A Comuna: viva há 152 anos

Editor — 18 Março 2023

Uma barricada na Paris revolucionária, Março-Maio1871

Em 18 de março de 1871, o povo de Paris tomou conta do poder. Respondeu assim à derrota sofrida pela França na guerra com a Prússia, iniciada um ano antes, na qual Napoleão III tinha envolvido o país. A guerra imperialista franco-prussiana transformou-se em guerra civil; o proletariado apontou armas à burguesia e ao poder da Terceira República.

Os soldados da Guarda Nacional fuzilaram dois generais, Clément-Thomas e Leconte, e fizeram-se a força armada do proletariado. O governo de Adolphe Thiers refugiou-se fora de Paris, em Versalhes, de onde conduziu a contra-revolução.

Durante dois meses, o povo, apenas com escassos apoios vindos das principais regiões industriais do país, governou Paris.

Dos dois milhões de habitantes da Paris de então, meio milhão eram operários fabris e mais 400 mil eram trabalhadores de outras empresas. A Comuna foi uma revolta proletária, protagonizada e dirigida pelo proletariado. Todas as correntes revolucionárias da altura (comunistas, socialistas, anarquistas, feministas) participaram no movimento. Foi o primeiro exemplo histórico de ditadura do proletariado, como Karl Marx e Friedrich Engels bem vincaram.

Em pouco tempo, os Communards­ – ou Comuneiros, como foram designados entre nós – aprovaram leis progressistas de verdadeira democracia social: abolição da pena de morte, separação Estado-Igreja, exclusão da religião nas escolas, fim do trabalho infantil, dissolução dos corpos policiais e criação de milícias populares encarregadas da ordem pública, direito dos trabalhadores tomarem conta das empresas abandonadas pelos patrões, revogação dos mandatos políticos, remuneração dos cargos públicos pela bitola do salário dos operários.

Respondendo ao pânico hipócrita com que a burguesia encarava a ideia de uma ditadura do proletariado, Engels diria, vinte anos mais tarde: “Querem saber o que é a ditadura do proletariado? Olhem para a Comuna de Paris. É isso a ditadura do proletariado”.

A Comuna foi esmagada na Semana Sangrenta de 21-28 de maio pelo exército francês sob as ordens de Thiers, com o apoio dos prussianos que ocupavam a França. Dez a vinte mil comuneiros foram mortos em combate ou fuzilados; mais de 40 mil foram presos, entre os quais mil mulheres; 13.500 foram julgados e condenados, 99 deles à pena de morte e a maioria a trabalhos forçados e a deportação. Milhares exilaram-se.

A aliança entre as burguesias francesa e prussiana, que três meses antes se defrontavam em guerra, mereceu a Marx a observação de que se virara uma página histórica: ficara demonstrado que as burguesias nacionais tinham perdido toda a sua capacidade revolucionária e que, diante do surgimento do proletariado como força política autónoma, não hesitavam em aliar-se para o derrotar, abandonando todas as diferenças que existissem entre si.

De então para cá, a história apenas tem confirmado este facto. O que aponta a necessidade de organização do proletariado como força política autónoma, com ideias e objectivos próprios.


Comentários dos leitores

antonio alvao 1/5/2023, 21:28

Não é bonito introduzir ou trocar elementos dos acontecimentos históricos, que não correspondam à verdade, mesmo que sejam parciais. As narrativas devem ser rigorosas e imparciais, mesmo que nos possam doer ideologicamente - o que nem é o caso - As correntes revolucionárias da altura eram: Anarquistas proudhonianos, blanquistas e jacobinos. Um jacobino não concordou com o programa da Comuna, e saiu. Só um marxista intelectual aderiu à comuna e não era francês, era húngaro. Nessa altura, não existia organizações ou partidos comunistas. Segundo literatura, o operário francês nunca tinha ouvido falar em Marx, nesse tempo. Os comunards de Paris, foram os únicos que morreram pela honra de França. Homens mulheres e crianças, tudo pegou em armas para combater o invasor. As crianças quando viam seus pais a caírem mortos, eram elas que pegavam nas suas armas. Estas crianças também foram fuziladas. A negociação entre os prussianos e o governo de Versalhes, foi o de entrega de duas províncias francesas, Als. e Lor. e muitos milhares de francos. O esmagamento da Comuna entrou também no contrato, para o efeito implicava a vinda das tropas prussianas, mais 100.000 tropas francesas prisioneiras, que se juntaram ao exercito de Thiers. Ao todo eram 170.000 soldados. Galliffete foi o general que comandou o esmagamento. As vitimas mortais rondam à volta de 30.000. pararam de matar porque não tinham que fazer a tantas mortes. Antero de Quental e Guilherme Azevedo foram em Abril visitar a Comuna. Amigos de Antero, que tinha na Comuna, aconselharam a virem para Portugal para não serem mortos. "Ide para Portugal, os trabalhadores portugueses precisam de vós. Nós vamos morrer todos aqui".

"A Comuna realizou esta palavra de ordem de todas as revoluções burguesas, o governo barato, abolindo as duas grandes fontes de despesas: O exercito permanente e o funcionalismo.
Se a comuna for derrotada, a luta só será adiada. Os princípios da Comuna são eternos e não podem ser destruídos; serão sempre postos de novo na ordem do dia, enquanto a classe operária não tiver conquistado a sua libertação.
A recordação dos seus mártires é piedosamente conservada no grande coração da classe operária" (Marx).


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