Europa: 30 mil soldados dos EUA em manobras
O maior destacamento desde o fim da Guerra Fria
Manlio Dinucci (*) — 19 Abril 2020
Os ministros da Defesa dos 27 países da União Europeia, 22 dos quais são membros da NATO, reuniram-se nos dias 4 e 5 de Março em Zagreb, Croácia. O tema central da reunião [na qual participou, por Portugal, o ministro João Gomes Cravinho] não foi como lidar com a crise do coronavírus que bloqueia a mobilidade civil, mas como aumentar a “mobilidade militar”.
O teste decisivo é o exercício Defender Europe 20 [Defensor da Europa 2020], em Abril e Maio. O secretário-geral da NATO, Stoltenberg, que participou da reunião da UE, chama a isto “o maior destacamento de forças norte-americanas na Europa desde o fim da Guerra Fria”.
Os 20 mil soldados que vêm dos EUA para a Europa — informa o Exército dos EUA na Europa — juntamente com 10 mil outros já presentes e 7 mil de países aliados da NATO, “vão distribuir-se por toda a região europeia”. As forças norte-americanas transportam 33 mil peças de equipamento militar, desde armamentos pessoais a tanques Abrams.
Portanto, são necessárias infraestruturas adequadas para seu transporte. No entanto, há um problema, destacado num relatório do Parlamento Europeu (Fevereiro de 2020): “Desde os anos 90, as infraestruturas europeias foram desenvolvidas exclusivamente para fins civis. A mobilidade militar, no entanto, voltou a ser uma questão fundamental para a NATO. Dado que a NATO não possui os instrumentos para melhorar a mobilidade militar na Europa, a União Europeia, que dispõe dos instrumentos legislativos e financeiros para isso, desempenha um papel indispensável”.
O plano de acção sobre mobilidade militar, apresentado pela Comissão Europeia em 2018, prevê a modificação de “infraestruturas que não estão preparadas para o peso ou tamanho dos veículos militares”. Por exemplo, se uma ponte não pode suportar o peso de uma coluna de tanques, ela deve ser reforçada ou reconstruída. Com base nesse critério, [por exemplo], o teste de carga da nova ponte que em Génova substituirá a ponte Morandi que colapsou, deve ser realizado com tanques Abrams de 70 toneladas.
Estas mudanças, inúteis para uso civil, acarretam custos pesados para os países membros, com uma “possível contribuição financeira da UE”. A Comissão Europeia destinou uma verba inicial de 30 mil milhões de euros para esse fim, dinheiro público dos nossos bolsos.
O plano também prevê “simplificar as formalidades aduaneiras para operações militares e transporte de mercadorias perigosas de tipo militar”. O Exército dos EUA na Europa solicitou o estabelecimento de um “espaço militar Schengen”, com a diferença de que não há pessoas movendo-se livremente, mas sim tanques. O exercício Defender Europe 20 — foi dito na reunião de Zagreb — permitirá “identificar quaisquer estrangulamentos na mobilidade militar que a UE terá que remover”.
A rede de transporte da UE será testada por 30 mil soldados dos EUA, que “se distribuirão pela região europeia”, isentos das regras do coronavírus. Isto é confirmado num vídeo do Exército dos EUA na Europa, na chegada à Baviera, em 6 de Março, dos primeiros 200 soldados dos EUA: enquanto na Lombardia [norte de Itália], a algumas centenas de quilómetros de distância, se aplicam as regras mais estritas, na Baviera — onde se verificou o primeiro contágio europeu de coronavirus — soldados dos EUA, saindo do avião, cumprimentam as autoridades alemãs e abraçam os seus camaradas de armas sem máscara.
Surgem assim várias interrogações.
Será que eles já estão vacinados contra o coronavírus?
Qual é o verdadeiro objectivo do “maior destacamento de forças norte-americanas na Europa desde o final da Guerra Fria” — oficialmente para “proteger a Europa de qualquer ameaça potencial”, com clara referência à “ameaça russa” — precisamente na altura em que a Europa está em crise devido à ameaça do coronavírus (há um caso até na sede da NATO em Bruxelas)?
Dado que o Exército dos EUA na Europa comunica que “os movimentos de tropas e equipamentos na Europa durarão até Julho”, será que todos os 20 mil soldados norte-americanos voltarão à sua terra natal, ou uma parte permanecerá aqui com seus armamentos?
O Defensor não será, afinal, o Invasor da Europa?
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(*) Geógrafo e analista geopolítico. Escreve no jornal italiano Il Manifesto. Artigo publicado em 12.03.2020 com o título “Coronavírus? Qual quê! A Europa abre-se às manobras dos EUA”. Tradução Mudar de Vida.
Nota: o título inicial dado por nós ao artigo — “EUA enviam 30 mil soldados para a Europa” — foi corrigido em 19.4.20.
Comentários dos leitores
•leonel clérigo 20/4/2020, 12:44
Podem bombardear outra vez a Europa do Norte porque - vem nos livros - o resultado é sempre positivo: mais "30 gloriosos" de "Reconstrução" e um "Plano Marshall" garantido pelas "Impressoras" do BEP localizado em Washington e do Fort Worth no Texas. "Papel" não falta e o "sacrifício" vale a pena para salvar o Capitalismo "Democrático" da agonia.