25 de Abril. Onde estamos, o que fazer?
Editor — 27 Abril 2023
As grandes manifestações que desfilaram por todo o país mostram que milhares e milhares de pessoas não desistem das esperanças que o 25 de Abril trouxe. Os incidentes parlamentares, o fiasco dos anunciados protestos fascistas ou as trocas de galhardetes partidários tiveram, como sempre, mais eco nos média do que as vozes populares. É mesmo assim — trata-se da marca do regime, por mais que os seus protagonistas se revistam de capas democráticas. Mas isso só mostra a distância que separa os milhares que, por vontade própria, saíram à rua daqueles que, engravatados, se dizem seus representantes.
É com toda a convicção e com todo o direito que esses milhares, vindos da massa do povo, continuam a festejar Abril, Maio ou os ganhos, mesmo efémeros, do PREC. A memória do que então ocorreu é em si mesma uma conquista.
Mas a situação de hoje não dá margem a ilusões. Nos 49 anos decorridos, os traços gerais do rumo político do país estão à vista e são fáceis de enunciar: pilhagem brutal dos pobres pelos ricos, corrupção crescente, apodrecimento das instituições, reorganização das forças fascistas, submissão ao grande capital europeu, envolvimento nas guerras imperialistas.
Impõe-se portanto a pergunta “Como estamos hoje e o que fazer?” Responder-lhe é a condição para que a Esquerda e o movimento popular consigam enfrentar os desafios do presente. O texto que reproduzimos, de um folheto distribuído na manifestação de Lisboa, procura contribuir para essa resposta.
Viva o 25 de Abril ! Viva o 1.º de Maio ! Viva o PREC !
49 ANOS DEPOIS, NOVOS DESAFIOS PARA A ESQUERDA
Com todo o direito, continuamos a festejar o 25 de Abril, o 1.º de Maio e as esperanças do PREC. Mas como estamos hoje?
Privilégios ilimitados para o Capital, desvalorização do Trabalho, degradação da vida da população trabalhadora.
Protestos de massas sucedem-se — contra a troika, contra a carestia, por uma vida mais justa. Mas o povo, na defensiva, continua a perder terreno. As lutas mais combativas são atacadas com pretextos legais e constitucionais. Os ganhos sociais do 25 de Abril são desbaratados.
A maioria dos trabalhadores vira costas à política. A direita e a extrema-direita cavalgam o descontentamento do povo.
Que fazer?
Que fazer para travar a pilhagem do Trabalho pelo Capital? Como assegurar emprego e vida digna? Como acabar com os privilégios de grandes patrões, gestores e políticos que os servem? Como pôr fim a especuladores e corruptos? Como combater a fascização das instituições? Como impedir que a extrema-direita tire proveito da revolta popular? Como rejeitar as ordens de Bruxelas? Como desvincular o país das guerras da NATO?
Estas perguntas têm de ter resposta. Sem isso, o movimento popular não ganhará capacidade para fazer frente aos desafios da situação.
Há que reacender o combate ao Capital
Enfrentamos uma sociedade plenamente capitalista, com todas as suas pragas.
Cada vez é mais claro que esta democracia é monopólio das classes capitalistas. Mesmo assim, os trabalhadores deixam-se amarrar a um regime político que os exclui de qualquer decisão, e a um sistema de exploração que os empobrece continuamente.
Esta submissão tem de ser rompida. Colocar o movimento popular à altura da situação exige uma política dos trabalhadores, para os trabalhadores, corajosamente anti-capitalista.
Foi o combate aberto ao Capital, por acção dos próprios trabalhadores, que assegurou as conquistas de 1974-75.
Há que tomar posição contra a guerra e contra a NATO
O país foi arrastado, sem resistência, para uma guerra que agrava tudo: marasmo económico, carestia galopante, ataque ao Estado Social, despesas militares crescentes, submissão aos planos dos EUA-NATO-UE.
A maioria dos partidos e organizações ou está do lado da NATO ou hesita em denunciar a NATO.
É preciso criar uma corrente popular contra a NATO, apostada em pôr fim à guerra. A política do Governo e do Estado de apoio incondicional à guerra tem de ser denunciada e atacada.
A Esquerda só conseguirá fazer-se ouvir se disser claramente que é pela derrota da NATO na guerra da Ucrânia.
Diante da divisão do mundo, há que escolher o campo
O mundo divide-se em dois. A trupe imperialista EUA-UE-Japão entrou em declínio.
Os países que acolhem a larga maioria da população do mundo afastam-se do bloco imperialista que os tem dominado.
Abrem-se aos povos mais atrasados possibilidades novas de desenvolvimento económico e de independência.
Crescem também ameaças de guerras devastadoras por parte do bloco imperialista em queda.
A Esquerda não pode fugir ao desafio: colocar-se do lado dos povos que rejeitam a tutela do FMI, do G7, ou dos blocos militares, apoiar a mudança para um mundo de povos mais livres, juntar forças que travem as ameaças de guerra, ajudar a desmantelar o sistema imperialista.
