O nazi-sionismo por ele próprio

Editor / Law for Palestine — 8 Janeiro 2024

Cemitério de Deir Al-Balah, Gaza, 23 de outubro

Uma chave, se ainda fosse precisa, para entender o que se passa em Gaza está nas palavras do próprio presidente israelita Isaac Herzog. Disse ele em 10 de outubro passado: “Não há civis inocentes em Gaza”. Estas mesmas palavras foram repetidas um mês depois por Avigdor Liberman, deputado, ex-ministro e ex-vice-primeiro-ministro. Muitas outras declarações do mesmo teor e piores, e actos criminosos da tropa israelita podem ser encontradas numa recolha feita pela organização Law for Palestine, uma organização de defesa de direitos humanos sediada em Manchester, com o fim de reunir dados que incriminem os responsáveis políticos e militares israelitas.

Os factos e as declarações contidos na referida recolha traçam o retrato de corpo inteiro da clique nazi que governa Israel, da mesma maneira que traçam o retrato da “civilização ocidental” que os dirigentes sionistas impunemente se gabam de defender. 

Na verdade, EUA e UE, por muitas reservas que manifestem em relação aos actos da tropa israelita, por muitas admoestações que façam aos governantes de Telaviv, por muitas manobras diplomáticas que ponham em campo – uma coisa é certa: não fazem uso dos meios práticos que estão ao seu alcance para travar as operações militares, nomeadamente, pôr fim ao abastecimento de armas e ao financiamento de Israel. Nem os EUA nem a UE querem correr o risco de perder ou enfraquecer o seu principal agente no Médio Oriente. Entre o genocídio que está em curso e perder esse agente, preferem o genocídio.

Os mais de 500 dados recolhidos por Law for Palestine estão devidamente identificados quanto à data em que ocorreram, aos autores e ao tipo de crime que configuram; e estão organizados em três categorias: decisores políticos, pessoal e oficiais das forças armadas, e membros do parlamento. Outros dados serão publicados respeitantes a jornalistas e comentadores, antigos membros do governo e declarações públicas. Eis uma pequena amostra.

 

BASE DE DADOS SOBRE O INCITAMENTO AO GENOCÍDIO POR PARTE DE ISRAEL (Law for Palestine, 4 janeiro 2024)

13/10/2023 – Isaac Herzog, presidente: “Não há civis inocentes em Gaza.”

14/10/2023 – Isaac Herzog, presidente: “É uma nação inteira que é responsável. Esta retórica sobre os civis não estarem conscientes, não envolvidos, não é absolutamente verdade. Eles poderiam ter-se levantado, poderiam ter lutado contra aquele regime maligno [do Hamas].”

10/09/2023 – Yoav Gallant, ministro da Defesa: “Ordenei um cerco completo à Faixa de Gaza. Não haverá electricidade, nem comida, nem combustível, tudo está fechado”, “Estamos a lutar contra animais humanos e estamos a agir em conformidade”

10/10/2023 – Yoav Gallant, ministro da Defesa: “Vamos eliminar tudo. Se não demorar um dia, vai demorar uma semana, vai demorar semanas, ou até meses, chegaremos a todos os lugares.”

18/11/2023 – Soldados das FDI [Forças de Defesa de Israel]: As FDI usam corpos palestinos para bancos de pele, roubando corpos do necrotério e do cemitério do Hospital Al-Shifa, transferindo-os para lugares desconhecidos. Esta denúncia foi coberta pela EuroNews, pela Agência da Anatólia e outros. Esta prática não é inédita entre os soldados israelitas e tem sido destacada desde 2009, conforme explicado pelas fontes.

14/10/2023 – Ezra Yachin, reservista das FDI: “Cada judeu com uma arma” para matar palestinos e “apagar a memória deles”.

Soldados das FDI: “Se Deus quiser, atingirá pessoas inocentes”, frase escrita num projéctil de artilharia.

Soldados das FDI: Tropas israelitas conduziram escavadoras no cemitério Sheikh Shaban, no bairro de al-Saha, no leste de Gaza. Os túmulos foram destruídos e os corpos já enterrados foram exumados, esmagados e mutilados. O jornalista da Al Jazeera, Ismail al-Ghoul, relatou que “partes dos cadáveres, incluindo os de crianças, são claramente visíveis na área”. Tem havido pouco espaço, ou tempo, para as famílias realizarem funerais, ou mesmo chorarem os mortos, durante os bombardeamentos. Alguns hospitais foram forçados a enterrar pessoas antes que os familiares pudessem identificá-las, porque não há espaço suficiente nas morgues para as manter. Pais assustados escrevem os nomes dos filhos nos braços e nas pernas na esperança de que pelo menos sejam identificados depois de morrerem.

