Gaza de novo brutalizada por Israel

Comité Nacional Palestino BDS — 29 Agosto 2020

O muro da vergonha. Boicote às empresas que apoiam Israel

Durante mais de onze noites consecutivas, as forças militares israelitas bombardearam Gaza, desde 11 de Agosto, aterrorizando os seus habitantes. Dois milhões de palestinos vivem na maior prisão a céu aberto do mundo, devido ao cerco montado por Israel desde há 13 anos. Desta vez, o pretexto de Israel foram os balões incendiários lançados desde Gaza, causando fogos em terras agrícolas nos colonatos israelitas perto das cercas militares que circundam Gaza.

Os ataques israelitas danificaram residências e infraestruturas civis, incluindo uma escola primária no campo de refugiados de Shati administrado pela Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA), bombardeado na madrugada de 13 de Agosto. A UNRWA contestou a alegação de Israel de que o ataque foi resultado de um “acidente”, dado que todas as coordenadas actualizadas das instalações da ONU são fornecidas às autoridades da ocupação israelita.

A queda do míssil israelita na escola deu-se poucas horas antes do começo das aulas e poderia ter provocado um massacre de crianças e professores.

Esta nova onda de bombardeamentos israelitas coincide com o sexto aniversário do massacre de mais de 2.250 palestinos, incluindo 551 crianças, cometido por Israel em 2014 durante um ataque militar prolongado a Gaza. Uma declaração assinada na época por mais de 140 especialistas de direito internacional e de direito penal, juristas e outros defensores dos direitos humanos, dizia: “A maioria dos recentes bombardeamentos em Gaza carece de uma justificação militar aceitável e, em vez disso, parecem ter sido concebidos para aterrorizar a população civil.”

Uma investigação da ONU de 2019 sobre os ataques de Israel a manifestantes palestinos desarmados que participaram na Grande Marcha do Retorno, lançada a 30 de Março de 2018, indica que havia “motivos razoáveis para acreditar que os franco-atiradores israelitas alvejavam jornalistas, profissionais da saúde, crianças e pessoas com deficiência, sabendo que eram claramente reconhecíveis como tais”. O relatório da ONU concluiu que, “Essas graves violações dos direitos humanos e do direito humanitário podem constituir crimes de guerra ou crimes contra a humanidade”.

Crimes impunes

Estes repetidos crimes israelitas contra uma população civil cativa (1) que não tem para onde escapar só continuam impunes devido à cumplicidade dos governos ocidentais, especialmente dos Estados Unidos, Reino Unido e UE, e do conluio de alguns regimes árabes despóticos.

Qualquer tentativa de “normalizar” as relações ou de justificar negócios “usuais” com Israel significa na realidade um apoio material ao seu contínuo apartheid e aos massacres contra o povo palestino.

As empresas militares israelitas, incluindo a Elbit Systems e a Israeli Aerospace Industries, testam as suas armas na população palestina para depois as exibir no mundo inteiro como “testadas em combate”. Os produtores internacionais de armas e alta tecnologia colhem os seus próprios lucros, fornecendo armas e munições a Israel para os seus ataques ao povo palestino.

O apartheid israelita reforçou o seu bloqueio à Faixa de Gaza nos últimos dias, proibindo completamente a pesca nas suas costas e impedindo a entrada de mercadorias e combustível desde 10 de Agosto, causando uma paragem completa da única central eléctrica da sobrepovoada Faixa. Isto pode levar a uma verdadeira catástrofe humanitária, nomeadamente a ruptura do sistema de saúde num momento de pandemia global, dos transportes e de outros serviços vitais — que, já desde 2007, sofrem os efeitos de uma crise eléctrica sufocante e cortes de produtos básicos devido ao cerco israelita.

As Nações Unidas preveniram que seria “impossível viver” em Gaza em 2020. Mesmo assim, Israel continua o seu cerco brutal e os seus ataques militares, a sua limpeza étnica implacável e gradual do Naqab (Negev) e da Cisjordânia, especialmente em Jerusalém Oriental e nos seus arredores e Vale do Jordão, sem sofrer quaisquer consequências. A ONU e os governos mundiais falharam em responsabilizar o regime de ocupação de Israel, o colonialismo dos colonatos e o apartheid, impondo-lhe sanções específicas.

Apelo do Comité Nacional Palestino BDS

Em resposta ao contínuo bombardeamento do apartheid de Israel contra a Faixa de Gaza ocupada e sitiada, o Comité Nacional Palestino do BDS (2) reitera os apelos da sociedade civil palestina para sanções direccionadas e legais contra Israel, em particular um embargo militar urgente e alargado, e uma intensificação dos boicotes e campanhas de desinvestimento para acabar com os seus crimes.

Para parar o apartheid israelita e os seus crimes de guerra e contra a humanidade em curso e para apoiar a luta palestina pela liberdade, justiça e igualdade, apelamos às pessoas de consciência em todo o mundo para que:

1- Pressionem os governos e parlamentos para cumprir as suas obrigações legais internacionais, impondo um embargo militar global a Israel, conforme solicitado pela sociedade civil palestina e pela Amnistia Internacional.

2- Intensifiquem o boicote académico e cultural a Israel e às suas instituições cúmplices, especialmente à luz dos contínuos ataques devastadores contra instituições educacionais e culturais palestinas em Gaza, Jerusalém e noutros lugares.

3- Ampliem o envolvimento em campanhas de boicote e desinvestimento visando empresas que permitem crimes israelitas contra palestinos, particularmente as que constam na base de dados das Nações Unidas e as numerosas empresas cúmplices que ainda não foram incluídas.

Palestina Ocupada, 23 Agosto 2020

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(1) A grande maioria dos residentes de Gaza são descendentes dos mais de 750 mil refugiados palestinos que sofreram a limpeza étnica — praticada pelas milícias sionistas e depois pelo exército israelita — durante a Nakba de 1948.

(2) Comité Nacional Palestino do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções. Coligação ampla da sociedade civil palestina para conduzir e apoiar o movimento BDS pelos direitos palestinos. Defende o princípio simples de que os palestinos devem gozar dos mesmos direitos que o resto da humanidade.

Fontes: BDS  / GAP


Comentários dos leitores

Teresa Alves da Silva 29/8/2020, 20:43

A divulgação do relatório do Comité Nacional Palestino que sob a forma de Apelo , incita os cidadãos e as nações à acção, é um documento muito importante, pelo convite directo à intervenção politica.
Foi muito positivo que tenha sido divulgado pelo MV
Solicitava à edição deste jornal , a possibilidade de acesso à referida lista de empresas israelitas, base de dados das Nações Unidas.
Talvez , individualmente, nas nossas "escolhas", na qualidade de cidadãos livres informados, possamos contribuir para esse boicote.

mraposo 30/8/2020, 14:40

Correspondendo ao pedido de Teresa Alves da Silva, já estão no texto do artigo as ligações para a base de dados das Nações Unidas e para a lista de outras empresas cúmplices ainda não incluídas naquela lista.
Obrigado pela sugestão.


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