Trabalhadores em luta
Greves e protestos revelam maior descontentamento
Pedro Goulart — 29 Janeiro 2018
Apesar da travagem à subida de impostos e da reposição de alguns rendimentos às classes trabalhadoras nos últimos dois anos, aumenta a precariedade no emprego e continuam baixos os salários de quem trabalha. Em alta continua a insaciabilidade do patronato, secundada pelos seus capatazes e “analistas” de serviço. E das instâncias cimeiras, a nível nacional e internacional, prosseguem as pressões e chantagens do capital visando desmobilizar a luta dos trabalhadores e diminuir os seus rendimentos.
Contra os necessários gastos com a saúde, educação e segurança social, assim como com a reposição de rendimentos das classes trabalhadoras, eles insistem forte numa diminuição de impostos, particularmente do IRC, numa maior diminuição do défice, num mais rápido pagamento da dívida, numa maior margem de lucros para os patrões, no sentido de uma maior acumulação capitalista. Daí que a luta unida e organizada das classes exploradas não possa parar. E seja preciso elevar o nível do combate.
Depois de 2017 ter sido um dos anos com menor “conflitualidade laboral” (como a imprensa tem referido, com base em números da CGTP e da Direcção Geral do Emprego e das Relações de Trabalho), os sinais de descontentamento entre os trabalhadores têm crescido desde final do ano passado. Assinalamos três lutas recentes — Triumph, PT/Altice e a Petrogal de Sines — e proximamente daremos conta de outras que estão em curso ou previstas.
Fábrica Triumph
As quase 500 trabalhadoras (algumas com dezenas de anos de trabalho na empresa) e trabalhadores da antiga Triumph (vendida à Gramax há pouco mais de um ano), em Loures, já não vão passar os dias e as noites aos portões da fábrica. Ao vigésimo dia de vigília, iniciada no dia 5 de Janeiro, a luta acabou (como previsto) num despedimento colectivo. A administradora de insolvência, nomeada pelo tribunal, chegou de manhã e garantiu que a prioridade daquele processo seria devolver os direitos aos trabalhadores.
A principal preocupação das trabalhadoras, que as aguentou durante a vigília, 24 horas por dia, foi a salvaguarda das máquinas e do património da fábrica. Serão estas as garantias para os pagamentos em atraso, que vêm desde Novembro, e para eventuais indemnizações.
Foram precisos 20 dias de luta para que a lei, afinal, fosse cumprida e feito o mínimo de justiça. Mas, para a maioria destas trabalhadoras, outras lutas se avizinham.
PT/Altice
Os trabalhadores da PT/Altice realizaram no dia 22 de Janeiro, em Lisboa, um plenário e uma vigília para exigir uma gestão que “respeite os trabalhadores” e garanta a estabilidade, segundo o Sindicato dos Trabalhadores do Grupo Portugal Telecom (STPT).
Estas acções dos trabalhadores surgiram, segundo o sindicato, devido a uma “visão estreita e totalmente virada para a redução de custos e aumento de mais-valias para os donos do Grupo”. O sindicato lembrou a “pressão sobre trabalhadores para rescisões”, as “desqualificações profissionais” e a “colocação de centenas de trabalhadores sem ocupação efectiva diária”.
Outras críticas são a “alteração dos locais de trabalho para os trabalhadores percorrerem longas e cansativas deslocações diárias”, a “retirada de valores pecuniários de forma unilateral”, a “externalização de funções de 155 trabalhadores para empresas de futuro incerto” e a “passagem compulsiva à reforma antecipada de centenas de trabalhadores a partir de Janeiro, deixando de pagar qualquer retribuição e sem ter deferimento da Segurança Social”.
Com a presença dos representantes da CGTP e da UGT, foi por estes salientado que a figura jurídica de transmissão de estabelecimento utilizado pela operadora de telecomunicações “não é mais do que um despedimento encapotado” e que a luta dos trabalhadores já está a produzir resultados, considerando a nova lei sobre a transmissão de estabelecimento que integra a possibilidade de os trabalhadores se oporem a serem transferidos para outra empresa, como “uma conquista importante”.
Petrogal, Sines
Os trabalhadores do consórcio de manutenção da refinaria de Sines da Petrogal concentraram-se, dia 26 de Janeiro, junto à sede da Galp, em Lisboa, exigindo a salvaguarda dos seus empregos.
Estes trabalhadores estão há mais de 20 anos com vínculo laboral precário e, de tempos a tempos, mudam de entidade patronal. Recentemente, foram informados de que as suas entidades patronais (EFATM, ATM, CMN e AC Services) vão pôr termo ao contrato com a Petrogal a partir de 12 de Fevereiro, o que implica perda dos postos de trabalho.
Para a União de Sindicatos de Setúbal, estes trabalhadores “devem ter vínculos de trabalho efectivo com a Petrogal”, uma vez que “a prestação de serviço é um mero paliativo para manter baixos salários, intensificar a exploração e reduzir direitos”.
Comentários dos leitores
•Luta entre Classes 31/1/2018, 16:15
Todos os anos até ao 25 de Abril pela mão da CGTP à uma serie de greves e manifestações de diversas empresas em luta, mas depois as lutam caem e vão para férias.
Mas pelos os vistos os objectivos dos trabalhadores nunca são atingidos com vitórias sindicais sobre os patrões ou sobre o governo.
Os sindicatos são os próprios as trair as lutas como exemplo a cabeça é Auto Europa em que sindicatos e CT querem que os obreros labutem aos sábado.
Acho que os trabalhadores são manipulados pela CGTP para objectivos eleitorais, mas pelos vistos não tem dado resultados, por que o Partido Comunista que controla esta central sindical não tem atingido os objectivos eleitorais que pretendia por que cada vez tem menos câmaras municipais, juntas etc.
A CGTP está visto serve só para mobilizar trabalhadores para lutas eleitorais subjacentes.
Por isso é que é urgente uma alternativa independente e de classe.