António Costa, o desejado
Pedro Goulart — 10 Julho 2014
Nos meios de comunicação social do regime prossegue o folhetim relativo à luta feroz que se vem travando pelo controlo do poder no interior do PS, como etapa necessária à ocupação do tão desejado cargo de primeiro-ministro.
Nos três anos deste odioso governo do PSD/CDS, António José Seguro (que ainda continua a dominar o aparelho partidário) demonstrou bem a sua “eficácia” no tipo de oposição que (não) foi capaz de fazer às malfeitorias praticadas pelo actual executivo do patronato. E o oportunismo de quem, “pássaro fora da gaiola”, só agora critica o governo de Sócrates.
Perante a manifesta incapacidade de Seguro, a acrescentar à oposição que já lhe era movida internamente por diversos sectores do partido, António Costa, presidente da Câmara de Lisboa, surge como o desejado — uma hipótese de maior credibilidade, quer interna quer externamente. Isto é válido tanto para uma burguesia que gravita em torno do PS como para alguma outra gente dita de esquerda (dominada pela mesquinhez pequeno burguesa do mal menor) e que ainda continua a alimentar vãs esperanças num governo deste partido.
Por causa das habituais memórias curtas, será útil mais uma vez recordar qual tem sido a prática do PS ao longo destas décadas posteriores ao 25 de Abril de 1974: em resumo, e no fundamental, este partido (com destaque para alguns dos seus principais dirigentes, nomeadamente Mário Soares) esteve sempre ao serviço do patronato e dos imperialismos americano e europeu. E, é notório, não houve nenhuma revolução interna que alterasse o essencial deste seu rumo. Recentes declarações e actos dos candidatos do PS e/ou de alguns apoiantes seus só vêm dar mais força a quem afirma que este partido não representa qualquer alternativa ao actual governo.
Portanto, não nos iludamos com o que é de esperar de qualquer destes personagens na direcção do PS ou de mais um governo da burguesia dirigido por eles. Costa, Seguro, Assis ou qualquer outro dirigente do PS, cada um à sua maneira, apenas procurará mudar alguma coisa para que o essencial — a política de opressão e exploração capitalista — prossiga. Este partido do sistema chantageará mais uma vez o eleitorado, com vista à obtenção de uma maioria absoluta e, se não a conseguir, fará o necessário, incluídas as habituais alianças com os partidos à sua direita, para conservar o poder.
Sejam quais forem as encenações e as afirmações demagógicas dos actuais responsáveis do PS, é bom que a generalidade dos trabalhadores e do povo estejam em guarda contra as habituais manobras deste partido. E, assim, certamente, os dirigentes do PS não conseguirão convencer muita gente, salvo aqueles que estão sempre disponíveis para ser convencidos.