O verdadeiro propósito dos EUA

Editor / Global Times — 29 Abril 2022

Joe Biden e Lloyd Austin. Continuar a guerra para enfraquecer a Rússia

Numa reunião realizada na Alemanha em 26 de abril, na base militar norte-americana de Ramstein, o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, afirmou sem pudor o que já era fácil de ver: o propósito dos EUA na guerra é enfraquecer a Rússia. Ganha assim todo o sentido, agora pela voz dos próprios, a aposta norte-americana de prolongar as hostilidades o mais possível, tentando convencer o mundo de que a Ucrânia vai vencer. Prolongar as hostilidades significa não apenas fornecer armas e conselheiros a Zelensky, mas também alimentar a ilusão de que os russos podem ser vencidos, e ainda bloquear todas as tentativas de negociação ou de mediação conduzidas por países terceiros, caso dos europeus ou da Turquia.

No encontro de Ramstein participaram uns 40 “aliados” (entre eles Portugal) no âmbito do recém-criado Grupo Consultivo sobre a Segurança da Ucrânia, que se propõe fazer um balanço mensal sobre “as necessidades de defesa da Ucrânia”. O objectivo é só um: fornecer armas e mais armas às forças ucranianas, mês após mês, levando-as a combater até à exaustão. Como afirma o dito tornado comum, os EUA estão dispostos a combater os russos até ao último ucraniano. Ou, como disse o ministro turco dos Negócios Estrangeiros (membro da Nato): “Eles não se importam muito com a situação na Ucrânia”.

A confissão do dirigente norte-americano é duplamente reveladora. Ela não fala apenas sobre o comportamento dos EUA depois da guerra desencadeada. Fala também sobre a atitude que os EUA tomaram desde muito antes da invasão russa e que conduziu às hostilidades. Desde há catorze anos, quando o propósito de integrar a Ucrânia na Nato foi anunciada em Bucareste, os EUA promoveram todo o tipo de provocações no sentido de encurralar a Rússia, não lhe deixando outra opção — como bem disse um diplomata iraniano, ex-embaixador em Moscovo, em entrevista à PressTV — senão a escolha entre uma coisa má (a invasão) e uma coisa pior (a presença da Nato na sua fronteira, nas costas norte do Mar Negro e no Mar de Azov). 

Como afirma o texto do Global Times que divulgamos, Washington finalmente deixou de fingir.

 

WASHINGTON REVELA A SUA VERDADEIRA INTENÇÃO. ESCALADA DE TENSÃO COLOCA A EUROPA E O MUNDO EM RISCO

Global Times, 26 de abril

Os EUA querem “ver a Rússia enfraquecida”, disse o secretário de Defesa dos EUA, Lloyd Austin, em entrevista colectiva na Polónia na segunda-feira [25 de abril], após a viagem dele e do secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, a Kiev.

Washington finalmente parou de fingir e revelou o seu verdadeiro propósito. A principal intenção de Washington ao provocar o conflito Rússia-Ucrânia foi enfraquecer a Rússia, facto que tem sido amplamente reconhecido pela comunidade internacional. Moscovo está farta das investidas de Washington. Falando na segunda-feira numa reunião com altos funcionários do gabinete do Procurador-Geral, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou os EUA e seus aliados de tentarem “dividir a sociedade russa e destruir a Rússia por dentro”.

Um artigo do The New York Times considera que a essência do conflito Rússia-Ucrânia mudou, transformando-se “de uma batalha pelo controle da Ucrânia para uma batalha que coloca Washington mais directamente contra Moscovo”.

A retórica de “ver a Rússia enfraquecida” do chefe do Pentágono claramente implica que os EUA estão a tentar esgotar as forças militares da Rússia. “Washington planeia fornecer mais armas ofensivas à Ucrânia para equipar a capacidade militar ofensiva dos ucranianos contra a Rússia”, disse Lü Xiang, investigador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, ao Global Times.

