Arquivo: Janeiro 2016

Refugiados: a hipocrisia da União Europeia

Urbano de Campos — 31 Janeiro 2016

sirios-refugiadosA anunciada política da União Europeia de “portas abertas” para os refugiados durou poucas semanas. Muitas fronteiras se fecharam entretanto. O acolhimento faz-se agora sob estreita vigilância e com reservas crescentes da parte das autoridades nacionais. Dezenas de milhares são ameaçados de expulsão em massa pelos países aonde conseguiram chegar, casos da Suécia e da Finlândia. Os que insistem, vêem os seus bens pessoais confiscados a pretexto de “financiar” os custos de “integração”, como sucede na Suíça, na Dinamarca e em vários estados alemães. A par desta viragem, há uma outra realidade que ganha peso: a hostilidade e os ataques aos refugiados por parte das populações residentes.


A operação de salvamento do governo PSD-CDS

Manuel Raposo — 25 Janeiro 2016

cavacopassosRecuemos uns meses para ter perspectiva sobre os acontecimentos que redundaram na mudança política de Outubro-Novembro.

Em meados de 2013, o governo PSD-CDS passou pela sua pior crise. A política de austeridade sacrificava brutalmente os assalariados, mas mesmo assim “os números” mostravam que os negócios capitalistas cá de casa não tiravam o pé do lodo. A onda popular de descontentamento e de protestos de rua crescia desde finais de 2012 e afrontava cada vez mais directamente o governo e a sua política de austeridade. Tinha passado a letargia inicial que o governo incutira sob a ideia de que “era preciso fazer sacrifícios”. Os sacrifícios atingiam visivelmente as classes trabalhadoras, percebia-se que a austeridade se destinava só a elas, as garantias de recuperação económica e de melhores dias goravam-se mês após mês. A massa trabalhadora apercebeu-se, por experiência amarga, que aos sacrifícios sofridos seguiam-se apenas mais sacrifícios. Terminara o período de graça do governo.


A “frente socialista” de Costa e Sánchez

Manuel Raposo — 19 Janeiro 2016

Costa&Sanchez“Ingovernabilidade!”, bramou a direita em Espanha com o resultados das eleições de 20 de Dezembro, tal como havia feito em Portugal após 4 de Outubro. O dado objectivo está no facto de nenhum dos partidos da governança habitual ter obtido maioria absoluta. O PP, no governo, que se encarregou das medidas de austeridade (mesmo sem troika), perdeu um terço dos votos e dos deputados; e o PSOE, na oposição, fez o seu pior resultado de sempre. Cresceram as novas forças à direita (Ciudadanos) e sobretudo à esquerda do PSOE (Podemos).


Um regime esgotado

16 Janeiro 2016

Nunca umas presidenciais foram tão concorridas. A direita, a direita com capa de esquerda, o centro equilibrista, a esquerda respeitadora das instituições e mais uns franco-atiradores para paladares diversos — todos vão às urnas dia 24. Podia dizer-se que o arco-íris da nação está completo. No entanto, toda a gente sabe que daí não virá a mínima mudança do regime; e que, contados os votos, a presidência pode ser ocupada por um oportunista sem escrúpulos de seriedade. Como um bobo que se senta no trono diante da passividade geral.

Derrotar o principal candidato da direita, claro — pois que outro objectivo se pode colocar à esquerda diante do quadro que está criado? Mas este objectivo, de curtíssimo alcance diante das necessidades dos trabalhadores portugueses, só se coloca, é preciso lembrá-lo, porque não há forças para conseguir transformação verdadeira do regime político e do sistema social em que o povo vegeta como espectador. Não será de admirar que a abstenção atinja assim níveis históricos.


Benesses para os patrões

9 Janeiro 2016

A pretexto da entrada em vigor do novo salário mínimo nacional (SMN), o governo de António Costa aproveitou para anunciar, como contrapartida, não apenas a intenção de manter uma medida do Governo do PSD-CDS, de redução de 0,75% na Taxa Social Única dos patrões para os trabalhadores com o SMN, como ainda decide promover o seu alargamento a todos os assalariados que em 31 de Dezembro de 2015 auferiam uma retribuição base não superior a 530€. Segundo a CGTP-IN, esta é uma medida injusta e incorrecta — pois irá provocar uma redução superior a 30 milhões de euros na receita da Segurança Social e abrirá portas a outras propostas do Governo, visando reduções da TSU para os trabalhadores com salários inferiores a 600€, assim como atribuindo créditos fiscais (ou complementos salariais) aos assalariados com contratos de trabalho a tempo parcial (suportadas pelos impostos pagos pelos trabalhadores e pensionistas).