Prisão de antifascistas no estado espanhol

Pedro Goulart — 22 Março 2015

NoPasaranEm 27 de Fevereiro último, a polícia do estado espanhol deteve oito jovens, de origens comunistas diversas, que terão combatido no Donbass em solidariedade com a revolta popular contra o regime de Kiev. As detenções agora efectuadas, foram levadas a cabo no âmbito da operação antiterrorista Danko, dirigida pela Audiência Nacional espanhola (em muitos casos, um digno sucessor do Tribunal de Ordem Pública da Ditadura) e realizaram-se em Madrid, Barcelona, Pamplona, Cartagena, Gijón e Cáceres.

Segundo fontes da acusação, estes jovens podem ser acusados de delitos de cooperação ou cumplicidade em homicídios levados a cabo por grupos a que se juntaram durante a sua presença em território ucraniano, pela posse de armas e explosivos, assim como pela “violação da neutralidade” do Estado espanhol no conflito. Ainda, segundo as mesmas fontes, estes jovens teriam ido combater inspirados pelas Brigadas Internacionais — bem conhecidas pelo seu combate contra o fascismo durante a guerra civil espanhola.

O autoritário estado espanhol que, no campo das liberdades e das autonomias, se tem revelado um digno continuador do regime do ditador Franco, pretende criminalizar estes militantes que combateram ao lado dos antifascistas no leste da Ucrânia, enquanto esquece outros espanhóis que, do outro lado, em batalhões nazis, se têm batido por Kiev. Mais uma demonstração da falsa neutralidade do estado burguês e do seu aparelho repressivo: para eles é válido apenas o internacionalismo capitalista, enquanto é extremamente condenável o internacionalismo antifascista ou de pendor comunista.

Neste contexto, não será de admirar que a “justiça” espanhola, que nas últimas décadas já muitas vezes demostrou estar claramente ao serviço da repressão governamental, e de ser responsável por numerosas perseguições, prisões e torturas, particularmente no País Basco, na Catalunha e na Galiza, uma vez mais, venha dar razão ao governo de Madrid, mantendo presos estes combatentes internacionalistas.

Isto acontece quando os média ocidentais pretendem fazer-nos esquecer que houve um golpe de estado na Ucrânia — desenvolvido a partir dos finais de 2013 e que culminou em 2014 — golpe fortemente incentivado pelo imperialismo ocidental, particularmente a partir de Washington e Berlim. E decisivamente sustentado pela direita ucraniana, nomeadamente pelos neonazis, que viriam a criar o batalhão Azov, um dos mais ferozes defensores do regime de Kiev. Aqui, bastante significativo é o comentário de Andri Biletski, fundador e comandante deste batalhão: “A missão histórica da nossa nação neste momento crucial é liderar as raças brancas do mundo numa cruzada final pela sua sobrevivência. Uma cruzada contra os sub-humanos liderados por semitas.”

Também, para alguns “democratas” portugueses, e à semelhança do que se passa no país vizinho, os bons combatentes seriam aqueles que estão ao serviço de Kiev e do imperialismo ocidental e os maus os que estiveram ou estão no Donbass junto dos autonomistas. E, também por cá, há muito boa gente aberta às campanhas securitárias actualmente em curso no mundo ocidental, assim como ao reforço das chamadas leis antiterroristas. É de prever, a pretextos vários, o agravamento da repressão em relação a todos os militantes que combatam mais ou menos consequentemente a ordem política vigente. Temos de estar atentos. Não podemos deixar avançar novas medidas repressivas (que aparentemente se destinariam apenas aos outros) sem as denunciar e combater energicamente.


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