Incêndios e inundações: vamos ver mais disto

António Louçã — 18 Julho 2021

Os negacionistas das alterações climáticas continuarão a esconder a cabeça na areia

Nos Estados Unidos e no Canadá, temperaturas a rondar os 50 graus centígrados, causaram uma vaga sem precedentes de incêndios florestais e urbanos, tendo consumido até agora uma área equivalente a 350.000 campos de futebol.

O ano passado tinha registado os fogos florestais mais devastadores da história da Califórnia, mas este ano, em julho, já conseguiu ser pior. 

Para evitar mais um “apagão” como os de anos anteriores, tiveram de ser adoptadas medidas de racionamento da energia nesse Estado norte-americano, que se ufana de ser, pelo seu PIB, a quinta potência económica do mundo. O consumo de água está também a ser reduzido, havendo apelos do governador da Califórnia a que se suspenda a irrigação de relvados e até a que se tome duches mais curtos.

No Canadá, a canícula causou dezenas de incêndios e uma povoação de 250 habitantes, Lytton, foi completamente destruída pelo fogo. Sendo um dos países mais ricos do mundo, o Canadá teve de pedir a ajuda de uma centena de bombeiros mexicanos.

Ao mesmo tempo, a um oceano de distância, a povoação alemã de Ophoven, com 700 habitantes, teve de ser evacuada devido ao rebentamento de um dique e na sequência de inundações de dimensão nunca vista que já provocaram mais de uma centena de mortos confirmados e mais de um milhar de desaparecidos. Viaturas ligeiras e mesmo autocarros foram arrastados pela corrente e vários edifícios desabaram nas proximidades da cidade de Colónia.

Um mau ano? Nem tanto. Com a ganância capitalista a apertar como aperta, vamos ver mais disto e espera-nos um mau século. Como os negacionistas da covid, os negacionistas das alterações climáticas continuarão a esconder a cabeça na areia. E o problema é que esses negacionistas estão em posições de poder.

Para causarem todos estes estragos, nem precisarão de atingir os extremos grotescos de um Bolsonaro, que incendeia e devasta a Amazónia e ao mesmo tempo recomenda ao povo brasileiro que, para proteger o ambiente, procrie menos, coma menos e defeque menos. No meio da tragédia, uma saborosa ironia da vida fê-lo cumprir, ao menos, o terceiro destes preceitos.

Engana-se quem pensar que, afastado Trump da Casa Branca, as portas estão abertas para se adoptar uma política de defesa do ambiente. A retórica de Biden a favor do acordo de Paris não consegue esconder que as mais ambiciosas promessas emitidas — e são promessas — apontam para a neutralidade carbónica em 2050. Daqui até lá, o capitalismo tem 30 anos para destruir o planeta, incendiando-o como a Roma de Nero ou submergindo-o como o mundo de Noé.


Comentários dos leitores

José Mário Costa 18/7/2021, 11:31

Só a ganância do capitalismo? E a China, antes e depois do maoismo, ou a Rússia de hoje e a URSS de antes, mais os seus atentados ao ambiente e os demais Chernobyles, em nome da respetiva industrialização acelerada?

Porque conheço, só vejo uma exceção: o Vietename — provavelmente o país com mais regiões consagradas pela UNESCO como património ambiental.

José Mário Costa

Isabel Maria Viana Moço Martins Alves 23/1/2022, 12:13

É um excelente artigo.


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