Terror contra ciganos no Alentejo

27 Fevereiro 2017

KKKimage12Em comunicado divulgado em 24 de fevereiro, o SOS Racismo dá conta de uma série de ataques recentes cometidos contra os ciganos residentes na povoação de Santo Aleixo da Restauração, Moura, que surgem na sequência de outros ataques e ameaças cometidos entre setembro e novembro do ano passado. Nos últimos dias houve ameaças de morte pintadas por toda a povoação, bombas foram lançadas para os quintais das casas. Antes disso, tinham sido colocados caixões junto das portas, um cavalo foi envenenado, e foram incendiados carros, casas e uma igreja. Como refere o SOS Racismo, apesar da gravidade destes actos e das denúncias feitas, as autoridades nada fizeram, encorajando deste modo os criminosos, que continuam impunes. É este o texto divulgado.

“Ku Klux Klan” regressa a Stº Aleixo da Restauração (Moura)

Perante a inoperância das autoridades (quer policiais, quer políticas), a comunidade cigana de Stº Aleixo da Restauração, desde o fim do Verão, está a ser vítimas de situações que mais lembram a atuação do Ku Klux Klan de meados do século passado.

KKKimage06Algumas destas situações já vieram a lume (Jornal Tornado e Público, no final do ano). Inclusive uma cadeia de televisão esteve a acompanhar uma visita do SOS Racismo que a chamou para tentar alertar a situação (acabou por nada fazer). Alguns responsáveis políticos já por lá passaram (Alto Comissário) sem se dignar a falar com as vítimas destes atos de pura barbárie cujo objetivo é causar o medo, tentar que abandonem a aldeia, ou mesmo expulsar a comunidade cigana da zona.

Estas situações agravadas com a atuação intimidatória da GNR têm, de facto, levado a que algumas pessoas estejam a dormir fora da povoação, nomeadamente uma, que é invisual, pois uma das casas incendiadas foi a sua.

O SOS Racismo, que já tinha tomado conhecimento de algumas destas situações, ficou à espera que as autoridades atuassem, tendo em conta que [os factos] eram do conhecimento das instituições. É verdade que a sanha incendiária racista e xenófoba parou com as deslocações, com as visitas que o SOS Racismo foi fazendo.

Mas a verdade é que, neste final de fevereiro, a cobardia e a violência racista [voltaram] ainda com mais ódio e ameaças xenófobas de uma gravidade que se pode constatar pelas fotografias que acompanham esta denúncia.

As ameaças que aparecem escritas um pouco por toda a povoação, cemitério incluído, são reforçadas pelo rebentamento de bombas nos quintais dos elementos da comunidade cigana, talvez encorajadas pela ausência de medidas das instituições, pela inoperância das autoridades policiais, pela impunidade das práticas racistas e xenófobas.
E isto, apesar de o presidente da Câmara ter afirmado que o assunto se estava a resolver com o reforço do policiamento…

KKKimage08A comunidade cigana de Stº Aleixo da Restauração recorreu uma vez mais ao SOS Racismo para que consiga chamar a atenção das autoridades tendo em conta a sua inércia criminosa e a gravidade das ameaças bem espelhadas nas paredes de Stº Aleixo.
As autoridades não podem continuar a olhar para o lado sem fazer nada, contribuindo para agravar o risco em que a comunidade cigana se encontra. Basta ver as fotografias para perceber o terror que se quer instalar nesta comunidade.
E criminosos não são apenas aqueles que estão tranquilamente a praticar estes atos hediondos.
Compete ao estado de direito, [fazer com] que todas as pessoas se sintam seguras na sua terra, nas suas casas. A população cigana está em risco, a viver momentos de terror.
A inoperância não pode persistir. É altura de o governo, o Alto Comissário [tomarem] medidas para que nada de [mais] grave venha a acontecer.
É altura destes crimes serem punidos

Pelo SOS Racismo
Piménio Teles / José Falcão / Mamadou Ba
24/2/2017


Comentários dos leitores

leonel clérigo 1/3/2017, 13:43

BEM PREGA FREI TOMÁS
Recentemente, o nosso Ministro dos “Negócios Estrangeiros” fez um discurso elogioso do “humanismo” dos portugueses e onde publicitou o nosso “Pioneirismo” na supressão da Pena de Morte. Um belo discurso, apesar de o considerar um pouco exagerado: as sociedades - não é minha intenção “ensinar o Padre-Nosso ao cura” - quando divididas em classes - como a nossa - não permitem muitas “generalizações” e, falar do “humanismo dos portugueses”, torna-se “cientificamente” arriscado. Por exemplo: eu, que frequento a “rua” com alguma assiduidade, muitas “bocas” pouco “humanistas” tenho ouvido e já lá vão uns “anitos”. Muito “longe” estamos dos “velhos” tempos do PREC que pareciam anunciar uma “humanidade pegada”. Quando se mudam os tempos, as cabeças acompanham.
1 - Eleger a Comunidade Cigana como “inimiga” é uma já gasta “manobra de diversão” mas que ainda pega: é confundir as “origens do mal” e a Psicologia já nos explica isso bem. O “Portuga”, com o “cinto apertado”, a vida cheia de “angustias” e a cabeça de Futebol (que agora até já é "indústria"), “descarrega” no infeliz que tem à mão: como diz a anedota do passageiro do combóio, "Eu cá nunca me fico...". E em vez de “apontar as baterias” aos verdadeiros causadores das suas desgraças, "deriva": a isso chama-se “ignorância” mas há quem chame (talvez os mal intencionados...) “atraso mental”.
2 - É claro que há os “malandrecos” que se aproveitam das situações mas, como se diz, “é a vida”. Por isso, considero que tinha bastante interesse - não há fumo sem fogo… - tentar saber quem, “organizadamente”, está a praticar essa forma de “humanismo” no ancestral Alentejo dos “latifundiários”. E o Governo do nosso Ministro, deveria levar a sério o esclarecimento da situação em Stº Aleixo da Restauração, em vez de fazer “ouvidos de mercador”: para que se não diga que a “bota não bate com a predigota” e o Ministro não dê o flanco nas próximas declarações internacionais sobre o “humanismo” da "lusa gente".


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