A “preocupação” da União Europeia com a Venezuela
Manuel Raposo — 5 Junho 2017
A União Europeia aprovou em 15 de Maio, numa reunião de ministros dos Negócios Estrangeiros, uma declaração sobre a situação na Venezuela em que, com falas mansas, procura uma espécie de “internacionalização” da luta política que se trava no país. O argumento, bem explicitado pelo seráfico ministro português Santos Silva, é este: como vivem na Venezuela muitos cidadãos oriundos de países europeus, a crise “também diz directamente respeito à União Europeia”.
Mesmo apelando a “ambas as partes” para evitarem a violência, a UE não deixa de apoiar a principal exigência política da oposição de antecipação de eleições — quando no próximo ano terão lugar eleições presidenciais, como estabelece a constituição do país.
A oposição, politicamente liderada pela direita e fortemente apoiada pelo imperialismo norte-americano, depois de ter perdido as eleições presidenciais de Abril de 2013 (após a morte de Hugo Chávez), lançou uma campanha de protestos contra o governo de Maduro, aproveitando-se da tremenda crise económica que assola país. Independentemente do julgamento que, do lado da esquerda, se faça do chavismo e do actual poder na Venezuela, o certo é que está em marcha uma tentativa de golpe de estado para destruir as (ainda assim magras) vantagens que o regime deu à população mais pobre desde 1999.
É atrás deste processo golpista que a UE está alinhada, fazendo corpo com os EUA. Ambos apostam em que a situação interna venezuelana se degrade mais a ponto de justificar interferências mais directas.
Não podendo ainda clamar que Maduro “mata o seu próprio povo”, como fizeram com a Líbia e a Síria, vão entretanto veiculando a ideia falsa de que os mortos resultantes dos confrontos são todos opositores do regime e vítimas da repressão governamental. E mascaram que, do outro lado, uma massa considerável de população pobre defende o regime, não só por aquilo que ele fez nos anos de sucesso do chavismo, mas também por perceber o retrocesso que representaria uma vitória da direita.
A Venezuela passa por uma aguda luta de classes de saída ainda incerta. Por isso mesmo, os EUA, primeiros interessados em pôr termo à experiência “bolivariana”, usam todos os meios (financeiros, propagandísticos) para fortalecer a burguesia venezuelana e promover a líderes “populares” os seus representantes de direita.
A UE, segue atrás — para já, sob capa “humanitária”. Ou como disse Santos Silva, “preocupada” com a “segurança e bem-estar” dos seus concidadãos de além-Atlântico.
Comentários dos leitores
•leonel clérigo 6/6/2017, 17:28
IMPERIALISTAS AO ATAQUE!…
A Venezuela - que oportunamente Manuel Raposo trás à liça - é hoje um exemplo bem claro de como o grupo do G7 não “atira bolas para fora”: ele sabe bem que não “pode” permitir a um qualquer país “subdesenvolvido”, a possibilidade de criar “condições internas” para se desenvolver e industrializar. Por isso, faz desencadear contra ele todas as “forças” que tem na “manga” e mais as que inventa e cria no momento.
1 - Ninguém de “bom senso” se atreve hoje a imaginar um mundo com todos os países “igualmente desenvolvidos”, mantendo-se ao mesmo tempo o Capitalismo a reger o destino da gente do Planeta. Por exemplo: como é que a Alemanha “vendia” os seus WW, se todos os países fossem igualmente desenvolvidos e tivessem a capacidade de produzir automóveis? Por isso, os democratas” do G7 dizem: nós “fazemos” automóveis e vocês dedicam-se à “pêra rocha”, ao “turismo”, aos “pastéis de nata”… e, depois, “trocamos” isso no "mercado internacional". As “vantagens “comparativas” e “competitivas”, zelam por nós.
Só que, há uma coisa em que o célebre “Mercado” é especialista: “trabalha” sempre a favor dos “ricos da tecnologia”. É o “mecanismo” da “troca desigual” - além de outras “vigarices económicas e financeiras” complementares - que faz “perpetuar” uns poucos como “ricos” e os outros eternamente “subdesenvolvidos” e cheios de "dividas". Quem se quer “desenvolver”, não lhe é permitido: Portugal é um claro exemplo disso. Desde o Marquês de Pombal - em Inglaterra ele "viu" a importância da Revolução Industrial - que lutamos por isso sem o conseguir...Dois séculos e meio, é obra!...
2 - Entre a imensa maioria dos “subdesenvolvidos” do Planeta, a América Latina já viu há muito “onde está metida” e como o G7 - com os USA à frente - os “esmifra” até ao “tutano”. E sempre que algum deles procura “levantar a cabeça”, é certo e sabido que lá vem o “travão”. Há uns tempos atrás era a “bota cardada” pura e dura: os “golpes de estado” à Pinochet. Mas hoje a coisa é mais “democrática”: as “revoluções” de rua da “pequena burguesia” - como se esta "descabelada" classe tivesse algum "projecto" de sociedade... - a gritar:"não há comida nos supermercados!..." quando são eles próprios que as retiram das prateleiras.
