A Bielorrússia, o ferreiro e o espeto de pau

António Louçã — 18 Agosto 2020

Protestos contra os resultados eleitorais

Parece fácil cantar de galo sobre um regime que, embora sem ter chegado ainda ao refinamento monárquico da Coreia do Norte, permite a Alexander Lukashenko uma presidência quase vitalícia. Mas não é qualquer um que pode cantar de galo. Os media ocidentais têm muitas vezes clamado contra coisas que acontecem na Bielorrússia e que eles próprios, entretanto, deixaram passar como normais na sua própria casa de ferreiro. A televisão nacionalista e reaccionária russa RT tem-se banqueteado com essas incoerências.

Na Bielorrússia presidencialista, o presidente manda e o parlamento faz de cenário inerte. E nos Estados Unidos? Ainda há duas semanas, Donald Trump passou por cima das duas câmaras do Congresso e emitiu um par de ordens executivas a partir do seu clube de golfe em New Jersey, limitando a um bilião de dólares o pacote de ajudas imediatas em subsídios devido à pandemia, quando estava em discussão um novo pacote à volta dos três biliões, como fora o de maio.

Além do montante, estava em causa, por exemplo, a suspensão das acções de despejo. Com um traço de pena, entre duas tacadas de golfe, Trump decidiu que não seria dilatada a moratória sobre os despejos e que não receberiam ajuda federal as famílias em dificuldades para pagar as rendas. As instituições parlamentares norte-americanas escandalizaram-se com a desenvoltura do presidente golfista, mas até agora não foram além do escândalo.

E, já agora, por falar em parlamento transformado em cenário inerte, que dizer do bloco central português, que cerceou o papel fiscalizador do parlamento, ao passar os debates quinzenais a bimestrais? Pelos vistos, era demasiada prestação de contas para o gosto de um “arco de governação” sempre desejoso de ter as mãos livres.

Na Bielorrússia houve uma fraude eleitoral e Lukashenko recusa-se a repetir as eleições. E na Bolívia, onde não houve sequer fraude eleitoral, mas apenas um golpe de Estado, e a presidente golpista, perante sondagens favoráveis ao partido de Morales, adia as eleições sem embaraço nem vergonha?

Na Bielorrússia, a candidata presidencial de oposição foi assediada, detida, coagida a ler na televisão um apelo à desmobilização dos manifestantes, empurrada para o exílio — tudo isto depois de ter apresentado a candidatura, com os entraves referidos. E no Brasil, onde Lula foi impedido de sequer se candidatar, e na Bolívia onde o mesmo processo foi usado contra Morales?

Na Bielorrússia as manifestações são reprimidas com munições reais, milhares de manifestantes são detidos e centenas permanecem na cadeia, diz Emmanuel Macron. E na França, pergunta-lhe a RT, como foi a repressão dos coletes amarelos? Na França, no Reino Unido, nos EUA, como é a repressão de Black Lives Matter por se manifestar, ou simplesmente a repressão dos negros por serem negros?

Do outro lado da barricada, há também analogias. Na Bielorrússia, no day after da fraude eleitoral, tudo começou com grandes manifestações de rua. Hoje, o magma indiferenciado da mobilização cívica deu lugar ao combate classista, à greve geral política, às assembleias operárias em grandes fábricas paradas — imagens que os teóricos pós-modernos habitualmente recordam dos livros de História e comentam desdenhosamente, como relíquia paleocénica irrepetível. Na Bolívia, a contestação das golpadas filhas do golpe começou pela classe média indígena, que ascendera sob as presidências de Morales, e acabou por dar lugar aos cortes de estrada e ao anúncio de uma greve geral por tempo indeterminado. Foi o perigo fascistóide representado por Jeannine Añez que decidiu a COB, a histórica central sindical, a pôr de lado os justificados ressentimentos contra a política repressiva de Morales, e a exigir resolutamente a realização de eleições.

Nos EUA não há uma central sindical como a COB, nem existem grandes bastiões operários organizados como as fábricas de Minsk, mas podemos supor que os milhões de manifestantes que inundaram as ruas desde o assassínio de George Floyd venham, mais tarde ou mais cedo, a ter um impacto nas cabeças dos operários brancos norte-americanos, atordoados com décadas de demagogia racista.


