Tarifas de Trump colidem com a produção capitalista globalizada

Fred Goldstein (*) — 17 Julho 2019

O governo de Trump está preso entre a política chauvinista de grande potência, super-imperialista, do “América primeiro”, por um lado, e a divisão capitalista do trabalho no mundo, por outro lado. A cada passo, a contradição entre a propriedade privada capitalista e a produção socializada mundial torna-se um obstáculo ao próprio capitalismo. Em particular, os interesses globais do imperialismo norte-americano e da estrutura económica global do capitalismo mundial hoje contradizem fortemente as metas políticas do governo de Trump.

Trump e seus seguidores querem subverter a estrutura política e económica construída pela classe capitalista norte-americana no século passado. Querem realinhar a relação de forças de um modo que subordine ainda mais os rivais imperialistas e os satélites económicos de Washington e Wall Street.

Trump tomou como alvo a Alemanha, a França, a Grã-Bretanha e toda a União Europeia, o Japão e a China, além do Canadá (um país imperialista menor), o México, a Índia, a Turquia, a Indonésia e a Tailândia, entre outros. A China é um caso especial que terá de ser tratado à parte.

Globalização e socialização da produção

O termo “globalização” é uma designação geográfica útil que mostra como os trabalhadores produzem bens e serviços, isto é, mercadorias, hoje. É altamente descritivo, pois a produção de uma única mercadoria ocorre sequencialmente em diferentes partes do globo. No entanto, do ponto de vista marxista, a designação económica mais científica é a socialização das forças produtivas numa base global.

A classe capitalista tem forçado a classe trabalhadora mundial a uma vasta e involuntária divisão do trabalho, na qual os trabalhadores têm de cooperar sob pena de perderem os seus meios de sobrevivência, para produzir as mercadorias do mundo. Mas o excedente económico, a mais-valia que surge dessas cadeias produtivas globais de exploração, é colhida pelos patrões. Mesmo os trabalhadores que têm emprego ficam com apenas o suficiente para viver.

As cadeias globais de exploração são uma forma moderna de socialização da produção realizada no âmbito da propriedade privada!

Assim, à medida que Trump faz uso do seu camartelo económico, ele dá de caras com a contradição fundamental do capitalismo — a contradição entre produção socializada e propriedade privada. Friedrich Engels, co-fundador do marxismo, juntamente com Karl Marx, explicou isso no alvorecer do capitalismo moderno na sua obra clássica Socialismo utópico e socialismo científico (publicada em 1880, extraído da sua obra Anti-Duhring, publicada em 1878):

“Esta contradição, que dá ao novo modo de produção o seu carácter capitalista, contém o germe de todo o antagonismo social de hoje. Quanto maior se torna o domínio obtido pelo novo modo de produção sobre todos os campos importantes da produção e em todos os países industriais, quanto mais reduz a produção individual a um resíduo insignificante, tanto mais claramente se destaca a incompatibilidade da produção socializada com a apropriação capitalista ”.

Tarifas: o cacete de Trump

Hoje Trump está a usar as taxas como um cacete para pressionar os países de todo o mundo a entregar os seus lucros ao capitalismo norte-americano.
O que são tarifas? Na era imperialista, são um imposto cobrado sobre as importações de uma classe capitalista de um país na luta contra os seus rivais. O país sobre o qual os impostos são cobrados sofre um declínio nas exportações e o governo do país que cobra as tarifas recolhe as receitas na sua tesouraria.

Do ponto de vista da classe trabalhadora, as tarifas devem ser vistas da mesma forma que a automação. Tal como a automação, fazem parte da competição mundial entre capitalistas; são uma arma com a qual os capitalistas lutam entre si no mercado mundial.

Essa luta, porém, é levada a cabo não apenas contra os rivais capitalistas, mas também à custa da classe trabalhadora. Os trabalhadores no país que tem tarifas cobradas perdem empregos porque as exportações deste país diminuem. E os trabalhadores do país que cobra as tarifas pagam preços mais altos porque os capitalistas importadores transferem os seus custos extra para os trabalhadores.

Normalmente as tarifas são compensadas por contra-tarifas. Assim, numa guerra tarifária entre os patrões, como em qualquer guerra, os trabalhadores são as vítimas reais.

