O movimento operário tem de ter voz própria
José Borralho — 26 Abril 2015
Vivemos um período da existência do movimento operário que poderemos considerar de verdadeira confusão e de maré baixa, de falta de combatividade e descrença nas próprias forças. Para este estado muito tem contribuído a ofensiva do capital, acentuada com a sua crise, que o leva a retirar direitos laborais e a precarizar toda a vida dos trabalhadores lançando milhões no desemprego.
Também têm contribuído outros dois factores objectivos que se prendem com a diminuição numérica da classe operária e a ascensão de muitos elementos que aumentaram nas empresas a aristocracia operária, sobretudo jovem. E também factores subjectivos, como o economicismo que reduz a luta operária às reivindicações de carácter imediato, impedindo um real confronto de classe e a elevação da sua consciência enquanto classe com um projecto de futuro alternativo ao capitalismo.
A frustração com os diversos “socialismos”, e em particular com o regime da ex-URSS — que o PCP, o partido com maior influência operária, fez acreditar como “socialista” (e que se revelou um capitalismo de Estado em que a classe capitalista se desenvolveu e floresceu) — trouxe como consequência a perda de um objectivo estratégico mobilizador e a aceitação da democracia burguesa capitalista, mascarada de “avançada” ou “participada”.
O marxismo parece completamente ausente e eclipsado do movimento operário. Na ausência de política própria para a sua classe, o movimento operário vive perdido, arrastado pelos interesses e pela política da pequena burguesia que sonha chegar ao poder pela via eleitoral para defender os seus privilégios e provar que ela é que sabe tratar dos negócios e da economia, idealizando um mundo onde patrões e trabalhadores vivam harmoniosamente sem os excessos do capital financeiro.
O verdadeiro drama para a classe operária e para todo o proletariado, é que a profunda e irreversível crise do sistema capitalista vai-se arrastando, mergulhando as classes trabalhadoras em miséria e caos. O imperialismo avança com soluções ofensivas de guerra, em vários países. A descrença nas políticas moderadas da “esquerda” vão empurrando muitos trabalhadores para a direita e para a extrema-direita, ou para o mal menor que representam os novos movimentos do tipo Podemos ou Syriza que, embora representando uma deslocação à esquerda, não são verdadeira alternativa ao sistema de exploração, como a vida está a mostrar, ficando-se nas propostas de melhoramento da democracia e na luta contra os excessos do capitalismo.
Está na hora de a classe operária, os seus elementos mais avançados, e todo o proletariado, tomarem em mãos a tarefa de construir uma alternativa ao capitalismo, mandar às malvas as soluções e a tutela da pequena burguesia, e reavivar a esperança de que é possível acabar com a insegurança, com o parasitismo e com a barbárie do capital.
É neste sentido que o documento Enfrentar a Crise, Lutar Pelo Socialismo representa um contributo para responder aos problemas da crise actual, no sentido de constituir uma plataforma de debate e de união de comunistas e do reavivar de um projecto para elevar a consciência operária.