Arquivo: Julho 2012

Para que não se percam os frutos da civilização

Manuel Raposo — 26 Julho 2012

A crise do mundo capitalista martiriza em primeiro lugar e acima de tudo o proletariado. Mas começou também a atingir os privilégios das chamadas classes médias, o principal sustentáculo do poder nos países mais desenvolvidos. Que significado tem esse facto para o declínio das sociedades capitalistas e que efeitos políticos traz para a luta de classes? A crise capitalista põe a nu o processo de exploração em que assenta toda a sociedade e revela a natureza de classe dos valores e das instituições burguesas – Estado, democracia, violência. Como pode, então, o comunismo marxista propor ao proletariado a saída do círculo de giz do capitalismo? São as questões colocadas nesta última parte da intervenção feita no congresso Marx em Maio.


Amadora: ameaça de despejo em massa

23 Julho 2012

Contra as demolições, pelo direito à habitação e extremamente preocupada com a situação dos moradores do Bairro de Santa Filomena (Amadora), a Habita – colectivo pelo Direito à Habitação e à Cidade – apresentou queixa contra as autoridades portuguesas a várias entidades internacionais. Este colectivo salienta que se trata de um bairro degradado construído por centenas de pessoas, maioritariamente famílias de trabalhadores/as imigrantes que ao longo de muitos anos trabalharam sobretudo na construção civil e nas limpezas, com salários extremamente baixos e sem estabilidade.


“No estamos indignados, estamos hasta los cojones!”

Santiago Cuervo Porras — 20 Julho 2012

Às 2h30 da madrugada dava entrada na Puerta del Sol a “marcha negra”, 19 dias e mais de 400 quilómetros de caminhada sob o sol da Meseta para exigir ao ministério da Indústria que não seja cortada a subvenção ao carvão e se cumpra o que está aprovado nos Orçamentos Gerais do Estado para 2012.
Se a despedida aos mineiros asturianos foi feita por uma multidão em Pola de Lena, antes de subir a Puerto de Pajares, fronteira natural com a meseta leonesa e castelhana, a recepção em Madrid não o foi menos: ao grito de “Esta é a nossa selecção”, milhares de madrilenos desfilaram com a colunas mineiras chegadas de Leão, Astúrias, Aragão, Castela-A Mancha e Andaluzia. Uma vez mais, o povo de Madrid fazia gala da sua afamada solidariedade demonstrada nos momentos mais duros e difíceis da nossa história. As filas de mineiros flanqueadas e protegidas pelos bombeiros da capital recebiam emocionados as demonstrações de afecto dos que ali se tinham congregado.


Sem pejo

17 Julho 2012

A Câmara de Comércio e Indústria Árabe-Portuguesa, presidida pelo cardeal Ângelo Correia, promoveu em 25 de Junho o Fórum Económico Portugal-Iraque. Objectivo: fazer negócio.
O ministro iraquiano da Construção e Habitação, Al-Derajy, acenou com 150 mil milhões de euros de investimentos e, bom comerciante, disse que quem chegar primeiro ganhará mais. Tanto bastou para que o secretário de Estado das Obras Públicas, Sérgio Monteiro, visse a ocasião de as empresas lusas fazerem no Iraque as obras que não fazem em Portugal por força da crise. E para que o ministro da Economia, Santos Pereira, destacasse a oportunidade de Portugal se tornar um “eixo geoeconómico estratégico” (sic) e quiçá sair da fossa.


Para que não se percam os frutos da civilização

Manuel Raposo — 12 Julho 2012

Se, como vimos nos capítulos anteriores, se verifica um bloqueio da acumulação capitalista e se a sociedade burguesa entrou numa fase senil, como se explica que não cresça, neste mundo em crise, o movimento revolucionário? As enormes mutações sociais no proletariado mundial; a dissolução ideológica do marxismo revolucionário no século XX, acompanhando o longo estertor da revolução soviética; e a ausência de um claro ataque político às bases do sistema capitalista – não sendo todas, serão seguramente algumas das razões desse impasse.


Sabedoria e estupidez

A propósito da greve dos médicos de 11 e 12 de Julho, um utente do SNS, da aldeia de Bessa, serra do Barroso (António Linhares, 82 anos) declarava: “Concordo em absoluto com esta greve, pois os médicos estão também a defender os utentes. O ministro tratou esta greve com os pés … pois eles têm razão, não se pode mandar tratar dos doentes um qualquer que faça mais barato”. Entretanto, um jovem videirinho da Comissão Política Nacional do PSD, Rodrigo Moita de Deus, escrevia num conhecido blogue de direita: “Vi na televisão centenas de médicos a celebrarem o feito de terem deixado milhares de portugueses sem cuidados de saúde”. Mais palavras, para quê?


Avançar às arrecuas!

José Borralho — 10 Julho 2012

“A democracia burguesa, constituindo um grande progresso histórico em relação à Idade Média, continua a ser – e não pode deixar de o ser no regime capitalista – uma democracia estreita, mutilada, falsa, hipócrita, um paraíso para os ricos, uma armadilha e um logro para os explorados, para os pobres” (Lenine).
Com o dedo em cima da ferida, não podiam ser mais actuais as palavras proferidas por Lenine que carregam em si toda a crueza da luta de classes e o ponto de vista de uma delas – o proletariado – as massas pobres, que hoje como então, são as grandes vítimas do sistema, os primeiros sobre quem recaem as medidas de austeridade, a pobreza extrema, o desemprego, enfim a exclusão.


“Se os nossos filhos passarem fome…”

Urbano de Campos — 6 Julho 2012

Mais de 200 mineiros de vários pontos do norte de Espanha caminham desde dia 22 de Junho em direcção a Madrid, onde contam chegar no dia 11, numa Marcha Negra em que reclamam a reposição dos apoios estatais à exploração de carvão. Os cerca de 8 mil mineiros espanhóis (das Astúrias e Leão, mas também de Castela e de Aragão) entraram em greve por tempo indeterminado em final de Maio, quando o governo de Rajoy anunciou um corte drástico nos subsídios que ameaça pura e simplesmente fazer encerrar as minas de carvão. A determinação dos mineiros asturianos ficou bem patente nos confrontos com a polícia. E o seu sentido de classe ficou também bem expresso nas sucessivas manifestações já realizadas. Numa delas, uma faixa dizia: “Se os nossos filhos passarem fome, os vossos verterão sangue”.


Para que não se percam os frutos da civilização

Manuel Raposo — 5 Julho 2012

Nesta segunda parte da intervenção feita no congresso Marx em Maio realça-se a posição das correntes marxistas que mostram as raízes da actual crise mundial. Em vez de culparem o “neoliberalismo”, ou a financeirização do capital, como se a crise tivesse origem numa qualquer deriva ideológica das classes dominantes ou num entorse do capitalismo – aquelas correntes mostram a crise como resultado do próprio crescimento capitalista. É esse crescimento que, contraditoriamente, provoca a queda da taxa de lucro do capital e o declínio de todo o sistema.


Palavras mágicas

António Louçã — 3 Julho 2012

À falta de resolverem problemas, os governos do capital criam cortinas de fumo: palavras, palavras, mais palavras. E como as peneiras não tapam o Sol, e as palavras tão-pouco, todas se desacreditam rapidamente e são substituídas a um ritmo estonteante. Assim, a palavrinha-chave era, há uns tempos, o défice. A obsessão era tal que alguém se sentiu na necessidade de enunciar essa lapalissada, de que “há vida para além do défice” – uma verdade verdadeira desde o tempo dos primeiros protozoários, mas nem por isso muito relevante para lidarmos com problemas dos seres humanos no século XXI.