A direita deve ser afastada!
Mas o futuro dos trabalhadores não depende de arranjos parlamentares
José Borralho — 10 Outubro 2015
1. A questão política central em Portugal e em toda a Europa é o afastamento das políticas de austeridade e a sua derrota, precisamente porque é dessas políticas que sobrevive o capital europeu. Esta questão ficou bem clara pela luta travada por todos os dirigentes da União Europeia que se levantaram ferozmente contra as pretensões da Grécia de sair do garrote da austeridade conseguindo impor-lhe um novo resgate e mais austeridade.
Não foi por acaso que Cavaco Silva, numa atitude de atropelo à própria Constituição, fingiu não perceber que a maioria dos votos de 4 de Outubro se dirigiu precisamente contra as políticas de austeridade, e pôs de lado sequer a hipótese de chamar todos os partidos que elegeram deputados ao parlamento, revelando o seu pendor reaccionário.
2. Sabe-se que o PS é um partido com um programa pró-capitalista e pró-europeu, de cuja prática não sobejam dúvidas que tem sido sempre de aliança com a direita porque se assume como tal. Mas o facto de, em conjunto com o PCP e com o BE, constituir uma maioria parlamentar diferente da direita pura e dura; o facto do PS sozinho pressentir que pode sucumbir ao movimento geral anti-austeridade, conotado que está com a chamada da troika, e que pode sofrer um processo de Pasokização, isto é, uma queda no espectro eleitoral — criou condições para que a esquerda do regime (o PCP e o BE) confronte o PS com um programa anti-austeritário a troco da viabilização de um governo seu.
3. O PCP já apresentou as suas condições de apoio e viabilização a um governo do PS, e o BE fez o mesmo ainda durante a campanha eleitoral. As condições apresentadas, de moderadas que são, tornam-se dificilmente recusáveis para o PS sem que deixe cair a máscara de opositor da direita e de crítico da austeridade do governo PSD-CDS.
O que escolhe o PS neste momento em que lhe é possível fomentar uma política anti-austeridade conforme proclamou nas eleições? Escolhe a velha aliança com a direita mais reaccionária ou aproxima-se das políticas moderadas do PCP e do BE?
4. O futuro dos trabalhadores e do povo pobre de Portugal não depende dos arranjos governamentais ou parlamentares de uma esquerda que assenta a sua estratégia na recuperação económica (do capital) e na reestruturação da dívida (contraída pela banca). Tais políticas, quer do PCP quer do BE, estão condenadas ao fracasso precisamente por não corresponderem às necessidades que os níveis de desenvolvimento do capitalismo e da sua crise exigem como resposta.
Há que desfazer as ilusões nas políticas assentes na ideia de que vai haver um retorno ao crescimento económico, ao crescimento do emprego, ao florescimento do Estado Social com todos os seus direitos “civilizacionais” sem que o sistema de exploração capitalista seja atacado.
O determinante é que o movimento operário e popular perceba que só a sua entrada na cena política como força independente, levantando as suas exigências de classe, poderá alterar a correlação de forças a seu favor, e travar a escalada de terror económico e político para onde o caos do sistema capitalista está a conduzir o mundo.
Comentários dos leitores
•caheitordasilva 13/10/2015, 16:50
Determinante e indispensável para levar por diante as acções conducentes à criação
de verdadeiros órgãos de Poder e de classe ...
"Era já tempo.... "