A “globalização” e a complexidade da produção socializada

Na sua campanha tarifária, Trump entra em conflito com a globalização imperialista a cada passo; as suas acções provocaram retaliações de capitalistas. A ameaça, mais tarde retirada, de cobrar taxas ao México para obter influência política na sua luta racista contra os imigrantes é um bom exemplo.

Trump ameaçou aplicar uma taxa de 5 por cento sobre os produtos mexicanos e aumentar essa taxa em outros 5 por cento até aos 25 por cento se o governo mexicano não conseguir impedir que os imigrantes cruzem a fronteira para os Estados Unidos.

Segundo Burgess Everett e James Arkin, do Politico, num almoço à porta-fechada com senadores republicanos no início da semana, “o vice-conselheiro da Casa Branca, Pat Philbin, e o procurador-geral adjunto Steve Engel depararam com forte oposição do Partido Republicano, segundo vários senadores, inclusive com alguns deles a ameaçar que Trump poderia ter de enfrentar uma maioria à prova de veto para anular as tarifas.” (Politico, 5 junho 2019)

Se os partidários republicanos de Trump no Senado se rebelaram contra o seu líder, é porque os doadores capitalistas [que financiam os senadores] se opuseram a isso. O México exporta 345 mil milhões de dólares para os EUA, grande parte em automóveis, autopeças, produtos agrícolas, roupas, etc.

Outros exemplos da natureza intrincada e entrelaçada das cadeias de abastecimento globais também se aplicam ao Japão e ao Canadá.

A Associação de Fabricantes de Automóveis do Japão (AFAJ) diz que cerca de 8% das vendas anuais totais dos seus membros são produzidas e importadas do México através de ferrovias norte-americanas, tornando-as susceptíveis às taxas. A AFAJ representa exportadores, fabricantes e importadores japoneses no Canadá. Representa a Toyota, Honda, Nissan, Mazda, Mitsubishi e Subaru.

O maior fornecedor de automóveis do Canadá, a Magna International, possui 32 fábricas de manufactura e montagem no México, onde emprega 29.175 pessoas — mais do que no Canadá ou nos Estados Unidos. (Automotive News, Canadá, 5 junho 2019)

Várias empresas japonesas têm as suas bases de produção no México. A Honda Motor Co., por exemplo, exportou cerca de 120.000 veículos fabricados no México para os Estados Unidos em 2018, representando cerca de 80% dos carros que produz no México, que também abriga grandes fábricas de montagem que são propriedade da Toyota Motor Corp., da Nissan Motor Co. e da Mazda Motor Corp. (Japan Times, 31 maio 2019)

Existem mais de 700 empresas japonesas que empregam milhares de trabalhadores no México. Portanto, Trump também poderá desencadear uma guerra comercial com o Japão por causa das suas taxas mexicanas.

Os patrões tomaram a ameaça de Trump contra o México como uma ameaça contra eles. A Câmara de Comércio ameaçou o governo com uma acção judicial. E os monopolistas que financiam o Partido Republicano disseram ao Senado dos EUA que não queriam uma guerra tarifária com o México e o Canadá.

A campanha de tarifas faz parte da aposta de Trump para a sua reeleição. Trump está desesperado para ser reeleito e evitar processos da parte dos vários tribunais que podem promover acusações contra ele. No seu desespero, Trump ignorou a complexidade do problema económico mais amplo da classe dominante norte-americana.

Luta comercial com a UE e a Ásia

Os Estados Unidos também estão a intensificar a sua luta comercial com a União Europeia no respeitante aos subsídios às aeronaves. Washington propôs tarifas adicionais sobre bens da UE no valor de 4 mil milhões de dólares, além de outros 21 mil milhões em tarifas que exige aplicar aos aviões da Airbus.

As tarifas, anunciadas em 1 de julho pelo Representante de Comércio dos Estados Unidos, cobrem 89 produtos, incluindo carne, queijo, massas, frutas, café e uísque. Poderiam ser adicionadas a uma lista de exportações da Airbus da UE que o Representante de Comércio dos EUA (USTR) disse em abril que estaria sujeita a tarifas.

O Sistema Geral de Preferências (GPS) isenta 3.500 itens das tarifas dos EUA, e é destinado a países antes oprimidos e coloniais, designados como “subdesenvolvidos”.