Comentários dos leitores

afonsomanuelgoncalves 19/8/2020, 16:14

Depois do desmembramento da URSS levado a cabo peLos talibâns com o apoio logístico da CIA nas montanhas inóspitas do Afeganistão contra o exército da URSS, os países adjacentes ao regime soviético tiveram o azar de não poderem sobreviver às aspirações da social-democracia ocidental que desde há muito tempo aspiravam a ocupar esse lugar sinistro odiado pelos povos submetidos ao revisionismo ou social fascismo como lhe chamava o Partido comunista chinês. Para não citar um relatório secreto apresentado pelo Partido comunista num Congresso em 1or6 que em qualquer lugar do mundo seria considerado em si mesmo um ac to fascista , deguiu-se a Hungria em 1956, na Alemanha com a construção fascista do muro do muro de Berlim em Agosto de 1961( em defesa do socialismo) na Checoslováquia em 68, na Roménia, Polónia,Ucrânia etc. e agora na Biellorrússia. Como diz o ditado em casa de ferreiro come-se com colher de pau .

leonel clérigo 21/8/2020, 11:32

No "Comentário" acima, Afonso Gonçalves (AG) "aflorou" alguns aspectos da História do Socialismo - e do Comunismo - e que tem, além de outras, a vantagem de nos tentar "situar" no "jogo de forças" em que se digladia o "nosso mundo". E parece-me evidente, julgo, que AG não pretende dar-nos conta da "História acabada" - ele o dirá... - mas simplesmente dar o que supõe ser um "entendimento" plausível.
Contudo, também me parece que o caminhar na História merece ser persistentemente "revisitado", apesar de haver quem não goste de "revisionismos" - deixando os "mortos" no seu eterno sossego... - e fique "incomodado" com os "funerais" dos mundos que se "acabam" e invadem já a "atmosfera" com seu cheiro pestilento.

1 - Tudo isto vem a propósito das "razões" do "desmembramento" da URSS trazido acima por AG. Se li bem, AG parece referir que esse "desmembramento foi "obra" dos "talibãs" amparados no "apoio logístico" da CIA. Contudo, entendo ser isto apenas a descrição do "golpe final" e não a "causa" principal, INTERNA à URSS (1): uma guerra tem sempre e como um seu principal objectivo a derrota militar com vista à "destruição" do peso económico do "inimigo", amparado na derrota militar que a executa.

2 - Para encurtar, a Alemanha e a Rússia "chegaram tarde" à Revolução Industrial e, por isso, perderam a oportunidade de o conseguirem de forma histórica "progressiva" e dita "democrática", apesar de "cortarem as cabeças" às respectivas realezas: tiveram que a encarar de "Forma Forçada". Daí, a "dura" e inevitável política interna de um Bismark e de um Lenine - e Estaline - para colmatar o "atraso".

3 - Mas, apesar de partilharem o propósito "desenvolvimentista" de seus países, apresentam-se, contudo, com duas das "formas", dois PROJECTOS POLÍTICOS diferentes, dois rumos para se chegar à almejada "Modernidade" trazida pela Ciência à Produção Social: a forma CAPITALISTA e a forma SOCIALISTA.
A primeira - a Alemã - apostava na Produção e Reprodução da Forma Capitalista já existente - a exploração do trabalho alheio da classe trabalhadora "interna" e dos povos colonizados das nações dependentes do "exterior".
Já a segunda, no seu oposto, "contava com as próprias forças" - sem exploração colonial - conforme os ensinamentos de Marx que considerava a RIQUEZA SOCIAL - na continuidade de A. Smith - ser um fruto por inteiro do TRABALHO do HOMEM. E como a Rússia - como as outras Nações - não era um País de população "paralítica", a criação de Riqueza só poderia depender do TRABALHO dos Russos: de facto, "não há almoços grátis".
Hoje é fácil entender onde foram desaguar estes dois diferentes "Projectos Políticos": o Alemão, à guerra Imperialista e o Russo ao desenvolvimento "autocentrado" que permitia centrar-se na PRODUÇÃO (INDUSTRIAL) INTERNA de VALOR. E o jogo desta "análise concreta" vai impor a construção da "frente anti-imperialista" das Nações com seu "direito a disporem de si próprias" para "enfraquecer" os Impérios capitalistas.
E se se quiser entender - sem aldrabices parvas - as duas "guerras mundiais" europeias, há que ter isto em consideração.

