Guterres com Trump ao lado de Israel
Manuel Raposo — 27 Maio 2017
Dias depois da proeza de censurar a denúncia do apartheid israelita contra a população palestina (ver texto “Gueterres ajoelhado”, aqui publicado em 2 de Abril), o secretário-geral da ONU António Guterres, discursando a 23 de Abril no Congresso Mundial Judaico, em Nova Iorque, fez uma verdadeira profissão de fé na defesa de Israel.
Quando milhares de prisioneiros palestinos estão em greve de fome, declarou-se “na primeira linha contra o antissemitismo”. Ignorando o desrespeito sistemático de Israel pelas resoluções da ONU, afirmou que Israel deve ser tratado “como qualquer outro” estado. Desprezando a sabotagem israelita à formação de um estado palestino, defendeu “o direito inegável” à existência de Israel. Condenou o “discurso de ódio” antissemita, escondendo o discurso de ódio dos sionistas contra os palestinos. Fugindo de tratar os temas quentes, não disse palavra sobre o recente ataque militar de Israel ao aeroporto de Damasco nem sobre as ameaças ao Irão.
Guterres pareceu seguir, ponto por ponto, as directivas de Trump que, num vídeo projectado no congresso, fez do antissemitismo e das vozes que, segundo ele, falam em “destruir Israel” a cortina de fumo atrás da qual sempre passaram as agressões dos EUA no Médio Oriente e, concretamente agora, as agressões à Síria e as ameaças de agressão ao Irão.
O Congresso Mundial Judaico, sediado em Nova Iorque, representa comunidades de 100 países e é uma força poderosa no apoio político e na angariação de financiamento a Israel.
O eng. Guterres fazia bem em prestar atenção ao que, por exemplo, Norman Finkelstein tem dito sobre o chamado conflito israelo-palestino. Finkelstein, cientista político e activista, é um judeu norte-americano proibido de entrar em Israel pelas suas denúncias do colonialismo sionista. O livro que publicou em 2000 sob o título “A indústria do holocausto” mostra como Israel e os sionistas manipulam as violências cometidas sobre os judeus pelos nazis para obterem ganhos políticos e financeiros. O livro tem um subtítulo que fala por si: “Reflexões sobre a exploração do sofrimento dos judeus”.
Comentários dos leitores
•leonel clérigo 28/5/2017, 14:23
“EU É QUE SOU O PRESIDENTE DA JUNTA…”
Com algum destaque, passou há poucos dias na Comunicação Social um acontecimento que parecia, à primeira vista, um pouco insólito: o “nosso” Presidente Trump empurrava o PM do Montenegro que estava, em seu entender, a ocupar o “lugar central” que só a ele competia. Qualquer “queque” da Quinta da Marinha logo pensou, com alguma justeza, que o sr. Trump “…não tomou o chá - que lhe era devido - quando era pequenino”. Erro profundo: Trump é que é “…o Presidente da Junta” - ou melhor, da NATO - e como disse em tempos a nossa grande “analista” pragmática Ferreira Leite, “quem paga manda…” Obrigação de estarem atentos, pertence aos “servos” europeus. Distracções destas, não se perdoam…
1 - Do Presidente dos “States…” - seja ele Trump ou Obama, Truman ou Roosevelt …, republicano ou democrata -, o que dele se espera é que cumpra a função de dirigente da maior “potência imperialista” do nosso tempo. Ou seja: que zele - com a força das “mães de todas as bombas” ou das doces palavras duma “Democracia” manhosa - pela “paz” e permanências “eternas” do já decadente capitalismo mundial e do seu “desenvolvimento desigual”, permitindo a uns pouco países serem “desenvolvidos” e “industrializados” - as “fábricas do mundo” - e mostrar como o resto do Planeta é feito de gente “preguiçosa”, “estúpida” e “incapaz”.
2 - A “gente fina” do G7, há muito que se encontra periodicamente para “afinar” as guinadas que é forçoso dar ao barco, quando a “borrasca” se alapa no “mercado”. Mas hoje a coisa começa a “ficar preta”: a “borrasca” ameaça transformar-se num verdadeiro “temporal”. Não se pode enganar eternamente a maior parte da gente do Planeta, mesmo quando esta é julgada “estúpida” e “ignorante”. Há momentos de “viragem” na História das sociedades e aí, não há nada a fazer. O capitalismo esgotou já o seu papel histórico que, aliás, foi “útil”, aparte os enormes sofrimentos que causou - e causa. Mas também os outros Modos de Produção anteriores - o escravagismo, o feudalismo, … - o causaram mas, sem dúvida, também provocaram - com grande pesar de J N Gray e do “travão hidráulico” da sua “Natureza Humana” - aquisições que vão preparando as condições para a “abolição das classes sociais” e o fim da “exploração do trabalho alheio”. A capacidade produtiva é já de tal ordem que já permite ultrapassar aquele velho “discurso utópico” julgado impossível de que falava Keynes ao referir-se à “vida difícil” porque passou o “velho Adão” desde que foi “plantado” à Porta do Paraíso.
3 - Pelo que me é dado conhecer, os Judeus têm tido, ao longo da sua existência, uma vida atribulada. Não sei se estarei certo mas julgo que, ao tempo do Império Romano, lutaram duramente contra a “ocupação”, acabando por serem expulsos e dando início à sua mais longa “diáspora”. Por ironia do destino, estão hoje do lado do Império dos nossos dias. Não lhes gabo a sorte: o que sabemos dos Impérios é que eles têm vida “fugaz” e julgo que Finkelstein receia - parece-me que faz bem - pelas consequências futuras. O pragmatismo oportunista nunca foi bom conselheiro, mas parece ser ele o “norte” do Congresso Mundial Judaico. Ninguém de bom-senso acredita que, “depois do petróleo se finar” - enchendo ainda hoje as algibeiras de uns poucos -, o Médio Oriente continuará tão "estratégico" e vai encontrar a sua “subsistência alimentar” na “confecção” das “areias dos desertos”…