Na sua luta contra a Ásia, o governo de Trump ameaçou remover a isenção relativa à Índia, Tailândia e Indonésia. A Turquia já perdeu a sua condição de GPS.
Os produtores de leite dos EUA visaram a Índia e a Indonésia, enquanto os produtores de carne suína visaram a Tailândia. Fabricantes de material médico também fizeram uma petição para excluir a Índia de receber tratamento preferencial dos EUA.

Todos os elementos da classe dominante norte-americana sabem que têm um amigo colaborador na Casa Branca, que na maior parte dos casos defenderá os seus interesses, mesmo que, às vezes, tenham de opor-lhe resistência no Senado ou nos tribunais. Eles colheram os benefícios dos cortes de impostos às empresas, da campanha de desregulamentação e das políticas de distribuição de terras para as indústrias de energia, mineração e madeira.

Com a guerra comercial, o governo de Trump desdobra-se em todas as direcções para colocar pressão económica sobre toda a classe capitalista em todo o mundo. O seu objectivo é reforçar a dominação dos monopólios imperialistas dos EUA.

Contradição entre a produção socializada e a apropriação privada

A contradição entre o carácter socializado da produção e a apropriação privada dos produtos do trabalho foi enfatizada por Vladimir Lenin em O Estado e a Revolução, escrito em preparação para a Revolução Russa de 1917.

Lenin explicou que o imperialismo era o estádio do capitalismo que levaria ao socialismo. Os economistas burgueses da época iludiam a natureza do imperialismo reduzindo-o ao “entrelaçamento” das corporações. Lenine respondeu:

“A mão-de-obra qualificada é monopolizada, os melhores engenheiros são arregimentados; os meios de transporte são capturados — ferrovias na América, companhias de navegação na Europa e na América. O capitalismo no seu estádio imperialista leva directamente à socialização mais abrangente da produção; isto, por assim dizer, arrasta os capitalistas, contra sua vontade e consciência, para uma espécie de nova ordem social, uma ordem de transição da completa competição livre para a completa socialização.
A produção torna-se social, mas a apropriação permanece privada. Os meios sociais de produção continuam a ser propriedade privada de alguns. O quadro geral da livre concorrência formalmente reconhecida permanece, e o jugo de alguns monopolistas sobre o resto da população torna-se cem vezes mais pesado, mais opressor e intolerável”.

Saltando para o século XXI. Em 2005, o colunista do New York Times, Thomas Friedman, descreveu como o seu computador Dell fora fabricado, referindo em detalhes como os trabalhadores espalhados por vários países da Ásia contribuíram para a sua produção. Resumiu assim o que descobriu:

“A ‘cadeia de fornecimento’ total para este computador, incluindo fornecedores de fornecedores, chega a cerca de 400 empresas na América do Norte, Europa e Ásia, principalmente a última, com cerca de trinta fornecedores principais.” (The World Is Flat, Friedman, 2005, citado em Capitalismo de baixos salários, Goldstein, 2008)

Em Capitalismo de baixos salários (2008) descrevi estas cadeias de fornecimento em termos marxistas da seguinte forma: “As chamadas cadeias de fornecimento, que são realmente cadeias de exploração espalhadas pelo mundo pelos monopólios gigantes, em parceria com o capital financeiro, são o modelo de negócios para todos os capitalistas de dimensão global. E os capitalistas menores encaixam-se nesse quadro”.

O capitalismo torna-se um obstáculo para a sobrevivência das massas

A crescente desigualdade de riqueza nos EUA é algo com que os capitalistas e os financeiros estão delirantemente contentes. É por isso que Donald Trump e o Comité Nacional Republicano [para a recandidatura de Trump] recolheram 105 milhões de dólares no último trimestre para financiar a sua reeleição.

É também por isso que os meios de comunicação capitalistas deram a Trump mil milhões de dólares em publicidade gratuita em 2016 e continuam a dar a maior cobertura possível a cada um dos seus tweets. Eles não se importam com a crueldade de Trump para com os imigrantes e os seus filhos; com a sua política de facilitar e acelerar a destruição ambiental e planetária; com o seu trabalho, todos os dias, em todos os sentidos, para conduzir a estrutura política do capitalismo numa direcção direitista e autoritária.

A classe trabalhadora dos EUA é parte integrante da força de trabalho socializada mundial. Pelas suas mãos passa grande parte da riqueza do mundo. No entanto, quase nada dessa riqueza permanece nas mãos da classe trabalhadora; a parte de leão vai para a classe exploradora.