3 - A expansão da “globalização imperialista”, tem vindo a ampliar um “mercado mundial” de “produtos” e “mão-de-obra”. Ambos convêm à sua produção e ao escoamento dos seus produtos. Tudo isto entra na “contabilidade” do G7 - mais de alguns seus amigos menores - e não dos “subdesenvolvidos”: estes estão “sempre a perder” e, por isso, o tempo passa e não saem da “cepa torta”. Alguém conhece algum "subdesenvolvido" que o deixou de o ser?... Alguém conhece algum país que passou a sentar-se à "mesa do G7" sem ser um dos habituais 7?…
4 - Além disso, essa expansão do “mercado mundial”, contribui para a “animação” da produção interna dos “subdesenvolvidos” - como acontece hoje com Portugal - alimentando uma “fracção” de classe pequeno-burguesa dita “imaginativa”, cujo modo de vida dele depende e permite que tudo continue na mesma: é a “pequena-burguesia globalizadora”, que “adora” Nova Iorque, Paris, Londres…e acha Portugal “foleiro” e “um bocadinho subdesenvolvido” - mas sem "remédio". Esta gente, existe hoje por todo o mundo e são um novo “braço armado” do G7 imperialista. Mas quem os ouve falar “ninguém os leva presos”: eles são o “futuro” do mundo, a novel “geração telemóvel” e, tudo o resto é “raccionarite aguda”. É esta fracção da “pequena-burguesia” oca, que está hoje a servir de “tropa de choque” do imperialismo na Venezuela: ela quer mais “mercado mundial” ou seja, quer mais "Trump" ou "Schäuble" a governar o “seu” País: são os "novos cidadãos do mundo" do Império. Esta “gente pseudo-internacionalista” que se pensa de “frentex” e adora o Império, requer atenção pois não trás com ela coisa boa.
5 - Julgo que a RTP é uma estação “cujo dono é o Governo da República Portuguesa” e tem hoje como CEO o sr. Gonçalo Reis (tido como “...das reestruturações"). E pelo que me é dado “ouvir” por aí, os Governos sempre se afirmam “de todos nós”, sem exclusão de qualquer um, seja ele de Rio de Onor ou da ilha do Corvo. Também se afirmam interessados em “resolver” os “problemas” da “abertura democrática” das “mentes portuguesas”. Ora julgo eu que, essa “abertura” tem como uma sua condição fazer ouvir as “diferentes perspectivas”, já que os “pontos de vista” são “muitos e variados”. Por isso, fiquei deveras “surpreendido” quando, ontem - dia 5 - à noite, o noticiário da RTP refere os acontecimentos na Venezuela considerando apenas “uma perspectiva” parcelar: até parecia a RTP das “lavagens ao cérebro” dos “saudosos” tempos do Dr Salazar. Pensei logo - provavelmente mal - que entrara em cena uma nova “reestruturação” do Sr. Gonçalo: o português da “rua” - como eu… - já não poderia então ajuizar em sua “plena consciência” democrática arriscando-se a ficar “sectário” e até “totalitário”.
É evidente que o Sr. Professor Universitário - além de escritor - José Rodrigues dos Santos mais o esforçado “repórter” Pedro Sá Guerra (em Caracas), poderiam fazer isso bem se não tivessem “à perna” a temível estruturação do Sr Gonçalo, já que, como todo o mundo sabe, é gente “imparcial” e “cientificamente” muito capaz. Para a próxima - é fé minha - vamos ter tudo a correr lindamente…e o que é mais excelente ainda, repleto de democracia.
•afonsomanuelgonçalves. 9/6/2017, 15:29
A ironia de L. clérigo desconcerta-me. Olhando para os factos e para a realidade actual, é isso que se apresenta indiscutivelmente perante os olhos de toda a gente, só que os marxistas-leninistas, reconhecendo os méritos de Marx que nos avisou que o mundo se apresenta invertido nos nossos olhos porque a retina assim nos revela, era necessário que fosse a inteligência humana a colocar no cérebro a sua verdadeira imagem. Copérnico tentou isso em relação ao movimento da terra em torno do sol e como não foi bem sucedido Giordano Bruno em 1600 pagou com a fogueira o seu atrevimento. Agora temos Maduro na Venezuela a tentar equilibrar-se no arame. Sei que Maduro não é Lenine e por isso o meu cepticismo fica um pouco perdido nas cotações da bolsa imperialista.
•leonel clérigo 11/6/2017, 8:18
O DIREITO DAS NAÇÕES A DISPOREM DE SI PRÒPRIAS
Se entendi bem Afonso Gonçalves, direi que, por mim, considero que o Imperialismo tem uma sua “imagem invertida” no “O Direito das Nações a disporem de si próprias”. Melhor: as Nações têm o direito a resolverem por si os seus próprios problemas, sem interferências imperialistas - estadunidenses ou europeias ou outra qualquer.
