Pôr fim à guerra: uma voz solitária no Parlamento Europeu
Editor / Clare Daly — 30 Outubro 2022
Apesar de a UE não ter um quadro legal que lhe permita acusar um país terceiro de patrocinar o terrorismo de Estado, o Parlamento Europeu levou a cabo em 18 de outubro um debate acerca do assunto sob pressão das autoridades ucranianas. Dias antes, o Conselho da Europa fizera o mesmo, com direito a discurso de Zelensky, pois claro. Em ambas as sessões, o alvo, evidentemente, foi a Federação Russa, e o propósito declarado foi o de forjar, pelo menos no plano moral e da propaganda, uma condenação das autoridades russas para lá do quadro específico da guerra.
Desprezando a ausência do referido quadro legal da UE, o inconcebível Josep Borrell (vice-presidente e alto representante para a política externa da Comissão Europeia) sugeriu, numa mensagem aos deputados, que importariam as decisões que fossem tomadas nos parlamentos nacionais, induzindo assim cada estado membro a fazer a condenação que a UE como entidade não está habilitada a fazer.
A falta de pudor de Borrell levou-o mesmo a fazer comparações com a condenação do Daesh ou da Alcaida — organizações que os EUA e a UE patrocinaram quando lhes conveio — como se isso constituísse precedente “legal” para o debate acerca do caso russo.
É evidente que tal manobra só contribui para cortar eventuais vias de diálogo que conduzam ao fim das hostilidades. Pela sua natureza, a posição da UE equivale ao decreto emitido por Zelensky que proíbe negociações com a Federação Russa enquanto Vladimir Putin for presidente.
Foi contra esta descarada aposta da UE na continuação da guerra e na sabotagem das negociações que se levantou a voz de uma deputada irlandesa do Parlamento Europeu (Grupo de Esquerda). Numa curta, mas veemente, intervenção denunciou a hipocrisia da Europa e dos EUA — esses, sim, patrocinadores do terrorismo e praticantes do terrorismo de Estado desde há décadas — e apelou a que fossem defendidos os genuínos interesses dos cidadãos europeus, ucranianos e russos.
UCRÂNIA, O MATADOURO DUMA CRUZADA SUICIDÁRIA CONTRA A RÚSSIA
Clare Daly, intervenção no Parlamento Europeu, 18 outubro 2022
“Estado promotor do terrorismo” é um termo da lei dos EUA. Não existe na lei da União Europeia. Mas um conselheiro de Zelensky lançou a ideia na Revista do Parlamento e isso bastou para aqui estarmos nós de novo a cumprir o dever.
Tudo o que se conseguirá [com tal debate] é tornar a paz mais difícil de alcançar. Exactamente, como é óbvio, aquilo que os extremistas querem: que não haja paz, que não haja saídas, que todas as pontes sejam queimadas e que a Ucrânia seja um permanente matadouro duma sagrada cruzada suicidária contra a Rússia.
Mas se querem começar a apontar estados promotores do terrorismo, vamos a isso:
A promoção pela Europa do terrorismo de Israel na Palestina. A promoção pelo Ocidente do terror saudita no Iémen. O ISIS, um produto da França, dos EUA, da Grã-Bretanha, dos turcos, [dos países] do Golfo que patrocinaram [intervenções] na Síria e no Iraque. Décadas de terrorismo de extrema direita apoiado pelos EUA contra a revolução cubana. Os Contra na Nicarágua. Os esquadrões da morte na Guatemala e em El Salvador. Lembrem-se do Vietnam, do Laos e do Camboja. Horror atrás de horror, terror atrás de terror.
Não há nada de construtivo em apontar a palha no olho do outro e não ver a trave no nosso próprio olho. Por aí não vamos lá. Comecemos antes a bater-nos pela paz, por pôr fim à guerra — isso é que é do interesse dos cidadãos da UE, da Ucrânia e da Rússia.
Tradução MV
Comentários dos leitores
•Teresa Alves Da Silva 30/10/2022, 21:27
É um "grito" no Parlamento Europeu....
A obstinada e deliberada política de isolamento total da Rússia, não permite qualquer esboço de abertura internacional ao diálogo, às negociações e possíveis plataformas e acordos com vista ao cessar-fogo....
No "ocidente" o "clima" é de violência crescente.......
•A Viagem dos ArgonautasA Guerra na Ucrânia — Pôr fim à guerra: Clare Daly, uma voz solitária no Parlamento Europeu. Por Mudarde Vida 1/11/2022, 15:00
[…] Publicado por Editor de em 30 de Outubro de 2022 (original aqui) […]