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Tópico: Tribuna
Sete reflexões sobre a actual crise
João Bernardo — 17 Outubro 2008
Contrariamente ao que é hábito afirmar na esquerda, tenho defendido desde há bastantes anos a inutilidade de proceder a uma teoria das crises no capitalismo. Cada crise é específica e resulta do facto de o sistema económico, com o agravamento de certas contradições, não conseguir dar uma resposta a obstáculos que noutras circunstâncias seriam facilmente superados. Tudo depende, então, de saber quais as contradições que se agravaram, e este diagnóstico muda de uma crise para outra.
Além disso, as crises sectoriais são frequentemente confundidas com crises globais ou, pior ainda, o funcionamento cíclico da economia é confundido com uma crise. Na verdade, a extrema-esquerda revela nestas ocasiões a sua fragilidade fundamental, esperando que se consiga, graças à crise do capital, o que não se tem obtido pela força própria do proletariado. As luminárias da revolução ainda estão sem decidir se o capital se há-de destruir a ele mesmo ou se há-de ser a classe trabalhadora a destruí-lo. Enquanto andar nesta indecisão, a extrema-esquerda nunca terá uma estratégia própria.
Existe ‘uma posição revolucionária’ sobre «A Crise do Capitalismo»?
Rui Pereira — 15 Outubro 2008
“a vitória universal da irresponsabilidade e do cinismo”
Cornelius Castoriadis (*)
A pergunta do título da peça não é retórica. Trata de saber, em primeiro lugar, que pode ser uma posição ‘revolucionária’. Posição ‘revolucionária’ por oposição ao sentido de ‘reformista’; transformadora, por oposição ao sentido de ‘reformadora’. Muitas diferentes propostas poderão ser revolucionárias, não custa imaginar, relativamente àquilo que nos é quotidianamente representado como a «crise do capitalismo»?
A crise do capitalismo e as limitações e inconsequências do sindicalismo reformista
José Manuel Andrade Luz — 8 Outubro 2008
Em recente artigo da responsabilidade do corpo redactorial do MV, critica-se o movimento sindical e em particular a CGTP por não dar uma maior consequência às manifestações e outras formas de luta, inconsequência essa que tem contribuído para uma maior arrogância do governo na aplicação das suas politicas anti-sociais, que têm agravado de forma drástica a situação económica e social das classes trabalhadoras.
Paradoxos da história georgiana
António Louçã — 7 Outubro 2008
Quem seguiu pela televisão a mais recente guerra no Cáucaso, pôde pasmar diante das imagens de uma estátua de Estaline na capital georgiana, Tbilisi. Não é pouca coisa, numa ex-república soviética, quando sabemos que a implosão da antiga URSS foi acompanhada pelo sistemático derrubamento das estátuas de dirigentes bolcheviques.
A revolução por dentro das palavras
José Mário Branco — 6 Outubro 2007
Já nos aconteceu a todos partilharmos as mesmas ideias com amigos nossos e, no entanto, não haver entendimento entre nós acerca das palavras que usamos para definir e designar essas ideias. Isto deve preocupar-nos, porque “a falar é que a gente se entende”.
Em tempos, um amigo meu, que era revolucionário e comunista, foi destacado para desenvolver a organizar a luta política numa região (Trás-os-Montes) onde, pensava-se, as pessoas estavam muito dominadas pelas ideias reaccionárias dos padres e dos caciques ex-fascistas. Ele foi para a região e, numa tasca de aldeia, pôs-se à conversa com trabalhadores do campo que ali estavam a beber e a conviver. Evitou usar palavras como socialismo, comunismo ou revolução que, pensava ele, podiam despertar a desconfiança ou a rejeição. Foi conversando sobre a vida “em geral” e lentamente, à medida que iam estando de acordo sobre as ideias simples (da democracia, da liberdade, da justiça social para acabar com diferenças entre pobres e ricos), ele ia explicando “os nomes dos bois”: isto é o socialismo, aquilo é o comunismo, aqueloutro é a revolução, etc.