Porque quer António Costa cumprir com os 3 por cento?
António Louçã — 7 Dezembro 2015
Que o PS assinou o memorando de entendimento e quer continuar a representar a rábula do bom aluno, já se sabia. Que Centeno vai a Bruxelas demonstrar a sua capacidade para continuar a fazer todos os trabalhinhos de casa, também não é novidade.
O que é novo — e não havia necessidade — é fazer os seus próprios trabalhinhos de marrão e sentir-se também obrigado a fazer os deveres do cábula apanhado em falso. Ora, Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque foram apanhados pela UTAO — em falso, a cabular. Depois de tanta conversa sobre “cofres cheios” e “almofadas protectoras”, depois de tantas promessas eleitoralistas sobre devolução da sobretaxa, descobre-se que afinal as contas estão armadilhadas e “muito dificilmente” se cumprirá os tais 3 por cento do défice.
Se fosse a Alemanha ou a França, ninguém lhe iria à mão por isso. E o Governo de António Costa, se não tem a coragem ou vontade política de questionar o espartilho dos défices à memorando, devia ter pelo menos a sensatez de mandar este recado a Bruxelas: “Vocês, que apoiaram Passos Coelho até ao último minuto, aguentem-se agora com o défice que ele deixou”.
Mas já se viu que Costa e Centeno vão por outro caminho: “É muito difícil, mas vamos meter ombros à solução das dificuldades”. E quando eles dizem que vão “meter ombros”, significa que se preparam para atirar para cima dos nossos ombros mais uma carga de sacrifícios austeritários.
E não será que se preparam para fazê-lo com a secreta satisfação de julgarem existir aí um pretexto para a renegação de promessas feitas durante as negociações com o BE e o PCP? Não foi também com um pretexto parecido (“Encontrei isto tudo numa lástima que ninguém podia adivinhar”) que Passos Coelho atirou às malvas as suas promessas da campanha eleitoral de 2011?