Os média e a repressão policial em Guimarães

Pedro Goulart — 22 Maio 2015

GuimaraesAs imagens amplamente divulgadas do polícia Filipe Silva a espancar José de Magalhães (e o pai) na presença dos filhos, em Guimarães, foram suficientemente elucidativas do modo como actuam alguns “agentes da ordem”. Contestado em acção, o subcomissário Filipe Silva, que comanda a esquadra de investigação criminal da PSP de Guimarães, e que tem fama de duro, não contente com o bastão que usava, e para ser mais eficaz, recorreu a um bastão extensível de aço. E foi o que se viu.
Lamentavelmente, com esta acção, o homem tão gabado por colegas e amigos, o “excelente profissional” Filipe Silva, viu adiada a entrega de um louvor que o comandante distrital da PSP de Braga tinha “em cima da mesa” para lhe entregar!

As chocantes imagens e a generalizada indignação provocada à escala nacional obrigaram a PSP, o Ministério da Administração Interna e o Ministério Público à rápida abertura de vários inquéritos. O habitual é que, passado algum tempo, tais inquéritos tenham reduzidas ou nulas consequências. A ver vamos se os resultados deste caso serão diferentes. No que respeita aos tribunais, e nos últimos anos, apenas dois ou três destes casos, envolvendo polícias, tiveram um desfecho significativo. O caso do estudante alemão espancado na esquadra das Mercês, em 2008, foi uma dessas poucas excepções, com dois agentes policiais condenados a prisão efectiva. Mas a impunidade tem sido a regra. Outra coisa não seria de esperar, pois magistrados e polícias fazem parte do mesmo aparelho repressivo de estado.

A realidade, contudo, é ainda mais profunda. Os espancamentos de Guimarães não são excepção. Fosse José de Magalhães um trabalhador explorado, um pobre ou um negro dos bairros periféricos de Lisboa ou do Porto, um activista político ou sindical “menos ordeiro” e, de certeza, que os média não lhes teriam dado tal relevo. Consciente ou inconscientemente, na comunicação social, assim como no aparelho repressivo de estado, as questões de classe têm um papel fundamental. É ver o que tem acontecido ao longo dos anos com diversas manifestações políticas e sindicais, assim como com as manifestações ou as desocupações nos bairros periféricos (v.g. em Santa Filomena ou na Cova da Moura) de Lisboa, em que vários dos participantes ou moradores foram barbaramente agredidos. E é ver a pouca relevância ou até o silenciamento que tiveram nos chamados órgãos de comunicação social.


Comentários dos leitores

António Alvão 8/6/2015, 23:18

"O Poder é maldito, por isso me tornei Anarquista" - Louise Michel.
Este sistema é oligárquico, e é vendido à plebe e não só como democracia!
(Gr. demokratía) - Significa o poder do povo estruturado no seio do próprio povo, através das federações de municípios, comunas, cooperativas, mutualismo, etc.
É aqui que o estado desaparece, como defende Marx e Lenine, depois da transição da sociedade capitalista para a socialista.
Marx apoiou o projecto político da Comuna de Paris e pediu à AIT para o assumir. Mas, os pseudomarxistas não deram ouvidos e sempre que chegaram ao poder, agarraram-no muito bem para si, sem nunca fazer a transição do capitalismo par o socialismo, com métodos liberticidas, etc, etc. - Esfrangalharam, assim, o marxismo!
Os povos não têm que estar sujeitos a governos corruptos-capitalistas ou déspotas! As sociedades só serão livres e prosperas, quando passarem a ser de cooperação e não de competição, caso contrário teremos sempre presente o caos e a desordem! A alternativa revolucionária está na rotura, por todos os meios possíveis e não na colaboração, como fazem os partidos. Há partidos de esquerda com maiorias absolutas em algumas câmaras e nem por isso existe um cheirinho a socialização junto dos bairros mais pobres. Isto ajuda-nos muito à análise!!! Abraço, Pedro.


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