Contra a violência policial racista. Concentração em Lisboa, hoje, dia 12, às 17h, Assembleia da República

12 Fevereiro 2015

Num comunicado divulgado ontem, dia 11, o SOSRacismo denuncia as recentes agressões da polícia a moradores da Cova da Moura, apontando-as como actos com motivações racistas, e apela a uma concentração contra a violência policial. Publicamos na íntegra o texto do comunicado.

“A violência policial nos bairros periféricos da Área Metropolitana de Lisboa é sistémica. Muitos já o sabem, outros teimam em não admiti-lo.
Tal como acontece sempre que a polícia exerce violência física e simbólica nos bairros, a maior parte dos meios de comunicação social, através de um circo mediático metodicamente montado pela narrativa oficial das forças policiais, anuncia, grosso modo, que a polícia foi “obrigada a intervir”. E mais uma vez, como é prática corrente para não dizer quotidiana nos bairros em geral e, na da Cova Moura em especial.
Foi o que aconteceu no passado dia 05 de Fevereiro quando a PSP entrou na Cova da Moura.
Interpelou um jovem morador e agrediu-o barbaramente num puro acto de violência gratuita. Disparou ainda balas de borracha contra moradores, ferindo alguns deles.
A PSP, não contente com as agressões que injustificadamente perpetrou contra os moradores, como pudémos constatar junto das e dos intervenientes, inventou que posteriormente um grupo de pessoas havia tentado “invadir a esquadra” de Alfragide para deter e agredir selvaticamente jovens activistas sociais e dirigentes associativos que se dirigiram para a mesma, apenas para saber o que se havia passado e o motivo da detenção do cidadão que tinha sido agredido já no bairro e fora levado para a esquadra de Alfragide.
No interior dessa mesma esquadra, eles foram violentamente espancados e brutalizados, humilhados com insultos racistas, de onde saíram sob detenção para o hospital Amadora-Sintra para receber assistência médica em consequência dos ferimentos das agressões.
Voltaram, sob escolta, para a esquadra onde pernoitaram e, no dia seguinte, foram conduzidos para o tribunal de Amadora, onde permaneceram o dia todo sem serem ouvidos.
Voltariam a dormir em detenção nos calabouços do comando central da PSP de Lisboa na noite de sexta-feira para sábado, dia em que finalmente foram presentes ao juiz, tendo saído com a medida de coação de termo de identidade e residência.
A violência perpetrada pela PSP na Cova da Moura contra os seus moradores e activistas sociais é mais do que uma agressão social e politica às instituições que intervêm no bairro.É uma tentativa de condicionamento e de chantagem política contra quem se ergue contra a violência policial racista quotidiana que se vive nos bairros.
A PSP tem de forma impune, sistemática e reiteradamente aterrorizado e violentado os jovens nos bairros, contando quase sempre com o silêncio quase total da sociedade ou com reacções de condenação muito tímidas.
Ao mesmo tempo, outra das formas de Racismo de Estado, as demolições sistemáticas de casas de gente que deixa de as ter, continua. Gente que, de um momento para o outro, deixa de ter um teto e perde todos os seus bens. É esta insensibilidade, sadismo mesmo, que a Câmara da Amadora, neste preciso instante, e outras num passado bem recente, vem demonstrando em Stª Filomena e 6 de Maio.
É preciso romper com o silêncio ensurdecedor e conivente da sociedade em geral e, em particular, das instituições em torno da intimidação, das violentas agressões e dos assassinatos que têm sido perpetrados estruturalmente pelas autoridades policiais contra as comunidades negras e as minorias étnicas.
A justiça, do modo como tem actuado, tem sido um dos principais (re)produtores de imaginários racistas dominantes e do consenso social em torno da impunidade que grassa nas instituições policiais, conduzindo aos abusos, perpetuando ideologias e legitimando relações de poder que oprimem os mais fracos/as e excluídos/as da sociedade
É tempo de acabar com a impunidade dos abusos e da violência policiais bem como, com os silêncios cúmplices em torno da violência racista do estado.
É urgente romper com os silêncios por forma a que a impunidade seja não só denunciada e combatida mas para que se abra finalmente a possibilidade real de se fazer justiça contra a violência policial. A violência policial é a face visível da violência de estado de que são vítimas as pessoas que vivem nos bairros. Na verdade, a brutalidade policial espelha o apartheid que se vive nos bairros.
Não podemos permitir que isto continue! Urge a mobilização de todos e todas contra esta barbárie. Amanhã estamos na rua para dizer basta de violência policia, basta de racismo! Exigimos justiça!”


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