Arquivo: Fevereiro 2016

O “virar de página” de António Costa

Manuel Raposo — 27 Fevereiro 2016

AntCostaA principal tecla martelada por António Costa é o “virar de página sobre a austeridade”. O propósito só pode ser bem acolhido por todos os que vivem do seu próprio trabalho — porque foram eles que pagaram a factura da crise e da austeridade. E é claro, portanto, que são muito bem vindas as medidas de reposição de vencimentos, de aumentos de pensões e do salário mínimo, de baixas de impostos (prometidas), etc — mesmo se tudo se resume, como de costume, a aumentos de miséria, dados a conta-gotas.
A questão que se põe é saber que condições tem o PS de inverter a situação que se viveu nos últimos seis anos, com o eclodir da crise capitalista mundial.


Santa unidade

Uma Catarina Martins esfuziante (cada vez a aproximar-se mais do PS) e coadjuvada por José M. Pureza, após um encontro na AR com António Guterres, acompanhou o candidato a secretário-geral da ONU até à saída do parlamento. A coordenadora do BE declarou aos jornalistas que considera a candidatura de Guterres “muito forte”, salientando como muito positivo o seu mandato como alto comissário das Nações Unidas para os refugiados. Ora, a dirigente do BE “esquece” todo o papel de Guterres quando foi dirigente do PS e primeiro-ministro, juntando-se ao centro-direita portuguesa (incluindo a Durão Barroso) no apoio a Guterres. E descura, também, qual tem sido o habitual papel secretário-geral da ONU, como lacaio do capitalismo, particularmente do imperialismo norte-americano.


O OE “possível” ou as migalhas do banquete

Urbano de Campos — 17 Fevereiro 2016

OE2016A acesa discussão à volta do Orçamento do Estado — se a economia cresce ou não, se a carga fiscal sobe ou desce, se o limite do défice é cumprido ou ultrapassado, se as exigências da União Europeia são ou não acatadas, etc., etc. — tem o condão de deslocar o centro das atenções para a comparação com os quatro anos passados e com as imposições da troika. Nesse campo estrito, não é difícil reconhecer as vantagens deste orçamento, em vista das medidas de recuperação dos rendimentos do trabalho. Mas ficar por aqui é esconder a pequenez dos ganhos que ele traz aos trabalhadores assalariados — e enaltecer demasiado o “feito” do governo PS e dos seus apoiantes.

Na verdade, há um outro ângulo para ver a questão: aquele que mede a distância que vai entre aquilo de que os trabalhadores precisam e a que têm direito, e aquilo que lhes é dado, nesta circunstância, pelo poder.


Operação Condor: “Na história do mundo”

15 Fevereiro 2016

Manuel Contreras e muitos outros agentes das ditaduras sul-americanas foram formados na Escola das Américas, dirigida por militares e pelos serviços secretos norte-americanos. Foi uma academia de instrução militar onde os EUA treinavam militares aliados da América Latina durante a Guerra Fria. O insuspeito congressista Joseph Kennedy II chamou-lhe em 1994 (em todo o caso já depois do fim da ditadura chilena…) “escola de ditadores“, dizendo que “produziu mais ditadores e assassinos que nenhuma outra na história do mundo”.


Operação Condor: “500 anos por pagar”

A Operação Condor (ver artigo ao lado) foi da responsabilidade de Manuel Contreras, general chileno, braço direito de Pinochet. Chefe da polícia política criada pela ditadura militar em 1974, a DINA, concebeu e montou em 1975 a Operação Condor, reunindo Chile, Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Terão sido eliminados 100 mil opositores dos regimes em menos de duas décadas. Com o fim da ditadura chilena, Contreras, acusado de implicação directa em milhares de assassinatos, foi julgado e condenado a 529 anos de cadeia dos quais cumpriu perto de 20. Morreu em 8 de Agosto de 2015. Quando se soube que Contreras estava à beira da morte, houve manifestações nas redes sociais chilenas “rezando” para que ele não morresse, dizendo “Ainda faltam 500 anos por pagar”; ao mesmo tempo, muitos outros chilenos saiam à rua festejando o fim do torcionário.


Operação Condor ainda voa

Manuel Raposo (*) — 14 Fevereiro 2016

Pinochet_PBNuma entrevista conduzida pelos jornalistas Pedro Caldeira Rodrigues e José Manuel Rosendo (Lusa) o activista dos direitos humanos paraguaio Martín Almada revelou que a Operação Condor continua activa na América Latina e ameaça os regimes progressistas do continente.
O testemunho, prestado em 18 de Dezembro passado — e que assinalou o 40.º aniversário da assinatura do pacto de colaboração policial entre várias ditaduras latino-americanas — não teve eco na imprensa portuguesa, apesar da gravidade da denúncia feita por Martín Almada. Quando todos os regimes do nosso Ocidente democrático se mostram tão preocupados com os actos de terror que os atingem de vez em quando, é bom que se atente na escala industrial de mais este exemplo de terror de Estado de âmbito não já nacional, mas multinacional.


Herr Schäuble preocupado com Portugal

O ministro alemão das finanças, Wolfgang Schäuble, que poucos dias antes garantira não estar preocupado com o Deutsche Bank – o sistema financeiro alemão atravessa uma grave crise – afirmou depois, no entanto, estar muito preocupado com Portugal.  Schäuble manifestou “preocupação” e “tristeza”, pela subida das taxas de juro de Portugal: “Como era evidente, Portugal estava no bom caminho. Mas ainda não está suficientemente bem para resistir. A questão é esta”, afirmou, avisando ainda para uma ideia manifestada na reunião de Eurogrupo, sobre a possibilidade de novos problemas em relação às taxas de juro de Portugal.
O bom caminho a que se refere o canalha Schäuble (que detesta o governo de António Costa, apoiado pelo PC e pelo BE) era o caminho prosseguido pelo governo do lacaio alemão Passos Coelho que, durante 4 anos, arrastou as classes trabalhadoras e o povo português para uma ainda maior exploração e miséria.


O significado do ‘Que se lixem as eleições’

Manuel Raposo — 8 Fevereiro 2016

ManifMarço2013Quando Passos Coelho, numa bravata própria de feirante, a três anos de distância, disse que se estava a lixar para as eleições (“o que interessa é Portugal”…), percebeu-se que, com o tempo, o discurso iria mudar. Mas poucos talvez adivinhassem o sentido preciso que a frase iria tomar depois do 4 de Outubro de 2015.
A forma assanhada como a Coligação se quis manter no poder, mesmo sem maioria para o conseguir, os argumentos trogloditas usados por todos os seus apaniguados, o apoio descarado do patronato a Cavaco para não empossar o governo de Costa, o clima de golpe de Estado que a direita criou — tudo isto mostrou, da parte da burguesia, um outro sentido, útil e concreto, para a frase de Coelho, e esse sentido é: que se lixe a democracia, que se lixe o parlamento, que se lixe a vontade dos eleitores, tudo vale para manter o poder.


Como eles roubam “legalmente” o povo

Pedro Goulart — 2 Fevereiro 2016

Lima_albuquerqueTrês membros do Conselho de Administração da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC) viram o seu salário aumentado em 150% em Outubro de 2015. Luís Ribeiro, Carlos Seruca Salgado e Lígia Fonseca, respectivamente presidente do Conselho de Administração da ANAC, vice-presidente e vogal, ficaram com salários milionários e com retroactivos a Julho, devido a uma alteração feita em Outubro, nos últimos dias do governo do PSD/CDS.