1 - Nós temos uma larga experiência das interferências “cá dentro”: ainda falta fazer, por exemplo, a “História não invertida” do “25 de Abril”. Por isso se percebe bem “de que lado está” o “católico” CDS dos “pobrezinhos” quando, em pleno “Dia de Portugal”, a “portuguesa” Assunção Cristas não tinha mais nada de que falar senão da “Venezuela”. A “aflição” é tanta que é preciso meter a coisa à “cachaporrada”. Onde estão os “velhos tempos” do “Portugal é do Povo, não é de Moscovo…”
2 - A História ajuda-nos a revelar que os Impérios - mais precisamente, os Imperialismos - são formas de exploração “em larga escala” e por isso estão destinados a “durar pouco”. O Império Romano, por exemplo, quando “ampliava” suas conquistas, contava nas suas primeiras acções com a “escravização” das populações - para trabalharem na agricultura que o sustentava - e “impostos”. O Capitalismo tem hoje “outro estilo” para obter o mesmo: viver à custa do trabalho alheio. Por isso a “troca desigual” de “valores criados” - entre o capital e o trabalho e entre as diferentes regiões - é-lhe essencial e forçada a ser “encoberta” com as “científicas e célebres “vantagens comparativas” e “competitivas” que ouvimos nos discursos económicos do funcionário político do Capitalismo.
•António Alvão 15/6/2017, 22:32
"A única luta que se perde é aquela que se abandona" - Carlos Mariguela.
Eu gostaria muito de saber onde estavam os léninistas no "verão quente"? Nas organizações revolucionárias por onde passei, não havia debate de ideias; não havia formação revolucionária; não havia estimulo pela literatura revolucionária. "O pior dos analfabetos é o analfabeto político" - Brech.
Muitos dos que eu conheci, quando abandonaram a luta, foram tratar da vidinha deles. Alguns até têm empresas e, estão fora da política. Estes seriam os revolucionários oportunistas. Outros, uma minoria, eram tocados por ideais revolucionários, irão morrer revolucionários!
PCP e BE fecham suas sedes, não as abrem ao debate local. Preferem o dogmatismo político e o situacionismo eleiçoeiro. Seus objectivos é o poder- com estes ou sem estes, é para continuar a exploração do homem pelo homem. Tudo se rendeu ao capitalismo, que paga muito bem à classe política! E não adianta "chorar sobre o leite derramado"!
•leonel clérigo 26/6/2017, 12:10
António Alvão deixou-nos uma interrogação interessante: “…onde estavam os leninistas no “verão quente”? A ideia que tenho, é que “estavam a ser derrotados…” como todos os outros que gostariam ver o seu país sair do “buraco” em que se vem afundando há um bom par de séculos. E pelo que me apercebi, não basta “meter ideias revolucionárias” nas cabeças a não ser que essas ideias tenham correspondência com a resolução de necessidades concretas da nossa Sociedade. Geralmente desconhece-se que Lenine, durante os anos que passou deportado na Sibéria, aproveitou o tempo para estudar a “realidade russa” e seus “problemas”, donde saiu o “Programa” que o irá acompanhar ao longo de todo o seu percurso: “O Desenvolvimento do Capitalismo na Rússia”.
António Alvão: há um programa numa estação de TV que dá pelo nome de “O dia seguinte…” Na minha modesta opinião, uma Revolução - ou seja, a resolução dos diferentes e agudos problemas com que se confronta uma Sociedade como a nossa e que não têm solução enquanto a velha classe no poder persistir - tem que ter em atenção esta questão do “dia seguinte”, se não quer eclipsar-se do poder em 24 horas e voltar à “estaca zero”. E para isso é preciso “sabedoria”: julgo que não basta “doutrinar” ou seja, não basta “regar (com doutrina) e pôr ao luar”. Aqui para nós que ninguém nos ouve, no “Verão quente”, a burguesia portuguesa já “estabilizara” as suas “quezílias” que o esboroar do fascismo originou (como a questão colonial…), assim como seus apoios externos, o que lhe permitia ter já um "Programa" - da treta, mas Programa - para “continuar” no “dia seguinte”. Por isso a partir desse “verão quente”, “foi canja” para ela.
Para mim - mas admito estar errado - uma Revolução tem que ter um Programa de Acção e que me lembre, não havia nenhum do “lado de cá”: só coisas dispersas - tipo “manta de retalhos” de ideias feitas - e sem grande consistência. E com “manta de retalhos”, ninguém consegue tapar o “inverno do nosso descontentamento”…
•António Alvão 2/7/2017, 14:28
"Há duas revoluções a fazer: a primeira dentro das nossas cabeças; a segunda nas ruas, que é da primeira que a segunda depende!" (...)
Existe só uma arma capaz de emancipar o oprimido: O seu desenvolvimento cultural e intelectual, quanto mais elevado melhor. Caso contrário fica-se dependente do pensamento do outro e, esse outro poderá dar num ditador ou cangalheiro de qualquer socialismo que se inicie.
No verão quente, a direita não recusou as armas que lhe foram distribuídas; na chamada esquerda "revolucionária", na sua esmagadora maioria recusaram pegar em armas para defender a revolução - que estava na rua - e, puseram-se à espera que as urnas abrissem para irem votar!!!
(...)-"Nada de república parlamentar. Tentar fazer a transição pacifica do capitalismo para o socialismo sem insurreição, é o revisionismo e a corrupção burguesa ..." - Lenine.