Os EUA não querem dar espaço à negociação. A porta para a negociação, de facto, foi fechada. Embora Lavrov [ministro russo dos Negócios Estrangeiros] tenha apontado que as negociações de paz com a Ucrânia continuariam, os contactos tornaram-se uma conversa de surdos, sem qualquer significado prático.

As provocações cegas dos EUA contra a Rússia nada podem fazer a não ser atirar combustível para o fogo, empurrando a situação de escalada entre a Rússia e a Ucrânia ainda mais para o campo da incerteza. Como resposta, o ministro Sergey Lavrov alertou na segunda-feira [25 de abril] o Ocidente para não subestimar os riscos elevados de um conflito nuclear e enviou um alerta de que havia um perigo “real” de Terceira Guerra Mundial. Disse também que a Nato estava “em essência” envolvida numa guerra por procuração com Moscovo ao fornecer armas a Kiev.

Essas afirmações indicam que a Rússia está a fazer os seus preparativos. Se a Nato liderada pelos EUA fornecer à Ucrânia um fluxo constante de armas ofensivas e até destrutivas, e continuar as suas provocações verbais contra a Rússia, isso irá exasperar Moscovo, levando-a a procurar maneiras de aumentar a resposta para lidar com a crise na Ucrânia. Isto provocaria riscos de o conflito transbordar. As práticas dos EUA em relação à Rússia agravam o risco de transformar a Europa num campo de batalha, o que representará um enorme desastre para os países europeus e para o mundo.

O principal objectivo da viagem de Blinken e Austin é prolongar o conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia. Washington está a tentar enfraquecer a Rússia à custa da Ucrânia, o que é claramente o que os ucranianos estão relutantes em ver. Aos olhos dos EUA, a Ucrânia é apenas um peão. O derramamento de sangue dos ucranianos é apenas um instrumento para servir a intenção de Washington de pressionar a Rússia. Tal como o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlüt Çavuşoğlu, disse em 20 de abril: “De entre os estados membros da Nato há os que querem que a guerra continue, que deixam que a guerra continue para que a Rússia fique mais fraca. Eles não se importam muito com a situação na Ucrânia”.

(Tradução: Mudar de Vida)


Comentários dos leitores

Leonel Lopes Clérigo 2/5/2022, 16:52

A NECESSIDADE de VOLTAR a CHAMAR os "BOIS PELOS NOMES"

1 - O texto acima, julgo eu, começa bem ao colocar a questão essencial da ORIGEM da "guerra da Ucrânia": "o propósito dos EUA na guerra é enfraquecer a Rússia", uma questão que nos permite sair fora do "choradinho" dos "desastres de guerra" fabricado para impedir a sua compreensão.
Contudo, não vou comentar aqui essa questão mas uma outra que se relaciona com ela: supondo possível os USA atingirem esse seu objectivo, QUE SE VAI SEGUIR ou seja, qual o provável DESENVOLVIMENTO FUTURO dos acontecimentos?

2 - É para mim claro não ser a Rússia o "INIMIGO PRINCIPAL" dos USA ou seja, não ser esse o seu OBJECTIVO ÚLTIMO, mas a CHINA. Esta sim, representa hoje o INIMIGO SÉRIO para a HEGEMONIA dos USA, quer do ponto de vista ECONÓMICO, quer do POLÍTICO e do SOCIAL. Daí, o "enfraquecimento" da RÚSSIA equivaler a um passo importante no ISOLAMENTO e "DESEJÁVEL" DERROTA FUTURA da CHINA.
Isto sim, é uma questão decisiva dado que a TRANSFORMAÇÃO da velha CHINA "ATRASADA" num PAÍS de "PRIMEIRA LINHA" é um MAU EXEMPLO para o extenso MUNDO dos SUBDESENVOLVIDOS - como nós... - que há largo tempo procuram saber "como isso se pode fazer". A conversa fiada à volta dos PIBs - como fez recentemente o banqueiro HORTA OSÓRIO - já tem barbas e sempre termina em "águas de bacalhau".
Ninguém de bom-senso acreditará que ao ver este "actual" OBJECTIVO CUMPRIDO - o "enfraquecimento" da Rússia - os USA "regressem a casa", desmantelem a NATO e passem o resto da vida divertidos a jogar "Bacará" nos casinos de Las Vegas. Um DONO dum IMPÉRIO não tem descanso, sobretudo militar: a VIGILÂNCIA e OFENSIVA PERMANENTES é seu OFÍCIO a TEMPO INTEIRO, sempre atento a quem pretende "pisar o risco", chame-se ele CUBA, CHILE, IRAQUE, VENEZUELA...