25 de Abril / 1 de Maio 2023
A Chispa
Colectivo Mumia Abu-Jamal
Mudar de Vida
Comentários dos leitores
•leonel l. clérigo 2/5/2023, 14:34
A DOENÇA SENIL da CRÍTICA
Um avivar da memória: o 25 de ABRIL último - mesmo se fizermos "tábua rasa" do TEMPO dos inúmeros SACRIFÍCIOS, DRAMAS e LUTAS que levaram a ele - deu-se a um ano de completar MEIO SÉCULO. E se Paulo de Carvalho afirmava ser "10 anos muito tempo", imaginemos 50: mais de metade da população portuguesa de hoje ainda não era nascida.
Mas ao fim de 50 anos julgo que já seria tempo de se fazer, CRITICAMENTE, um balaço sério do que FOI e no que DEU "hoje", o 25 de ABRIL. Isso não foi ainda feito e não é qualquer burguês que o pode fazer, mesmo sendo Historiador encartado.
Sem dúvida que há de facto aí um obstáculo sério: a LENGALENGA DEMOCRÁTICA que ajuda - e muito... - a embrutecer o ESPÍRITO CRÍTICO, impingindo a convicção de que "TUDO ESTÁ FEITO" ou, como dizia o outro pândego de estilo nipo-estaunidense, "CHEGÁMOS ao FIM da HISTÓRIA". A DEMOCRACIA BURGUESA não é o "fim" mas, quem cá ficar uns anos, poderá vê-la "CHEGAR ao FIM".
1 - Os "nossos" Partidos BURGUESES - que são muitos porque "à dúzia é mais barato" (?)...- aceitam, sem "piar", este Fim da História em conjunto com a alegria dos "fundos europeus". Será que só aprendemos nestes 50 anos a ser um PAÍS de CHULOS PEDINCHÕES?
De qualquer modo, o que dizem agora que nos resta é a "ALTERNÂNCIA DEMOCRÁTICA" que foi perdida com a "malandrice" de Geringonça.: "ora agora danço eu... ora agora danças tu...e danças tu mais eu". Só que é o BURGUÊS que dança sempre sozinho, apesar das muitas "caras" com que se apresenta. Por isso, quem "se der ao trabalho" de vasculhar os PROPÓSITOS "avançados" por esses muitos partidos burgueses para tirar a nossa SOCIEDADE do "buraco" em que se encontra - coisa de facto penosa é procurar isso nos seu PROGRAMAS VAZIOS - deve desistir de lá encontrar qualquer IDEIA de como se sair do "atafacho" ancestral do SUBDESENVOLVIMENTO.
Podem acreditar: com esta "manhosa" BURGUESIA (e seus Partidos), nada há a fazer: esta nossa BURGUESIA há muito que está MORTA, apesar do compreensível "ESBRACEJAR" do igualmente oco Sr. André Ventura.
2 - Quanto ao MUNDO do TRABALHO, seu silêncio é de ouro: "aguenta que é serviço", dizia o outro. É evidente que o TRABALHO "que lhe é dado" pelo "comando" do nosso BURGUÊS, incide maioritariamente nos SERVIÇOS o que não deixa de estar certo pois durante séculos fomos educados, por ela, a ser "SERVIÇAIS". O decisivo século XIX - entre nós - foi uma desgraça e, além disso, um século de maçadoras e enganosas repetições. Por isso SALAZAR foi providencial e teve o apoio que teve da SOCIEDADE, "comandando-a" até morrer: deixem-se de "lérias" - dizia ele nas entrelinhas - e façam tudo para não perderem as COLÓNIAS senão, o PAÍS ESFUMA-SE. Meu dito, meu feito...
3 - Felizmente que cá tínhamos o Dr. Mário Soares com seus "amigos" europeus sociais-democratas. A "EUROPA CONNOSCO" foi um achado: a não ser assim e a continuar com esta Burguesia no PODER, andávamos hoje "aos caixotes". Mas parece que não "aprendemos nada". Continuamos "Pobrezinhos mas asseadinhos".
É certo que os "Subsídios Europeus" sempre "atamancam", sobretudo para quem tem uma larga história de "pobrezinho".
Mas cuidado: os TEMPOS NÃO VÃO NADA BEM e já está claro que o Mundo necessita HOJE de uma grande MUDANÇA. Por isso, continuar a deixar o BURGUÊS "discutir" a TAP mais o seu Aeroporto e as "conversas" do Ministro Galamba, o IVA a zero, os Impostos (que fazem as "delícias críticas" do Burguês dito "produtivo" e "liberal"), o "assédio", a "corrupção", a guerra da Ucrânia, a "falta de chuva"...e não ARREGAÇAR AS MANGAS para executar um PLANO de DESENVOLVIMENTO "com pés e cabeça", não tarda muito vermos o trambolhão que levamos...
Além do mais, o "Après moi, le déluge" de Luís XV de França, nunca foi bom conselheiro. Por isso o seu sucessor Luís XVI "perdeu a cabeça" na hoje Praça da CONCÓRDIA e que antes se chamava PRAÇA da REVOLUÇÃO.