Draghi e Marcelo

Pedro Goulart — 20 Abril 2016

Draghi Mario Draghi, actual presidente do Banco Central Europeu (BCE) e antigo funcionário da Goldman Sachs, veio à primeira reunião do Conselho de Estado, onde defendeu as políticas do anterior governo de Passos Coelho, salientando que “os esforços desenvolvidos por Portugal foram notáveis e necessários” e que há “sinais claros” de que estão a “dar fruto”. Lançou também dúvidas sobre a política orçamental do governo de António Costa e sublinhou que “não se justifica anular reformas anteriores”. Draghi referiu ainda a necessidade de Portugal alterar as leis eleitorais e de levar a cabo uma revisão constitucional. O que poderia dizer um dos responsáveis da troika, que infernizou a vida dos portugueses? Mas por estas afirmações se pode ver o despudor com que os responsáveis europeus tratam os pequenos países, assumindo posições de diktat e de grande arrogância.

A insólita presença de Draghi no Conselho de Estado deveu-se a um convite nada inocente do actual Presidente da República. Será que Marcelo se lembrou de pedir a Draghi a devolução dos 5 mil milhões de euros de juros que o BCE já ganhou com a compra de cerca de 26 mil milhões de euros de Obrigações do Tesouro de Portugal, e que vão ser entregues, em parte substancial, a grandes países europeus, como a Alemanha, França e Itália?

Mas Marcelo já sabia o essencial do que Draghi iria dizer sobre a situação económica e política portuguesa. As costumadas habilidades de Marcelo, o presidente dos “afectos”, começam a ser postas em prática a nível do aparelho de Estado. A pretexto do diálogo e da informação, MRS põe outros a dizer aquilo que ele pretendia dizer, procurando condicionar o governo de António Costa, assim como os partidos da esquerda parlamentar. Não gostando da actual direcção do PSD nem dos partidos à esquerda do PS, procura habilmente levar água ao seu moinho. Assim, desde já, Marcelo vai criando condições para a formação futuros governos de um bloco central burguês, mais a seu gosto.


Comentários dos leitores

leonel clérigo 22/4/2016, 10:56

RECONSTRUIR o “ARCO da GOVERNAÇÃO”: um DESEJO SECRETO do PRESIDENTE MARCELO?
Com toda a clareza, PG não só retrata aqui os propósitos do financeiro rentista Draghi, como destapa o véu a um dos maiores “afectos” do nosso “irrequieto” Presidente da República MRS: a rápida reconstrução do “arco da governação”, cujo fim tem sido causa de tantas tristezas e lágrimas de "revolta" por parte dos falsos “popularuchos” e “comentadores convidados” das “opiniões públicas” das TVs.
E também retrata com igual clareza que, por detrás da “oposição” PPD/CDS e da sempre “independente” Comunicação Social espreita, articulada com eles, a “Europa” de Frankfurt do Capital Financeiro da Dona Merkel, do Sr. Schäuble, do Sr. Juncker… em suma, a poderosa “Internacional” PP dos rentistas da “finança” à qual pertence, depois de colonizado, o patriótico trio Cavaco Silva/Passos Coelho/Nuno Portas, que nos forçou a um drástico jejum durante 4 anos. E fala-se todos os dias do Presidente José Eduardo dos Santos que não respeita a "Democracia" e os “Direitos Humanos”…

leonel clérigo 23/4/2016, 17:03

ERRATA
Por um lapso disparatado, figura no meu comentário acima um erro de palmatória mas que, julgo, ter sido já facilmente detectado: onde se lê Nuno Portas deve ler-se Paulo Portas. As minhas desculpas ao lutador antifascista da Capela do Rato, o Arquitecto Nuno Portas.


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