A América de Trump na senda da guerra
Pedro Goulart — 17 Março 2018
Donald Trump demitiu no Twitter Rex Tillerson do Departamento de Estado — responsável pela diplomacia dos EUA — e anunciou a sua substituição pelo até agora director da CIA, Mike Pompeo, que havia sido nomeado em 2017 pelo próprio Trump. Tillerson, apesar de ser um homem de direita, nem sempre afinava pelo mesmo diapasão: as divergências com o actual presidente dos EUA eram várias.
Com as recentes demissões no governo norte-americano, e respectivas substituições, parece estar a consolidar-se uma equipa mais submissa às acções extremamente reaccionárias de Donald Trump. Contudo, embora mais brutal e transparente nos seus verdadeiros objectivos, o actual governo dos EUA defende, sobretudo, os interesses de há muito prosseguidos por republicanos e democratas, isto é, os interesses do grande capital e do imperialismo norte-americano. Mas a equipa de Trump pode revelar-se hoje bem mais perigosa para a paz mundial, pois pretende defender os interesses e a hegemonia dos EUA por quaisquer meios, não hesitando mesmo em recorrer ao poderio militar.
O agora nomeado para o Departamento de Estado, após uma carreira académica e empresarial, surge na actividade política activa no partido republicano com o movimento direitista Tea Party. Mas quem é Mike Pompeo? Pelas suas acções e declarações é fácil conhecer este homem agora saído dessa tenebrosa polícia. Há algum tempo, Mike Pompeo afirmava que Edward Snowden, que desmascarou o programa secreto de recolha de informação conduzido por outro serviço policial, a NSA (National Security Agency), deveria ser julgado por ter revelado informação confidencial e que a condenação mais adequada era a pena de morte. Também criticou asperamente Obama pelo acordo nuclear com o Irão.
Do mesmo modo, a segurança dos Estados Unidos justifica, segundo Pompeo, desde programas de vigilância — mesmo a países aliados dos EUA, como a Alemanha — até ao uso de técnicas de tortura como o waterboarding (simulação de afogamento). Mais, Mike Pompeo, membro da National Rifle Association (NRA), parece ter adquirido uma forte cumplicidade com Trump nos vários briefings de segurança, realizados semanalmente.
Com a saída de Pompeo da CIA, os serviços secretos externos dos EUA passam a ser chefiados por Gina Haspel, que Trump havia nomeado em Fevereiro de 2017 como subdirectora desta tenebrosa agência. Haspel trabalha na CIA desde 1985, mas pouco se sabe dela, pois, como agente secreta, passou grande parte da sua carreira como infiltrada. Em 2002, a futura directora da CIA estava na Tailândia, onde geria uma das prisões secretas em que esta agência mantinha os suspeitos de terrorismo que ia detendo pelo mundo fora sem julgamento no pós-11 de Setembro.
Abd al-Rahim al-Nashri e Abu Zubaydah, hoje detidos em Guantânamo, eram dois dos prisioneiros submetidos a técnicas de interrogatório musculadas, entre as quais o afogamento simulado. E, há um ano, quando Haspel foi nomeada vice-directora de Mike Pompeo, o jornal The New York Times relatava como um dos suspeitos havia sido submetido a 83 afogamentos simulados num mês — além de outras violências cometidas pelos interrogadores, como atirar-lhe a cabeça contra a parede — até considerarem que o preso não tinha informação útil. Mais tarde, Haspel terá ainda dado ordens para que fossem destruídas gravações desses interrogatórios.
Neste contexto, e considerado o papel determinante desempenhado pelos EUA na organização militar imperialista NATO (que envolve grande parte dos países europeus e é responsável por agressões a numerosos países, assim como pela morte de milhões de seres humanos), é de prever que a política belicista de Trump acabe por arrastar os seus aliados para perigosas aventuras militares. Quando se fala hoje em maior envolvimento dos países europeus na NATO, nomeadamente no domínio financeiro, não nos podemos calar perante a política belicista seguida pelos dirigentes desta organização militar imperialista, designadamente pelos extremistas reaccionários Donald Trump, Teresa May ou Jens Stoltenberg (secretário-geral da organização).
Comentários dos leitores
•afonsomanuelgonçalves 20/3/2018, 12:39
Como era de esperar, o discurso político e as suas proezas mais excêntricas provocaram em certos sectores da "esquerda" americana (como se houvesse alguma esquerda na sua política imperialista) o ódio de estimação no actual Presidente americano. Racista e xenófobo até à ponta dos neurónios, megalomano incontrolável tornou-se o bobo da corte e o homem a abater. Tudo certo, no entanto há um mas: é que se confunde a árvore com a floresta e isso dá azo que não se note o que fica evidentemente visível que é a natureza do próprio sistema, do regime e o que é a política imperialista americana na sua génese e no seu âmago. Pensar que o "Prémio Nobel" Barack Obama ou a Srª Clinton mascarada de plástico democrático são sujeitos completamente diferentes é escamotear a verdadeira realidade sem olhar para o passado violento e criminoso dos falcões que poisam constantemente na Casa Branca.