Um regime esgotado

16 Janeiro 2016

Nunca umas presidenciais foram tão concorridas. A direita, a direita com capa de esquerda, o centro equilibrista, a esquerda respeitadora das instituições e mais uns franco-atiradores para paladares diversos — todos vão às urnas dia 24. Podia dizer-se que o arco-íris da nação está completo. No entanto, toda a gente sabe que daí não virá a mínima mudança do regime; e que, contados os votos, a presidência pode ser ocupada por um oportunista sem escrúpulos de seriedade. Como um bobo que se senta no trono diante da passividade geral.

Derrotar o principal candidato da direita, claro — pois que outro objectivo se pode colocar à esquerda diante do quadro que está criado? Mas este objectivo, de curtíssimo alcance diante das necessidades dos trabalhadores portugueses, só se coloca, é preciso lembrá-lo, porque não há forças para conseguir transformação verdadeira do regime político e do sistema social em que o povo vegeta como espectador. Não será de admirar que a abstenção atinja assim níveis históricos.

Importa pois, para lá do curto alcance, mostrar como estas presidenciais são um espelho particularmente claro da decomposição do regime. O esforço dos candidatos que tentam restituir “dignidade” ao cargo, não só representa uma perda de tempo, como se traduz num atrasar da evidência de que o regime não tem futuro. A esquerda que não esteja empenhada em salvar as instituições e o regime só pode adoptar uma posição: derrotar a direita denunciando o vazio destas presidenciais.

Não cabe à esquerda reabilitar um sistema político corrompido, mas dizer frontalmente aos trabalhadores que nada têm a esperar dele. Um outro modo de vida, realmente democrático, livre da opressão do capital, exige romper com o fatalismo e o espírito da obediência à ordem reinante. Esse será sem dúvida o ganho mais importante para futuro.


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