4 - "A queda do muro", continua ainda numa larga "ocultação" dos verdadeiros problemas político-económicos da URSS que se iniciam logo no pós-guerra com o "cerco" da Guerra Fria e da "Cortina de Ferro". A própria luta "anti-revisionista" fez disso "tábua rasa" ou seja, da Política Económica e das dificuldades impostas pelo "isolamento" à URSS. Isolada pelo Mundo Capitalista - como a Europa já registara no cerco do Islão à Europa Ocidental e a forçou ao Feudalismo e ao contar com suas "próprias forças" - a URSS foi derrotada: só ganha "novo fôlego" com a posterior chegada do "gigante" Chinês à esfera das grandes Potências Industrializadas.

5 - A este propósito, parece-me ser adequado - entre os marxistas portugueses e apesar do seu atraso - fazer a leitura dum Preobrajenski - "pai" do Planeamento económico soviético (mais sua polémica com Trotski) - assim como do polaco Kalecki ("discípulo" de Rosa Luxemburgo) ou de um Sraffa (referenciado por Gramsci)..., o que talvez possa ajudar a desfazer muitas das narrativas centradas em "frases feitas" e "ocas" legadas pelas "circunstâncias"...
Os que consideram a REVOLUÇÃO como uma "necessidade histórica" exigida pela "decadência" das coisas, não podem mais continuar a privilegiar a "frase feita" no passado mas exigir soluções novas e sobretudo uma "solução socio-política-económica" - um PROJECTO POLÍTICO TOTAL, que em muito ultrapasse a "máscara" das "reivindicações sindicalistas" e transforme a presente organização social - que mostra já à evidência a sua incapacidade em solucionar os graves problemas que se colocam a tudo o que é "homo sapiens" deste Planeta. De ilusões, "já temos o Inferno cheio".

(1) - (1) - A "luta de classes na URSS" de CHARLES BETHELLEIM- e seu debate com o eminente marxista estadunidense PAUL SWEEZY - julgo ter representado uma tentativa, um esforço de clarificação que a "palavra" REVISIONISMO que está longe de poder "explicar", por si, a situação.

leonel clérigo 24/8/2020, 14:10

Ao ouvir hoje logo pela manhã um dos nossos "comentadores oficiais" da TV - o Prof. Costa Pinto - sobre a "comemoração" e "significado" da nossa REVOLUÇÃO LIBERAL de 1820, fiquei com a ideia de que a compreensão que eu já tinha daquele "acontecimento" não se alterou um milímetro. Efectivamente, como é possível hoje um "discurso" sobre a importante e primeira Revolução BURGUESA em Portugal sem qualquer referência à (palavra) BURGUESIA? Tudo me pareceu indicar que e para o Prof. Costa Pinto, 1820 caiu do "céu" sobre a cidade do Porto...e sem fazer estrago algum. Valha-nos o "santo" Júlio Dinis e a sua "ideia milagrosa" de "reformar" a "lusa" Aristocracia "rentista" com os métodos "burgueses" dum Tomé da Póvoa.
Ao menos, e há uns tempos atrás, o nosso Presidente da Assembleia da República ainda falava em "Paz dos cemitérios" - uma atitude "revisionista" condenada pelo nosso PR - apesar de hoje desconhecer se ainda mantém esse "entendimento"...
De qualquer maneira, os nossos historiadores têm muito por onde "arregaçar as mangas".

1 - No Comentário que fiz acima entendi - para não estender o "lençol" como é meu "mau hábito" - não referir um aspecto repleto de "vigarices" sobre a Revolução Russa e que julgo adequado recordar dado o tempo em que "vive" a nossa Sociedade Lusa.
Qualquer Revolução tem por objectivo "Resolver Problemas" que se tornaram "impasses sociais". E como a nossa Sociedade está hoje cheia deles, vale a pena "avivar" aos marxistas um pouco de "História".
Às portas da Revolução Russa de 17, Lenine já se apercebera do fracasso da "Revolução Europeia" nos moldes em que fora concebida: um "levantamento geral" Europeu para "construção do Socialismo" em "toda" a Europa. E irrompe então em 1920 uma concepção diferente: a do "SOCIALISMO NUM SÓ PAÌS".
Esta "concepção" despertou de imediato divergências profundas no interior do Partido Comunista Russo.