Mais cedo ou mais tarde, esse facto chegará à consciência das massas. Mais cedo ou mais tarde, não conseguirão continuar como dantes, sofrendo as fraudes dos patrões, dos seus políticos em ambos os partidos e dos médias capitalistas. O capitalismo está a tornar-se um obstáculo para a sobrevivência dos trabalhadores e dos oprimidos. Esse obstáculo tem de ser removido.

A longo prazo, nenhuma guerra comercial ou imposição de taxas pode mudar as contradições fundamentais do capitalismo ou travar o seu inevitável colapso.

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(*) Fred Goldstein é um activista político e autor marxista norte-americano que colabora no jornal Workers World. Publicou dois livros — Capitalismo de baixos salários e O capitalismo num beco sem saída — em que analisa, de um ponto de vista revolucionário, as características do capitalismo globalizado actual e a crise geral em que o mundo está mergulhado.


Comentários dos leitores

leonel clérigo 22/7/2019, 20:41

REVISÃO DA MATÉRIA DADA
No meu tempo de gaiato, a garotada - quando era “chamada à pedra” - aprendera a papaguear que um dos “feitos” do nosso rei D. Duarte I fora escrever a “A arte (a ensinança) de bem cavalgar em toda a sela”.
Não muito tempo depois - após a morte (talvez seja melhor dizer assassinato…) de D. João II - a coisa mudou pela mão dos beatos Braganças e um outro “livro” foi escrito e depositado nos “arquivos” do Concílio de Trento: “O livro da ensinança de bem escolher o Cavalo Errado”.
Depois disso, raros foram os lusos que se atreveram - mas sem êxito - a “arregaçar as mangas” e a “escrever outro livro” de peso. Caímos então na perigosa tradição de sobreviver dos “rendimentos herdados” - ou dos “serviços”, como preferiu dizer o sábio Prof. Cavaco Silva na rota do velho Salazar.
Mas seja com for e “pelo andar da carruagem”, tenho esperanças que, nas próximas eleições, cada um dos Partidos irá apresentar um novo “livro” agora sobre a “Arte de bem cavalgar o Desenvolvimento Industrial”. Então e com toda a prioridade, poderemos dizer uma velha frase nossa conhecida: “Agora é que isto vai!…”
1 - Fred Goldstein escreveu acima um belo texto. E os marxistas Estadunidenses - é bom que se diga - têm alguma “vantagem” que deriva da “economia” do seu país ser a “maior” (por enquanto) e “decisiva” do mundo capitalista. Daí, poderem - provavelmente - dispor mais facilmente de “informações” sobre os “segredos” e “novidades” em “primeira mão” coisa que não dispõe um país, como Portugal, orientado por uma burguesia “mixuruca”.
É claro que isto não é forçoso conduzir à “subserviência” intelectual - e outras - como é o caso da grande maioria da “intelectualidade lusa”: “quem não tem cão, caça com gato” e a bajulação ideológica da decrépita burguesia lusa bate fundo nas “cabeças” tendo tudo isso a ver com a condição duma “sociedade subdesenvolvida” que, há largo tempo, tomou conta do País sem se vislumbrar como daí sair.
Mas quem for além do “Livro I” de “O Capital”, encontra logo no início do “Livro II” e de forma clara, como “Desenvolvimento” e “Indústria” são “unha com carne”. E resumindo: qualquer País que não industrializar “toda a sua Economia” - o que nada tem a ver com “polvilhar” o País com AutoEuropas vindas de fora - está condenado ao “Subdesenvolvimento” eterno com a consequente “dependência” negativa do “exterior imperialista”.
Não é então difícil topar que cabe hoje ao “livre-cambismo” - à dita “globalização” - coroar toda uma “rede de Dependências” favorecendo - através de mecanismos múltiplos - a constante reprodução do Subdesenvolvimento. Vejamos um desses mecanismos.
2 - Em 1969 foi editada em Paris “A troca desigual” do autor grego Arghiri Emmanuel (AE), um “livro” que causou um verdadeiro “frisson” no meio marxista europeu junto ao Maio de 68 e só comparável com o debate anterior sobre o “Modo de Produção Feudal”. Mas havia razões de sobra para isso: já se cheirava a crise do Capital dos anos 70 e a morte do "Welfare state".
