Tópico: Economia

O mistério do desemprego

10 Maio 2015

Na conversa do poder, o desemprego tem sempre ar de mistério. Tudo na economia parece caminhar no bom sentido, até já há crescimento, diz o governo, mas estranhamente o desemprego não baixa. O mistério desfaz-se se atendermos a duas ou três verdades que o mundo capitalista não pode ver nem aceitar.

Uma, é que a actual crise resulta de uma produção superabundante para a qual não há mercado, em larga parte porque a massa dos assalariados não tem suficiente capacidade de compra — uns por terem sido despedidos, outros por verem os salários reduzidos. Logo, não é o aumento da produção em moldes capitalistas que resolve o problema.


Preços de monopólio

24 Abril 2015

A Galp foi multada em Portugal em 9 milhões de euros (e depois em Espanha em 800 mil euros) por “práticas anticoncorrenciais”, ou seja, por concertar preços em prejuízo dos consumidores. As consequências deste procedimento, resultante de um domínio do mercado de tipo monopolista, não se verificam apenas nos combustíveis automóveis, mas também no gás de consumo doméstico. Foi aliás na comercialização do gás de garrafa que a fraude se verificou no nosso país. Assim, enquanto a Galp distribui dividendos milionários aos seus accionistas — o principal dos quais é o grupo de Américo Amorim, com quase 40% das acções — os portugueses mais pobres cortam no consumo e passam frio para “não viverem acima das suas posses”.


Intocáveis

19 Novembro 2014

Nos primeiros seis meses do ano o Estado pagou às PPP mais de 690 milhões de euros, tanto como vai cortar na Educação em 2015. A despesa aumentou 26% no segundo trimestre, apesar de as receitas com portagens rodoviárias terem subido em 12%. Para o governo, todos os contratos de trabalho ou pensões são revogáveis; os das PPP são intocáveis.


O caso BES e as regulações

Pedro Goulart — 20 Setembro 2014

BdPApós o enorme e ainda bem presente escândalo do Banco Português de Negócios (BPN), em 2008, envolvendo crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais, e que implicaram numerosas figuras do PSD, como Cavaco Silva, Dias Loureiro e Oliveira e Costa, muita gente julgava que os problemas com a regulação e supervisão dos bancos já estariam ultrapassados. Puro engano. Aos milhares de milhões de euros gastos com o BPN vêm agora somar-se aqueles milhões que o Banco Espírito Santo (BES) certamente nos irá custar.


O “flagelo”

22 Julho 2014

Muita boa gente se tem mostrado condoída com a má sorte dos desempregados.
Depois de em 2012 ter dito que o desemprego era “uma oportunidade para mudar de vida”, Passos Coelho veio agora, com dois anos de governação sua em cima, verter lágrimas por um mal “insuportavelmente elevado”. O Papa falou em “flagelo” e na “perda de dignidade humana” em visita a uma região pobre de Itália. E Felipe VI, no seu passeio por Lisboa, proclamou o combate ao desemprego “um desafio ibérico”.

“Flagelo” é a expressão que melhor define o discurso do poder sobre o desemprego: um mal de ressonâncias bíblicas, sem sinal de origem nem remédio humano. A versão terrena do desemprego é outra: em fase de crise dos negócios, os patrões despedem trabalhadores, fecham empresas, retiram capital das funções produtivas, reduzem em cadeia toda a actividade económica.


Saúde, educação e segurança social em causa

Carlos Completo — 7 Julho 2014

EU-US-tradeA WikiLeaks divulgou há dias um comunicado de imprensa sobre reuniões preparatórias e secretas que se têm realizado em Genebra (e que os seus organizadores pretendiam rigorosamente sigilosas), com vista a um acordo sobre o comércio mundial de serviços. Com este objectivo, os EUA, os países da UE e cerca de duas dezenas de outros países, envolvendo cerca de 70% do comércio mundial de serviços, encetaram negociações secretas e paralelas às da Organização Mundial de Comércio (OMC), de modo a contornar os obstáculos colocados a esta organização imperialista por alguns dos países ditos em desenvolvimento, assim como por diversos movimentos sociais.


Futuro zero

Manuel Raposo — 30 Março 2014

reformados e pensionistasCom a aproximação da data de partida oficial da troika e sobretudo com novas eleições no horizonte, o governo e os seus porta-vozes inauguraram o discurso da “recuperação económica” como prova do “êxito” das medidas de austeridade.
O ministro da economia, Pires de Lima, foi um dos pioneiros desta nova linha de propaganda. Mas, para além da insegurança e da precariedade dos dados em que a conversa se baseia — sublinhadas de resto por fontes tão insuspeitas como o FMI — é o próprio discurso do ministro que revela a fraqueza do que é dito e das circunstâncias em que a falada “recuperação” se processa.


Uma imagem antecipada da política do PS

Manuel Raposo — 25 Dezembro 2013

seguropassosO PS justificou o acordo feito com o governo para baixar o IRC com o propósito de “criar emprego” e garantiu que, lá por isso, não vê condições para outros entendimentos com o PSD e o CDS. O que fica à vista, porém, é o facto de o PS ter facultado um importante apoio político ao governo, possibilitando um desagravamento fiscal que beneficia exclusivamente o capital, sem quaisquer garantias de que os assalariados venham a beneficiar do mesmo tipo de tratamento.


Justiça EDP

19 Novembro 2013

Como foi noticiado, há algumas semanas funcionários da EDP, acompanhados de agentes da polícia, cortaram a energia eléctrica a várias casas de famílias pobres no bairro do Lagarteiro, no Porto, e anularam várias ligações ilegais feitas pelos moradores. A justificação são as dívidas por pagar dos consumidores. Os moradores receiam que venham a seguir os cortes da água, pelos mesmos motivos. Muitas dessas famílias já não têm água corrente em casa e valem-se da ajuda dos vizinhos. Para se avaliar da justiça da medida da EDP, saiba-se que a empresa anunciou 792 milhões de euros de lucros nos primeiros nove meses do ano, depois de ter lucrado 1012 milhões em 2012. E já agora saiba-se ainda que os sete membros do conselho de administração ganham, por junto, mais de 6 milhões de euros por ano, uma média de 870 mil euros a cada.


Não perdem tempo

7 Março 2013

Poucas horas depois da morte de Hugo Chávez, importantes empresas espanholas, com fortes interesses na Venezuela, fizeram saber (jornal La Vanguardia, por exemplo) da sua esperança de que a era pós-Chávez abra campo a sectores industriais e bancários menos regulados do que até agora. Mesmo impossibilitadas de repatriar dividendos, sujeitas a controlo de preços e a desvalorizações da moeda, gigantes como a Telefónica (comunicações), o BBVA (banca), a Repsol (petróleos) ou a Inditex (confecções) têm sido fortemente ajudadas pelos negócios que têm na Venezuela, já que em Espanha e na Europa a crise lhes limita o crescimento.