2 - Face a esta questão, acreditava TROTSKY - e estava "certo" nisso - que o "Socialismo num só País" ia "revolver" tudo o que era "tradição de luta" pelo Socialismo na Europa assim como sua visão MARXISTA INTERNACIONALISTA (a Revolução Permanente). Mas o fracasso da Comuna de Paris com suas "consequências", parecia já mostrar a forma desadequada dessa "revolução permanente".
Há então que notar que Trotsky errava ao identificar essa concepção (O Socialismo num só País) com Estaline quando foi ela uma posição surgida ao tempo de Lenine.

3 - A braços com a grande responsabilidade histórica da SOBREVIVÊNCIA e CONTINUIDADE da REVOLUÇÃO conquistada para solucionar os problemas do "subdesenvolvimento" da Sociedade Russa e transformá-la num PAÍS INDUSTRIALIZADO e MODERNO, o PC Russo "mudou a agulha". E passou a encarar a Revolução e seu futuro como um Problema "maioritariamente" INTERNO, contando fundamentalmente com as forças "revolucionárias e progressistas" da Sociedade Russa. Tudo o resto - estratégico e táctico - era passado que já dera provas suficientes de envelhecimento e inoperância. Por isso a nova INTERNACIONAL - A III que vai substituir a II Social-Democrata - vê o "apoio internacional" sob uma outra perspectiva: a "Defesa da Revolução Russa", uma "ancora" da Revolução dos Povos na sua luta Anti-Imperialista complementada com o "Direito das Nações a disporem de si próprias" (a "base aglutinadora" da FRENTE ANTI-IMPERIALISTA).

3 - A URSS - independentemente dos acidentes de percurso - "portou-se bem" até perto da sua derrota: vendeu bem a sua pele e fez o Capitalismo "passar um mau bocado" que ainda hoje se pode apreciar na emergência do grande Gigante Chinês e na "asma" que vem infligindo ao Capital Imperialista.
Hoje, já parece dominante o "salve-se quem poder" mais a luta surda por "debaixo do pano" como podemos apreciar agora com a Bielorússia.
Quanto ao Fascismo - um terrorismo de guerra - é uma Ideologia IMPERIAL e de "conquista" (ou "defesa" como aconteceu connosco) e por isso o seu provável "crescimento" virá associado a isso. Mas e curiosamente, este seu despontar será um fruto apodrecido do "espaço" do velho IMPERIALISMO quando este se sentir "encurralado" na sua sobrevivência e..."boa vida".
Daqui, não nos devemos admirar quando virmos os "velhos democratas" de gema das praias da Normandia, virem a vestir a "pele" dum nazi-fascismo "renovado"...

leonel clérigo 26/8/2020, 10:04

Aprendi com a minha avó que "não há duas sem três". E este meu comentário diz agora respeito ao "acordo que o Governo fez com a "Ordem" (uma velha sobrevivência do "fascismo" de Salazar) dos Médicos que, juntamente com a Ordem dos Advogados e a "horta" dos Engenheiros, constituíam os "profissionais de elite" do Corporativismo Salazarista.
Nesse sentido, deixo aqui e em nome da "boa disposição" um SAMBA do velho sambista brasileiro GERMANO MATHIAS: o "DOUTOR do SAMBA".

https://www.youtube.com/watch?v=mrOfJu46NAw

Teresa Alves da Silva 28/8/2020, 19:53

Sou leitora do Jornal Mudar de Vida- Jornal Popular.
Não me considero culta politicamente, mas sim interessada e atenta, e portanto procuro no dia a dia, informação objectiva , clara e descomprometida.
Ora bem, porque há um claro apelo do MV, enquanto jornal politico popular e sem estrutura partidária, à participação dos seus leitores em criticas e sugestões, que resolvi intervir.

O último artigo de A. Louçã , 18 Agosto p.p., sobre as eleições na Bielorrússia, não aborda as circunstâncias sociais , politicas e até económicas que proporcionaram a fraude eleitoral, por manipulação de resultados do poder politico vigente.
Salta dessa noticia, para um mais "caso" da administração Trump.
De seguida, refere uma noticia nacional, de ter sido sido decidido a diminuição da frequência dos debates na Assembleia da Republica, com o Governo.
De volta à Bielorrússia,aborda as vicissitudes da candidata à presidência, pela oposição.
Passa à Bolívia, onde não tendo havido fraude eleitoral, mas sim golpe de estado, o que acarretou a decisão de adiamento da data das eleições.
Depois, no Brasil, refere o facto/noticia de Lula da Silva ter sido impedido de se candidatar à presidência.
A partir da declaração de E. Macron sobre a Bielorrússia e a magnitude das manifestações, após o acto eleitoral, o autor compara com a repressão oficial em França , a propósito dos movimentos dos coletes amarelos.No mesmo paragrafo,enquadra a repressão estatal aos movimentos de contestação à repressão e descriminação politica , social e económica dos cidadãos americanos negros , nos USA e UK.