15/11/2023 – Soldados das FDI: Alto funcionário israelita admite saber que não havia reféns em al-Shifa [hospital]. Disse que o ataque foi apenas um “sinal de que não há lugar que não possamos alcançar” (ou seja, nada é seguro em Gaza). Nenhuma reivindicação de um “centro de comando do Hamas” [no dito hospital].

23/10/2023 – Revital Gotliev, membro do parlamento israelita (partido Likud): “Sem fome e sede entre a população de Gaza, não teremos sucesso em recrutar colaboradores, não teremos sucesso em recrutar informações, [ou]… em subornar pessoas com comida, bebida, remédios, a fim de obter informações.”

11/05/2023 – Amichai Eliyahu, ministro do Património: “Uma das opções é lançar uma bomba atómica sobre Gaza. Rezo e espero que os [reféns] retornem, mas a guerra também tem um preço.”

10/09/2023 – Yoav Kisch, ministro da Educação: “São animais, não têm o direito de existir. Não discuto como isso vai acontecer, mas eles precisam de ser exterminados”.

17/11/2023 – Nissim Vaturi, vice-presidente do parlamento israelita (partido Likud): “Toda a preocupação com a existência ou não de Internet em Gaza mostra que não aprendemos nada. Somos demasiado humanos. Queimem Gaza agora, nada menos!”

22/10/2023 – Yair Lapid, membro do parlamento israelita (partido Yesh Atid): “A maioria dos 12.000 palestinos mortos eram terroristas. […] Boa viagem”. (Na verdade, a maioria são mulheres e crianças inocentes, com mais de 5.000 crianças barbaramente mortas, e milhares de mulheres, idosos, jornalistas e pessoal médico, e milhares de desaparecidos sob os escombros).

10/10/2023 – Moshe Feiglen, político israelita e líder de Zehut: “Uma tempestade de fogo deve devastar Gaza”.

10/07/2023 – Revital Gottlieb, membro do parlamento israelita (partido Likud): “Derrubem edifícios!! Bombardeiem sem distinção!! Parem com esta impotência. Vocês têm capacidade. Existe legitimidade mundial! Esmagar Gaza. Sem piedade! Desta vez, não há espaço para misericórdia!”

17/10/2023 – Moshe Feiglin, político israelita e líder do Zehut: “Não é o Hamas que deve ser eliminado. Gaza deveria ser arrasada e o domínio de Israel deveria ser restaurado no local. Este é o nosso país.”

13/11/2023 – Nissim Vaturi, vice-presidente do parlamento israelita (partido Likud): “[…] abrir o porto de Gaza, colocá-los [aos habitantes de Gaza] em navios e enviá-los para a Escócia, porque um menino [de Gaza] de 10 anos é um terrorista em 6-7 anos.”


Comentários dos leitores

Adilia Maia 10/1/2024, 10:25

Depois disto, não sei quem nos pode valer. Se gente que se diz religiosa pensa e sente desta maneira, estamos já a viver o apocalipse, eles sao de facto e de direito o Apocalipse!

António 13/1/2024, 8:06

Muitas retóricas e intelectualidades. Na realidade, ladrão que rouba, tem de devolver o que roubou. Israel roubou e tem de entregar o que roubou. Está na Bíbli, que tanto Israel designa.

leonel l. clérigo 13/1/2024, 17:31

1 - Se há coisas que gosto na vida é da "CONVERSA DEMOCRÁTICA". É certo que, geralmente, nunca se aprende grande coisa, mas lá que é floreada é! É o caso que está acontecendo no MÉDIO ORIENTE.
Até aqui, as coisas iam surgindo meio confusas, sobretudo as "razões" dos sistemáticos bombardeamentos a GAZA, que nem as frequentes vindas do sr. Antony Blinken - Secretário de Estado dos USA - parecem poder acalmar.

2 - Mas, mais recentemente, um acontecimento veio "destapar" não o "véu" mas, julgo, uma ponta dele: os ataques no passado dia 11 feitos pelos USA ao Iêmen com o apoio de uns quantos países ditos "OCIDENTAIS", como é o caso da AUSTRÁLIA que, por acaso, até se localiza junto ao Pacífico ou seja: no Oriente.
E qual a razão desses ataques?

3 - O Iêmen dispõe duma posição estratégica: localiza-se na entrada do Oceano Indico para o Mar Vermelho, precisamente um ponto CHAVE da ROTA das Mercadorias que "viajam" do Oriente para Ocidente e que a abertura do Canal do Suez facilitou. E ao que parece, essa ROTA representa 12% da TOTALIDADE do COMÉRCIO MUNDIAL: é OBRA!

4 - O MÉDIO ORIENTE está em ebulição (mas não só ele..). E a derrota que lhe foi imposta pelo "OCIDENTE das DESCOBERTAS", aguarda ainda um "novo equilíbrio". Como aliás, em todo o mundo onde o IMPERIALISMO OCIDENTAL jogou, desigualmente, a sua mão.


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