O mistério do desemprego

10 Maio 2015

Na conversa do poder, o desemprego tem sempre ar de mistério. Tudo na economia parece caminhar no bom sentido, até já há crescimento, diz o governo, mas estranhamente o desemprego não baixa. O mistério desfaz-se se atendermos a duas ou três verdades que o mundo capitalista não pode ver nem aceitar.

Uma, é que a actual crise resulta de uma produção superabundante para a qual não há mercado, em larga parte porque a massa dos assalariados não tem suficiente capacidade de compra — uns por terem sido despedidos, outros por verem os salários reduzidos. Logo, não é o aumento da produção em moldes capitalistas que resolve o problema.

Outra, é que a resposta da burguesia à crise se resume, logicamente, a baixar a produção e a dispensar mão de obra. É sobretudo daí que advém mais alguma margem de ganho para o patronato e é isso que leva o poder a falar de “recuperação”.

Outra ainda, é que no capitalismo de hoje qualquer avanço técnico se traduz numa dispensa cada vez maior de mão de obra, sem que o trabalho tornado excedente possa ser absorvido por um alargamento da produção — que aliás não se verifica.

Isto mostra 1) que o capitalismo atingiu os seus limites de expansão e se tornou um obstáculo ao progresso, 2) que o tempo de trabalho socialmente necessário diminuiu e vai continuar a diminuir. Dito de outro modo: o desemprego é um exército de reserva de mão de obra que, sob o capitalismo, só pode crescer — fazendo, paralelamente, baixar os salários de quem trabalha.

Diante disto, não serve acusar a “má gestão” do governo, nem basta exigir medidas de “fomento do emprego”, como toda a esquerda oficial faz. Importa sim mostrar que este é o destino que o capitalismo reserva aos trabalhadores. Combatê-lo exige uma luta anticapitalista. Nesse sentido, a luta pela redução do horário de trabalho sem redução de salários junta o interesse imediato dos trabalhadores em resistir à exploração ao seu interesse numa sociedade livre das pragas do capitalismo.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgonçalves 11/5/2015, 10:23

Como se sabe o tempo de trabalho socialmente necessário determina o valor das mercadorias, e como tal ele é sempre necessário para que o capital se reproduza através da mais-valia. Fazer uma reinvindicação sindical relativamente à redução do horário de trabalho sem perda de salário determina por sua vez a quebra da mais valia ou seja dos lucros que o capital necessita para sobreviver na sua forma exploradora na compra de força de trabalho dos seus trabalhadores. Daí a crise capitalista estar metida, nesta circunstância histórica, num beco sem saída. Resulta então, no meu entender, que qualquer reinvindicação deste género não pode ser satisfeita pelo próprio capital. Pelo contrário se fosse possível o capital encontrava aí a sua própria salvação. Dito isto, como se costuma dizer numa guerra sem quartel que a solução é política e não militar, também aqui podemos dizer que a solução é política e não sindical.


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