E continua, "do outro lado da barricada"( ?), com referências à Bolívia.O texto , contem referência ao facto de os USA não terem central sindical, nem organizações de operários,, como na Bielorrússia, mas expressa que os movimentos populares, após o assassínio de George Floyd, podem ser o inicio de futuro da consciencialização dos americanos brancos operários.

Tudo bem, mas então a análise das eleições na Bielorrússia ? Quais as condicionantes que permitiram a fraude?

O artigo é omisso, mas da sua leitura posso inferir que o seu autor é um politico conhecedor da realidade mundial, mas o texto não é informativo nem pedagógico, ou melhor escrevendo , não cumpre uma das funções/objectivos propostos pelo MV.
..................fornecer aos leitores chaves para o entendimento da realidade"............

Referindo agora , os comentários dos leitores, subsequente ao artigo.

O comentário do A. Gonçalves, pareceu que tentou abordar, aspectos/factos da evolução do comunismo e socialismo no sec .xx. Mas, o tema do artigo ficou omisso.... e se pretendeu transmitir alguma comparação da historia com o momento presente na Bielorrússia..... não deu para entender.


O comentário do L. Clérigo,que parecia tentar retomar o fio do comentário anterior, ou interpretar.....também não é possível entender.
Faz , em dia seguinte, um segundo comentário , aborda um facto histórico nacional, importante igualmente para o Brasil- A revolução liberal de 1820- e daí passa a referir se à Revolução Russa.

Elabora um terceiro comentário, noutro dia seguinte, em que o tema da Bielorrússia esta ausente, não tendo conseguido entender a sua ideia.....mas termina com um link para um video de um samba do velho Germano Mathias, que não consegui "abrir".

Mas , então porque me dei ao trabalho de escrever tanto ??
Quero expressar o meu desagrado, sobre este tipo de textos.
Quero, simplesmente e com humildade intelectual, afirmar que o MV , assim não cumpre as funções para que foi criado, é mais um jornaleco onde não se aprende .
E, ainda tão importante como o referido, é que há leitores e autores que se servem da oportunidade que o MV proporciona, para produzirem exercícios escritos demonstrativos do seu nível cultural politico, sem interesse para os leitores em geral.
Queria ainda referir, porque me parece oportuno, que um jornal popular, não o é porque contem nos seus textos frases populares ( ex: "cantar de galo", "não há duas sem três","em casa de ferreiro......." e etc.), mas pelo conteúdo , interesse, pedagogia e simplicidade dos textos que divulga.....

E , já agora, quem responde, quem analisa, quem enquadra??
A RTP, anunciou no noticiário do meio dia, hoje dia 28, que Putin afirmou , já ter forças prontas para intervir na Bielorrússia .

