EUA, que democracia?
Manifestações contra o racismo, os assassinatos e a impunidade
Pedro Goulart — 18 Dezembro 2014
A democracia formal vigente nos EUA – que tantos incensam e veneram – é todos os dias manchada de sangue e vergonha pelos crimes cometidos por aquela potência imperialista dentro e fora do seu país. São exemplos do repúdio gerado por alguns destes crimes e pela impunidade dos seus responsáveis as recentes manifestações de dezenas de milhares de americanos em várias cidades dos EUA – em Washington, Nova York ou na Califórnia – contra o racismo e os assassinatos de negros levados a cabo pela polícia. Tais manifestações incluíram negros e brancos e envolveram as famílias de Garner e Akai Gurley, assassinados pela polícia de Nova York, de Trayvon Martin, morto por um vigia na Flórida, de Michael Brown, assassinado por um polícia em Ferguson, e Tamir Rice, de 12 anos, também assassinado por um polícia em Cleveland. Muitos dos manifestantes empunhavam cartazes com dizeres como “A vida dos negros importa” e “Não consigo respirar” — última frase da vítima Eric Garner.
Prisões e torturas
O império norte-americano, habituado ao desencadeamento de guerras, invasões, golpes de estado, destruição de países e assassinatos indiscriminados (Afeganistão, Iraque e Líbia, para citar alguns dos casos mais recentes), tem recorrido intensamente às polícias para conseguir os seus objectivos criminosos. Objectivos que tem perseguido, diga-se, com a forte cumplicidade de numerosos países da Europa ocidental, do Canadá, da Austrália, etc.
O recente Relatório do Senado sobre a CIA é a confirmação oficial de parte do muito que já se sabia sobre os actos de terror (e não são meros erros, como pretendem alguns) praticados por esta organização criminosa em relação aos seus presos. Simulações de afogamento, alimentação rectal e dias seguidos de privação do sono foram alguns dos métodos de interrogatório utilizados pela CIA para obter informações, após os ataques do 11 de Setembro. Guantánamo e Abu Ghraib ficam para História como dois símbolos que marcam o imperialismo norte-americano como um foco de tortura e crime dirigido contra a Humanidade.
As desigualdades económicas da sociedade norte-americana
Segundo um artigo académico da professora Terry Karl, da Universidade de Stanford, os EUA tornaram-se num dos países mais desiguais do planeta. Aí se afirma que nos Estados Unidos: os 10% mais ricos ganham quinze vezes mais que os 10% mais pobres, tendo a diferença aumentado muito nas últimas décadas; os 20% mais ricos são donos de 87% da riqueza de todos os estadunidenses; as quatrocentas famílias mais ricas detêm o mesmo que a metade mais pobre, ou seja, dois mil indivíduos têm tanto quanto o rendimento acumulado de 150 milhões de pessoas. Ainda, em termos raciais, e em média, uma família branca ganha dois terços a mais e tem uma riqueza doze vezes maior do que uma família negra.
Estes alguns dos aspectos tristes e horrorosos de uma sociedade brutal, capitalista e imperialista, que pretende dar lições ao mundo e impor-lhe a sua “democracia”.