3 - Se olharmos a população mundial verificamos:

População conjunta da CHINA e RÚSSIA: ........1.585.257.460
População dos 28 membros da NATO: .................944.074.239
População de importantes "5 amigos" do IMPÉRIO USA:
Japão, Austrália, Israel, Filândia, Suécia ...............176.271.868

Sendo assim, a China/Rússia tem ainda um saldo positivoa seu favor de cerca de 464.900.000 milhões de "almas" - mais do que a população total dos USA. Deste modo, há que ter em atenção que, quando o OCIDENTE manda para "cima da mesa" um "ramo farfalhudo" de PAÍSES - apesar do "estardalhaço" em parecerem muitos - a soma deles tem um saldo "Democrático" NEGATIVO e significativo.
É evidente que a POPULAÇÃO não é factor único de "vitória certa" político/militar: outros entram em jogo, como aconteceu em Aljubarrota. Mas, tecnologicamente, a situação actual já não permite ao OCIDENTE "cantar de galo": o armamento disponível tornou-se bem perigoso e parece não permitir um VENCEDOR. A não ser que este encare seriamente o seu "regresso às cavernas".

4 - É minha opinião que o CAPITALISMO já entrou na fase de decadência acelerada. A razão desse "diagnóstico", julgo eu, não reside em qualquer "paixão ideológica" mas, simplesmente, na já VISIVEL INCAPACIDADE (interna/estrutural) em resolver as GRAVES QUESTÕES que hoje se põem a TODA a HUMANIDADE e que vêm sendo enumeradas pelos chamados - ou mal-chamados - "Movimentos Sociais": a velha e decisiva questão da EXPLORAÇÃO do TRABALHO ASSALARIADO assim como o "DESIGUAL DESENVOLVIMENTO" dos POVOS (incapaz de solução nos "moldes" capitalistas), a ECOLOGIA e a balbúrdia do CRESCIMENTO assustador da POPULAÇÃO MUNDIAL (que já vai a caminho do dobro do que parece "permitido" pela "pegada ecológica") e que é estimulada pela necessidade crescente do "célebre" MERCADO CAPITALISTA: vender mais, necessita "compradores".
E considero ainda que este tipo de "CONVULSÕES" a que estamos assistindo, são peças que se encaixam no ESTREBUCHAR do percurso DECADENTE do CAPITALISMO, coisa que não é de admirar: os MODOS de PRODUÇÃO que vêm sucedendo na HISTÓRIA não foram "morrendo" por "obra e graça do Espírito Santo", mas porque "envelheceram" e "morreram" ao TORNAREM-SE INCAPAZES de SOLUCIONAR os GRAVES PROBLEMAS ECONÓMICO-SOCIAIS que tinham entre mãos.

Leonel Lopes Clérigo 6/5/2022, 13:01

Diz-se que "A fome e o frio põe a lebre a caminho". E não tarda podermos ver os "cérebros" financeiros da "nossa" descabelada burguesia irem em peregrinação ao túmulo de HJALMAR SCHACHT.
E a propósito: não duvido que a IRENE PIMENTEL saiba quem foi este "mago" das Finanças: um ministro de HITLER mestre em "doenças da inflação".


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