leonel clérigo 29/8/2020, 13:35

Li com agrado o texto crítico de Teresa Alves da Silva (TAS) até porque uma das ideias de José Mário Branco sobre o MUDAR de VIDA - a quem se deve o "nome"... - era estimular a crítica e o debate profundo na "área da esquerda". Eu próprio já lancei algumas "biscas" (1) nesse sentido - a última e directa foi a Manuel Martins - mas resultaram em "águas de bacalhau". Felizmente que a TAS veio agora à liça.
Contudo, há para mim um pequeno problema na crítica da TAS e que passo a resumir.
É meu entender que o País onde vivemos está hoje ferido de vários "impasses sociais": não anda nem para a frente nem para trás. E o maior de todos - em minha modesta opinião - é o da existência duma "máquina produtiva" apodrecida e bloqueada por uma BURGUESIA RENTISTA DOMINANTE e rasca que - apesar do seu poder - não se permite reformulá-la e adequá-la às necessidades do POVO PORTUGUÊS que, há séculos, anda metido nesta embrulhada do RENTISMO. (2)
Dado esta situação dramática por que passamos, considero um DESPERDÍCIO andar a "debater" a BIELORÚSSIA tal como se andou recentemente às "voltas" com o "democrata" Juan Guaidó e o "ditador" Maduro (para só falar destes).
TAS: vai-me permitir que reforce aqui uma ideia sobre o que são "manobras de diversão".
Os Bielorussos já são "crescidinhos" e julgo que saberão "tratar de si". E se não souberem, que aprendam, que é o que acontece também a nós. Não precisam dos "Lusos" para lhes ajudar a "arrumar a casa" assim como nós não precisamos dos Bielorussos" para tratar da nossa vida: isto é assunto que só a nós diz respeito e a mais ninguém.
Se há coisa que tenho como certa é que os POVOS têm "DIREITO a DISPOREM de SÍ PRÓPRIOS" e sem ingerências de qualquer espécie. Quem quiser ser IMPERIALISTA que faça por acreditar que está "no seu direito democrático", mas não venha "puxar" o "subdesenvolvido" e "dependente" para "aventuras guerreiras". Já chegaram, na Europa, duas guerras mundiais e a NATO estacionada no Báltico que tenha juízo na cabeça, que já tem idade para isso.
Mas se o "argumento" é que estes conflitos "estimulam a economia" em tempo de "pandemia económica", deve-se ir agora à Feira do Livro e voltar a ler a "velha" Riqueza das Nações do Adam Smith, relembrando a importância do TRABALHO. E em tempo de "Orçamento", tem isto a sua importância.

(1) - A TAS que me perdoe os "populismos" da minha linguagem que, confesso, "está na massa do sangue". Mas é meu entendimento que "quem dá o que tem, a mais não é obrigado".
(2) - Discutir em "profundidade" o PLANO Costa Silva seria coisa interessante para a nossas vidas presentes e futuras. Mas a Bielorússia, com franqueza...No "desporto" chama-se a isto "mandar bolas para fora"...

afonsomanuelgoncalves 29/8/2020, 16:52

Prezada Teresa Alves Silva, li atentamente o seu comentário acerca do que escrevi a propósito deste último artigo de A. Louçã sobre as eleições ocorridas na Bielorrússia . De facto não tendo eu informações mais objectivas sobre o assunto, limitei-me a considerar este facto como o epílogo ( julgo eu) das desventuras da ex-URSS. Por isso descrevi como tudo isto começou e porque começou. Disse eu, o que nunca ninguém se apecebeu que um relatório secreto apresentado num Congresso de um Partido é um acto fascista e daí o desenvolvimento de todo o percurso a culminar nas eleições da Bielorrússia. Teresa Alves se quiser discordar ou refutar deve fazê-lo com toda a liberdade, mas não deve tirar a liberdade ao opositor de ter escrito o que entendeu. Isso é censura, e fazer censura não fica bem a ninguém.

Teresa Alves da Silva 29/8/2020, 20:26

Respondo ao L. Clérigo, na medida que leu o meu comentário e responde:

Quanto ao problema que equaciona, percebo o desejo que os artigos do jornal se centrem mais em questões nacionais, mas não posso concordar integralmente consigo.
Portugal , não é um país isolado está integrado na UE , e portanto tudo o que se passa na Europa interfere no progresso/retrocesso nacional.
Por outro lado, num mundo global, a informação mundial é relevante.

O que eu pretendi afirmar,foi que artigos do tipo de A. Louçã de 18 agosto, não trazem informação, aflora situações politicas, em diferentes partes do mundo, que têm comum a data de 2020 , em países cujos regimes são deficitários em democracia.O tema , que o autor propõe,Bielorrússia-eleições,os factos/circunstâncias que permitiram a fraude, não foi desenvolvido nem aflorado. Este é ponto fulcral, e que me suscitou o desejo de expressar o meu desagrado, enquanto leitora.


Quanto à utilização de expressões populares em textos deste jornal ,do ponto de vista da forma , não tenho qualquer relutância, até pode tornar a "mensagem" mais rica e viva.O que eu quis dizer e reitero, é que um jornal que se define como popular,como o MV pretende , implica que os seus artigos/textos sejam claros, informativos e pedagógicos, quanto possível.....podendo ou não conter expressões populares, conforme o estilo do autor, mas.....sem deixar de "fornecer aos leitores chaves para o entendimento da realidade" (1)

(1)- E.E. do Jornal MV-Março de 2007

leonel clérigo 30/8/2020, 11:53

Fazem falta ao MV, Teresa(s) Alves da Silva (TAS).
Os seus 3 primeiros parágrafos acima e só por si, dão um "programa" para interessantes debates que fazem falta a um Portugal que necessita romper a sua aflitiva "pasmaceira" (ou será antes certa "vergonha" em mostrar a ignorância das nossas gentes - e seus "dirigentes" - ditas "europeias"?...)