Até à data, não tinha havido qualquer dúvida sobre a “Solidariedade Internacional” entre a massa trabalhadora dos diferentes países submetidos ao Modo de Produção Capitalista. E vários deles possuíam PCs e desejava-se até o regresso duma Internacional.
Todos os trabalhadores do mundo - vivendo o capitalismo - “sentiam-se” irmanados com a “exploração” de que são vítimas dado que o funcionamento da máquina capitalista, impõe ao trabalhador que ele deve ceder, “à borla”, parte da sua jornada de trabalho - um “excedente” (ou mais-valia) do “valor” por ele criado -, cabendo-lhe apenas o “necessário” para poder “subsistir” com sua família. E parece fácil ver que, se o trabalhador se apropriasse integralmente do “valor” por ele criado - coisa que lhe é de DIREITO - não haveria lugar ao que a “economia” capitalista designa por “lucro”, dado que os “meios de produção” - máquinas, ferramentas, etc…propriedade do capitalista - não criam valor mas apenas o “transferem” para a mercadoria. O capitalismo não pode existir sem “lucro” e a sua "acumulação".
Ora o Livro de Emmanuel vinha “desestabilizar” esta “convicção” de “unidade internacional” dos trabalhadores assalariados no capitalismo. E porquê? Por duas razões fundamentais. (1)
Primeiro, porque a “Troca desigual” de AE tenta, pela primeira vez e na análise económica marxista, solucionar a lacuna existente de “uma teoria da formação dos preços nas relações internacionais” ou seja, da “determinação dos termos de troca entre as nações” que, economicamente, não são todas "iguais".
A segunda questão, pode-se dizer, foi a “mãe da controvérsia”. Depois de considerar e justamente, que os termos de troca entre as nações dependem da diferença das “taxas de salário” internacionais, haverá então uma “transferência de mais-valia” dos Países subdesenvolvidos para os industrializados. E é então que AE retira da Teoria da “Troca desigual” entre as nações uma conclusão política que deu - e dá - “água pela barba”: se essa transferência de mais-valia existe de facto, então a “solidariedade” entre os trabalhadores dos Países Desenvolvidos e Subdesenvolvidos ameaça ser “difícil” e mais, ser um “contra-senso histórico”.
3 - Quanto à primeira razão - teórica - tudo parece indicar ter ela “pernas para andar”, apesar da teoria marxista ter andado um pouco “encalhada” e não ter aí progredido. Mas, talvez, um pequeno exemplo nos possa ajudar: a AutoEuropa. E julgo bastar seguir a “pista dos salários”.(Henri Denis)
Tudo parece indicar que a fábrica de Palmela da VW dispõe de “tecnologia” semelhante às de outras fábricas na Alemanha e não é por aí que “o gato vai às filhoses”, que o preço dum automóvel se torna “diferente”. Mas se virmos os salários dos alemães e dos “tugas”, aí a coisa “já fia fino”: o mesmo automóvel custa mais barato à VW sendo feito em Portugal do que na Alemanha. Mas como o Preço de venda de cada unidade auto se supõe “constante”, “há uma transferência de valor de Portugal para a Alemanha” ou seja, uma “troca desigual” a favor dos nossos amigos alemães. (Anoto que tudo isto deveria ser objecto de cálculos precisos para o demonstrar, o que se torna difícil para quem não está, como eu, no "segredo dos deuses".)
4 - Quanto à segunda questão há que notar uma coisa curiosa: na “prática”, a solidariedade do Proletariado “Central” para com o da “Periferia”, tem deixado muito a desejar (2) e - por exemplo - o “assalto de hoje às fronteiras” e à “proliferação no centro” de “organizações e governos reaccionários e xenófobos”, deveriam também serem olhados sob este prisma.
(1) Sigo aqui de perto o texto do Prof. de Economia Política Henri Denis “Uma controvérsia mal conduzida” que faz parte do Livro da Iniciativas Editoriais - Colecção XX-XXI - “Um Proletariado Explorador?” com prefácio e tradução de José Gonçalves.
(2) Há que ressaltar aqui a excepção do largo “movimento de solidariedade” para com o Vietname. Mas julgo que há que juntar a ele a chegada da “crise dos anos 70” do Capital e a instabilidade social "momentânea" que o fim dos “30 gloriosos” provocou.


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