4 de Outubro – algumas clarificações
Carlos Completo — 15 Novembro 2015
Um dos aspectos positivos decorrentes dos resultados eleitorais de 4 de Outubro último, para além da inexistência de maiorias absolutas e do há muito desejado derrube do governo PSD/CDS, foi a aliança efectuada pelo PS com os partidos à sua esquerda. E que, apesar de se tratar de uma aliança entre partidos do regime, deu origem a fortes ataques verbais e a sujas manobras da direita que muito contribuíram para a clarificação do posicionamento individual e de grupo na sociedade portuguesa, assim como para um melhor conhecimento do estádio actual da luta de classes.
É importante ver as declarações e os argumentos que a direita mais reaccionária — presente na CAP, na CIP, na Associação das Empresas Familiares (de Francisco van Zeller, Vasco de Mello e Peter Villax) ou no Forum para a Competitividade (de Ferraz da Costa) — proferiu a propósito de um eventual governo chefiado por António Costa. Também António Barreto, um conhecido lacaio do capital, classifica o acordo do PS com o BE e o PCP como “monstruoso e absurdo”. E, igualmente, veja-se a argumentação de elementos do PSD/CDS, de alguns jornalistas e “analistas” ao serviço das classes dominantes, por vezes utilizando as redes sociais, e frequentemente recorrendo a uma despudorada distorção dos factos, a uma linguagem boçal e até a um empedernido racismo. O tontinho José Gomes Ferreira, na SIC, ou o preconceituoso José Rodrigues do Santos, na RTP1, são um exemplo deste tipo de jornalismo. Para toda esta gente, o PS seria bom como bengala da coligação PSD/CDS, mas péssimo se chefiando um governo apoiado pelo PCP e pelo BE. Toda a argumentação e linguagem de certa direita evidencia o que realmente pensa esta gente mais caceteira que democrática.
Outro aspecto positivo foi a queda de várias máscaras, até de uma burguesia considerada moderada, mas a quem rapidamente estalou o verniz, saltando logo que julgou ver ruir um mundo de privilégios, todo o mundo daqueles que vivem à custa da exploração das classes trabalhadoras. Foi o desmascarar de algumas personagens por quem algum ingénuo povo de esquerda, face às suas difíceis condições de vida, já manifestava alguma admiração e até chegava a citar. Mas, para quem ainda tinha dúvidas, vejam-se, por exemplo, os casos de Bagão Felix, Manuela Ferreira Leite ou de Clara Ferreira Alves. Ferreira Leite chegou mesmo a falar de “um verdadeiro golpe de estado” de António Costa.
E o que esteve e está aqui em causa não é nenhuma revolução. Nem a correlação de forças o permite nem os agentes intervenientes na formação deste governo do PS o pretendem. Trata-se tão somente de fazer parar a agressão de um bando de lacaios do grande capital (o governo do PSD/CDS), que pretendia intensificar ainda mais a exploração das classes trabalhadoras e do povo. Trata-se tão somente de travar o empobrecimento e minorar o sofrimento da esmagadora maioria dos portugueses. Mas, essencialmente, o que está aqui em causa para a burguesia dominante é que as classes trabalhadoras e o povo possam ganhar esperança e ânimo para um desenvolvimento mais avançado da luta das classes.
Comentários dos leitores
•jml 15/11/2015, 13:18
Mário Centeno, : Que o PS irá "continuar no caminho da consolidação orçamental...Não é a direção que estamos a questionar, mas a velocidade da viagem".
•jml 22/11/2015, 13:58
Caro Pedro Goulart,deixa-te de ilusões...
As políticas imperialistas no quadro de uma gravíssima crise geral do capitalismo não têm nenhuma margem de manobra para acções sociais que melhorem – ainda que minimamente – as condições de vida das suas populações. A capitulação absoluta do Syriza marca a derrocada dos seus imitadores da “esquerda radical” ou da “nova esquerda”.