíram às ruas logo no dia 28, dia da morte, e até 30, altura do funeral — não apenas em Al-Hoceima, mas também em Tetuão, Casablanca, Marraquexe e na capital Rabat.


De encomenda

2 Novembro 2016

A jornalista Sofia Lorena, falando da guerra na Síria, opinou no Público (21 Setembro) contra o presidente Assad como quem satisfaz uma encomenda. Quando a própria ONU manifestava dúvidas sobre quem teria bombardeado um comboio humanitário perto de Alepo, causando 20 mortos (facto noticiado na página ao lado do texto de Lorena), a jornalista acusa Assad sem rebuço porque ele “sabe que ninguém lhe toca”. Já o ataque dos EUA às tropas sírias, dias antes, causando 90 mortos, foi para ela obviamente um engano, porque os EUA assim o disseram. O dislate vai ao ponto de acusar Assad de se “preparar para reconquistar toda a Síria” — o país de que ele é presidente legítimo! Sabe Lorena o que é o Direito Internacional? Sabe que as acções militares dos EUA na Síria são ilegais face à Carta das Nações Unidas?


Pagar serviços, cobrar dividendos

Urbano de Campos — 5 Outubro 2016

DENMARK-EU-SPAIN-BARROSODos muitos que se indignaram com a ida de Durão Barroso para o Goldman Sachs International, nenhum se interrogou porque é que ele, doze anos antes, em 2004, foi parar a presidente da Comissão Europeia, logo a seguir à cimeira dos Açores e à invasão do Iraque. Aí estará uma chave para perceber a ascensão à liderança europeia deste tipo medíocre e maleável, numa altura em que a França e a Alemanha e muitos outros países da União Europeia se opunham à pressão belicista dos EUA e de Bush.
A política da União Europeia sobre o Médio Oriente, o Leste europeu, e mesmo a África do Norte e Central, etc. mudou desde 2004, no sentido de uma muito maior afinidade com os interesses norte-americanos. Não foi Durão Barroso que operou tal mudança. Mas, para os EUA, ter um agente amigo encastoado num dos organismos de topo da UE foi certamente uma boa ajuda.


Direita, esquerda regimental, esquerda

Manuel Raposo — 10 Setembro 2016

TerrenoExpropriadoPor mais que as forças nacionalistas da direita exaltem as virtudes nacionais, e advoguem o regresso à “soberania” e às tradições, não podem fazer voltar atrás a fusão capitalista que esteve e está no âmago da União Europeia, e que lhe forma hoje a ossatura. O resultado objectivo da campanha dessas forças será, então, colocar num outro patamar, atrás do biombo das fronteiras nacionais, a mesma caminhada inexorável para a concentração de capital — simplesmente pondo de lado, cada vez mais, preconceitos democráticos e de justiça social, tornados empecilhos ao poder das classes dominantes.


O papel das classes médias

Manuel Raposo — 30 Agosto 2016

bandeiranacional_reduzO que está no centro dos nacionalismos, de direita ou “de esquerda”? — a mobilização das classes médias. A concentração do capital na Europa, sobretudo desde que passou a fazer-se num ambiente de crise mundial, alienou as classes médias, afastando parte delas da sua aliança natural com a burguesia capitalista. Isso está bem sinalizado na perda de apoio dos tradicionais partidos do centro.


Crise em cima da crise

Manuel Raposo — 23 Agosto 2016

A street vendor sits in front a wall that reads "That the crisis pay the rich", in downtown SantiagoO rebentar de uma segunda crise financeira, em cima da de 2007-2008, que praticamente ninguém já descarta, parece ser apenas uma questão de tempo. Os remédios aplicados por toda a parte (EUA, UE, Japão) mostraram-se ineficazes para o objectivo pretendido: relançar o crescimento económico, ou seja a acumulação de capital. A estagnação é geral, vai para uma década. De novo, é a partir dos grandes potentados, como a banca alemã, que o abalo ameaça propagar-se.


A imagem do desconcerto

Manuel Raposo — 17 Agosto 2016

Conservative Party Autumn Conference 2015 - Day 3Praticamente no dia a seguir ao desenlace do referendo, as convicções britânicas tremeram. A demissão em série de praticamente todo corpo de dirigentes políticos — sem surpresa do lado dos derrotados, com surpresa do lado dos vencedores — mostra que ninguém parece querer assumir a tarefa de negociar os termos da saída e de arcar depois com as consequências.


Mais EUA nas ilhas britânicas

Manuel Raposo — 12 Agosto 2016

ObamaCameronA “recuperação da independência” de que a direita britânica se vangloria (e de que boa parte da pequena burguesia fez sua bandeira) é uma farsa que rapidamente se vai desfazer. A dependência face à UE que a maioria dos eleitores britânicos quiseram recusar, vão tê-la em dose dupla no que respeita aos laços com os EUA.

Pela economia e pela política, o Reino Unido sempre teve relações especiais com os EUA. A sua entrada para a UE em 1974 serviu não apenas os interesses do capital britânico mas também o interesse norte-americano em ter um agente especial no seio do bloco europeu em formação.


Mais Alemanha na Europa

Manuel Raposo — 9 Agosto 2016

MerkelHollandeNo imediato, a saída do Reino Unido é um percalço para a UE. Sobretudo para a Alemanha, na medida em que ela é o centro, o líder e o beneficiário principal do “projecto europeu”. Mas não estamos necessariamente perante uma derrota do grande capital europeu, que se fundiu de modo irremediável — e que por isso mesmo tentou evitar o abalo previsível defendendo de forma activa a permanência, como se viu na campanha do grande capital britânico, nomeadamente do capital financeiro da City. O verdadeiro problema na agenda da grande burguesia europeia parece ser como contornar os efeitos da votação da pequena burguesia britânica.


Bandeiras em farrapos, ‘bárbaros’ à porta

Manuel Raposo — 4 Agosto 2016

RefugiadosPaz, democratização, prosperidade — eis os slogans, tão enaltecidos desde o referendo no Reino Unido, que promovem o “projecto europeu”. A indignação evidenciada pelos europeístas pretende mostrar que os eleitores britânicos deram uma facada nas costas ao melhor dos mundos. Mas o que a realidade mostra é o exacto contrário desse melhor dos mundos.


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