1 - "...percebo o desejo que os artigos do jornal se centrem mais em questões nacionais, mas não posso concordar integralmente consigo." Fico satisfeito com a condescendência mas não faço questão que "concorde integralmente comigo". Como dizia o "árabe" do filme Robin Hood: "Alá gosta de muita variedade..."
Mas já ficaria "satisfeito" que "dia sim, dia não" os temas quentes NACIONAIS fossem aflorados e não jogados no tinteiro.

2 - Quanto à questão de "Portugal , não é um país isolado está integrado na UE", imagino dar isto "pano para mangas" (como "truque de bloqueio") já que os Portugueses não foram "perdidos nem achados" na questão da "EUROPA CONNOSCO". Mas lá que isto "caiu que nem ginjas" no regaço duma burguesia que não sabia o que fazer ao País sem o velho Império - aconchegando-se (mal) no guarda-chuva da CEE - julgo ser isto tema para abundante e produtivo debate. Esconder os "erros" debaixo do tapete, não é de "bom conselheiro.

3 - E no caso da "informação mundial é relevante", toda e qualquer o é (em absoluto), mesmo aquela que possamos extrair da asa da mosca "tsé-tsé". Mas julgo que, na vida, temos que ter "prioridades", senão "morremos afogados" em milhões de "tretas" que nem ao "menino Jesus" interessam.
Vai ser esse um dos grandes problemas do PLANO Costa Silva. Só um "empirista" empedernido pode acreditar que "nisto", basta dar uma volta pelas prateleiras e "congelados" do Supermercado das "produções económicas" e escolher - abstractamente e fora das "classes sociais" e seus interesses - o que é mais "científico" para o nosso "almoço subdesenvolvido" na mesa do "DESENVOLVIMENTO".

mraposo 6/9/2020, 11:44

O artigo de António Louçã pode não ser informativo sobre o que se passou concretamente nas eleições bielorrussas, nem pretendeu sê-lo, a meu ver. Mas é “informativo” sobre a hipocrisia do Ocidente, que pratica, dentro de casa e por todo o mundo onde pode pôr a pata, os maiores atropelos à democracia com a qual, no entanto, se continua a revestir. Denunciar isto é, portanto, indispensável para demolir as ilusões acerca dos regimes que nos governam.

Falar em “desperdício” quando se aborda a questão, como faz Leonel Clérigo, é não ver a importância deste combate ideológico. E a minha discordância é ainda maior quando LC defende uma visão paroquial dos assuntos políticos, esquecendo o que é óbvio: o mundo não é, e nunca foi, estanque; e menos ainda quando o capitalismo imperialista se tornou absolutamente global. A ideia de “cada um por si” aponta para um nacionalismo sem sentido. E não é invocando o direito dos povos a disporem de si próprios que se dá cobertura a esse nacionalismo, quando aquele direito dá base precisamente ao contrário: a necessária solidariedade dos povos contra o colonialismo e o imperialismo. O internacionalismo pode estar, em termos práticos, pelas vias da amargura; mas existe, pelo menos como ideia, e tem de ser incentivado como uma arma decisiva das massas trabalhadoras.

A ideia de que os temas nacionais “ficam no tinteiro”, como diz LC, não tem qualquer fundamento. Bastaria LC ter tido o cuidado de ver a estatística dos Tópicos (País: 1253 títulos; Mundo: 757 títulos) para não cometer esta injustiça.

Os comentários são sempre de saudar. Pena é, a meu ver, que eles não sejam por vezes suficientemente objectivos e cingidos ao tema que comentam. Falar sobre tudo pode ser uma maneira de não falar sobre nada. A concisão ajuda a que as ideias sejam (cartesianamente) claras e distintas.

Saudações

Isabel Maria Viana Moço Martins Alves 24/2/2021, 6:00

Gostei. É evidente a hipocrisia do Ocidente sobre as eleições na Bielorrússia.


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